Título: Amorim prevê votação do SGP até o fim do ano
Autor: Landim, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 28/09/2006, Brasil, p. A4

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse ontem ser "pouco provável" que o Congresso dos Estados Unidos deixe de votar a prorrogação do Sistema Geral de Preferências (SGP), que vence no fim do ano. "Acho pouco provável, porque afetaria todos os países beneficiados pelo sistema", disse. Ele se referiu, por exemplo, aos países africanos, que dependem do sistema para exportar aos EUA.

Amorim participou ontem de um almoço na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Os empresários estão preocupados com as ameaças americanas de retirar o Brasil do SGP, que permite que US$ 3,6 bilhões em exportações brasileiras cruzem as fronteiras americanas sem pagar tarifa de importação.

Na terça-feira, um projeto de lei apresentado pelo deputado republicano Bill Thomas, que estende o prazo de validade do programa por mais dois anos, voltou para o final da fila do Congresso dos EUA, o que torna praticamente impossível a votação neste ano. O projeto contrariou os interesses da indústria têxtil americana, que acionou seu lobby para barrá-lo.

O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, afirmou que já entrou em contato com os representantes da indústria têxtil nos EUA para convencê-los a retirar o veto à proposta. Skaf mantêm a esperança que a renovação do SGP seja apreciada na Câmara e no Senado logo após as eleições legislativas de novembro. "O projeto tem que ser aprovado até o final do ano. Caso contrário, seria um prejuízo muito grande para a indústria brasileira."

Amorim disse que não vê motivos para os Estados Unidos excluírem o Brasil do SGP. Ele argumenta que isso não significaria um benefício para a indústria dos EUA, já que boa parte dos produtos beneficiados pela isenção de tarifas é transacionada por filiais de empresas americanas instaladas no Brasil.

Também ressaltou que não significa um maior benefício para os países pobres, que não exportam alguns produtos. "Se nos demonstrarem que isso pode beneficiar algum país de menor desenvolvimento relativo, estudaríamos. O Brasil não quer tirar o mercado do Gabão ou da Zâmbia", disse Amorim. "Os argumentos racionais estão do nosso lado. Serão levados em conta".

Além de conversar sobre o assunto com a representante comercial americana, Susan Schwab, Amorim disse que apresentou seus argumentos para a secretária de Estado, Condoleezza Rice. O encontro ocorreu na assembléia da ONU, em Nova York.

Amorim tratou de vários temas com os empresários na Fiesp. Entre eles, as negociações da Rodada Doha e o pedido do Uruguai de negociar um acordo com os EUA. Amorim disse que o presidente do Uruguai, Tabaré Vasquez, enviou uma carta ao presidente Lula no qual menciona acordos bilaterais, mas não fala em um acordo de livre comércio. Ele frisou que espera que Uruguai não "machuque o coração" do Mercosul, que é a Tarifa Externa Comum (TEC). Amorim confirmou que as negociações entre Mercosul e União Européia foram adiadas para novembro.