Título: O PRI volta de cara nova
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Fonte: Valor Econômico, 03/07/2012, Opinião, p. 6

Opresidente eleito do México, Enrique Peña Nieto, a ser empossado em dezembro, agradeceu aos eleitores pela nova chance dada ao PRI e prometeu não desperdiçá-la. O velho partido ficou mais de sete décadas no poder no país e se tornou símbolo de corrupção e fraude eleitoral. "Somos uma nova geração, não haverá retorno ao passado", disse Peña Nieto, de 45 anos, procurando afastar temores em relação ao estilo autocrático dos membros da velha guarda do PRI, conhecidos como "dinossauros", que chegaram a ter ligações com os cartéis de drogas. O partido estava na oposição desde a derrota para Vicente Fox, do PAN, em 2000.

O grande desafio do presidente eleito é pôr em prática um plano mais eficiente para reduzir a violência e a criminalidade associadas aos poderosos cartéis. O atual presidente, Felipe Calderón, do PAN, enfrentou uma situação tão grave que decidiu militarizar o combate aos traficantes, mobilizando o Exército mexicano. Seis anos e cerca de 60 mil mortos depois, está claro que a estratégia não funcionou. Os assassinatos e sequestros continuam, com crueldade escabrosa, e houve infiltração do crime organizado nas forças de segurança.

A primeira medida anunciada por Peña Nieto nessa área, a criação de uma nova força de 40 mil homens com foco na proteção da população, é um enigma, mas ele está com crédito. Sem dúvida a repressão às gangues criminosas de traficantes é inteiramente necessária, mas insuficiente. O presidente precisa manter uma sintonia fina com os Estados Unidos - o maior mercado consumidor do mundo, ali ao lado -, para que se reduza a demanda americana por drogas e se restrinja drasticamente o acesso dos cartéis a armas vendidas livremente nos EUA.

Uma das consequências nefastas da criminalidade na vida mexicana é o avanço da corrupção, já que os chefões dispõem de poder econômico para comprar tudo e todos, ou quase. O novo governo precisará também aumentar a eficiência do Poder Judiciário: estima-se que 97% dos crimes ligados a drogas fiquem impunes.

A economia é outro foco de preocupação para Peña Nieto. Quase metade da população vive na pobreza e, embora o desemprego seja baixo (4,5%), há um enorme fosso entre ricos e pobres. Entre suas promessas está a realização de reformas trabalhistas, para aumentar a competitividade da mão de obra, e fiscal, para elevar a arrecadação tributária, uma das mais baixas das Américas em termos relativos. Questão complicada é a da possível privatização parcial da petroleira Pemex, necessitada de enormes investimentos para aumentar a produção. A operação renderia dezenas de bilhões de dólares aos cofres federais, mas só poderia ser feita com alteração na Constituição, de difícil aprovação no Congresso. Onde, segundo resultados não definitivos, o PRI não obterá maioria.

Aparentemente, disposição é o que não falta ao novo presidente para enfrentar o que vem pela frente. Na sua opinião, o povo mexicano quer resultados rápidos no combate à violência. Indagado sobre quando apresentaria os primeiros resultados, respondeu: "Desde o início." Não será fácil.