Título: Europa teme criar geração perdida de desempregados
Autor: Wiseman , Paul
Fonte: Valor Econômico, 10/07/2012, Internacional, p. A12

Irene Fernández perdeu seu emprego nos correios da Espanha há cinco meses, vítima dos cortes de gastos do governo. Desde então, ela vem sobrevivendo com dinheiro emprestado da mãe e dos € 530 que consegue por mês cuidando dos cachorros dos vizinhos. Fernández, 24, fez até agora apenas uma entrevista de emprego.

"Nunca tive um ano tão difícil", diz ela. "Começo a perceber que as coisas serão muito mais difíceis para mim do que foram para a geração de minha mãe."

A crise econômica na Europa está atingindo mais duramente jovens como Irene Fernández. A taxa de desemprego entre os jovens está perto de 53% na Grécia, 51,5% na Espanha e 35% na Itália. Nos 17 países que usam o euro, o desemprego entre os jovens está no patamar recorde de 22%, duas vezes a taxa geral de desemprego da zona do euro, de 11%, que por sua vez já é a maior desde a criação da moeda comum em 1999.

A admirável exceção é a Alemanha, onde a taxa de desemprego entre os jovens está em apenas 7,9%, graças a um sistema de ensino vocacional. Nos EUA, a taxa de desemprego entre os jovens - aqueles com idades entre 16 e 24 anos - ficou em 16,5% no mês passado. As estatísticas econômicas europeias contam aqueles entre os 15 e os 24 anos como jovens.

Os economistas temem que anos de desemprego poderão produzir uma versão europeia da "Geração Perdida" do Japão - os adultos jovens que procuraram emprego em vão na década de 1990 e hoje estão permanentemente incapacitados de seguir boas carreiras. Quanto mais tempo os adultos jovens ficam desempregados, por mais tempo eles não contribuem para o crescimento econômico, consomem ajuda do governo e aumentam o risco de instabilidade social.

Os trabalhadores jovens frequentemente são os últimos a serem contratados, de modo que são os primeiros a serem demitidos. E eles têm dificuldades para conseguir ocupações - tabeliões na Itália e motoristas de táxi na Grécia, por exemplo - onde trabalhadores mais velhos e estabelecidos são protegidos da competição por leis e regulamentações.

Mas os problemas econômicos da Europa - que começaram com a crise financeira em 2008 e continuam, com os governos lutando contra endividamentos excessivos - pioraram muito as coisas. Os países estão adotando programas de austeridade e reduzindo os números de servidores públicos. Companhias vêm anunciando demissões ou congelando contratações para enfrentar a queda da demanda.

O colapso dos mercados imobiliários também eliminou empregos no setor da construção, muitos dos quais eram mantidos por trabalhadores jovens. E os trabalhadores mais velhos, cujas finanças foram arruinadas pela recessão e a crise financeira, estão se aposentando mais tarde.

Como resultado, ondas sucessivas de jovens vêm se formando no ensino médio e superior com poucas chances de conseguir emprego, elevando ainda mais a taxa de desemprego entre os jovens a cada ano.

As perspectivas são de pouca melhoria. Mais de metade dos países da zona do euro estão em recessão e a economia do bloco como um todo deverá encolher 0,3% este ano, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Os líderes dos 27 países da União Europeia concordaram no mês passado com um plano audacioso para injetar dinheiro nos problemáticos bancos europeus e ajudar governos a resolver os problemas com suas dívidas e com os altos custos dos empréstimos. Mas o plano deverá proporcionar pouco alívio imediato para os jovens da Europa. O que eles precisam é de crescimento econômico que produza empregos. "Essa é a verdadeira urgência", afirma John Springford, pesquisador do Centro para a Reforma da Europa.

A falta de esperança é especialmente alta nos países da Europa que estão mais encrencados - Espanha, Itália e Grécia, entre outros - e está afetando até mesmo os mais instruídos.

Os jovens europeus, incapazes de conseguir empregos, também vêm buscando asilo nos campi universitários. Esse é um dos motivos de o percentual de jovens europeus que fazem parte da força de trabalho - que têm um cargo ou estão em busca de uma vaga - ter caído de 52,9% em 2000 para 48,7% no ano passado.

Os pesquisadores britânicos Paul Gregg e Emma Tominey constataram em um estudo de 2005 que os homens britânicos que ficaram desempregados por pelo menos um ano entre os 16 e os 23 anos ainda sofriam com uma "perda salarial" aos 42 anos: eles ganhavam na época de 13% a 21% menos do que estariam ganhando se não tivessem ficado desempregados.