Título: Selic menor ainda não reduz encargos com juros da dívida
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Fonte: Valor Econômico, 28/09/2006, Brasil, p. A3

Após um ano de afrouxamento na política monetária, os encargos com juros da dívida pública seguem em trajetória de alta. A despesa acumulada em 12 meses subiu de 7,95% para 8,01% do Produto Interno bruto (PIB) entre julho e agosto, no terceiro mês seguido de expansão.

As estatísticas divulgadas ontem pelo Banco Central não significam, porém, que os cortes de juros não terão efeitos positivos sobre a dívida. Mas eles demorarão um pouco a aparecer pela mudança na composição da dívida pública, com a expansão da dívida mobiliária e a redução da representatividade dos títulos pós-fixados no débito. "Chegará o momento em que os cortes de juros vão se refletir nos encargos da dívida", disse o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.

Mesmo sem mudança na composição da dívida, estatisticamente levaria um tempo para o relaxamento monetário chegar aos gastos com juros acumulados em 12 meses, pois um corte agora só atinge efeito pleno em 12 meses.

Os juros acumulados em 12 meses continuaram a subir até dezembro de 2005 - pico de 19,05% ao ano, embora o BC tenha iniciado o corte na Selic em setembro de 2005. De lá para cá, caiu e ficou em 16,92% em agosto. Por isso, o percentual médio continua acima da Selic atual de 14,25%.

Outro problema é o aumento da dívida mobiliária, mais onerosa. A dívida líquida caiu de 52% para 50,3% do PIB entre agosto de 2005 e de 2006, mas a mobiliária subiu de 49,1% para 50,5% do PIB.

Além disso, a dívida pós-fixada - a que absorve mais rapidamente os impactos da queda da Selic - está perdendo importância na composição da dívida. Entre agosto de 2005 e de 2006, a participação dos títulos vinculados à Selic passou de 52,5% para 46,3%. Com isso, a sensibilidade da dívida à variação da Selic diminuiu. Em agosto de 2006, uma baixa de 1 ponto percentual na Selic, mantida por 12 meses, teria impacto de 0,28 ponto na dívida líquida; um ano antes, era de 0,32 ponto.

No período, a participação dos títulos prefixados subiu de 22,6% para 32%. De certa forma, na emissão desses títulos o Tesouro antecipa a queda de juros esperada para o futuro. Mas há dois problemas: eles pagam um prêmio por isso em relação à Selic e, se a taxa cai mais do que o esperado - como ocorreu -, o Tesouro só pode ter algum ganho na renovação do título. O prazo médio dos papéis prefixados é de 9,77 meses. (AR)