Título: Ipespe avalia 1º turno com margem mais estreita
Autor: Felício, César
Fonte: Valor Econômico, 28/09/2006, Política, p. A11

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recuou de 46% para 43% de intenções de voto em uma semana, segundo a pesquisa telefônica Ipespe/Valor realizada ontem, com mil entrevistas e margem de erro de 3,2 pontos percentuais. Geraldo Alckmin (PSDB) subiu de 31% para 33%. Heloísa Helena (P-SOL) oscilou de 8% para 7% e Cristovam Buarque (PDT) foi de 1% para 2%.

A pesquisa mostra ainda que Lula perde intenção de voto na pesquisa espontânea. O presidente caiu de 41% para 39%, enquanto seu principal adversário cresceu de 24% para 27%. Segundo o presidente do Conselho Científico do Instituto, Antonio Lavareda, este resultado significa que Lula está com 50% dos votos válidos, tornando o segundo turno uma possibilidade concreta.

"Embora a soma de intenções de voto dos demais candidatos fique um ponto percentual aquém do obtido por Lula, é preciso considerar que os candidatos que não alcançaram 1% na pesquisa isoladamente (Rui Costa Pimenta, do PCO, Ana Maria Rangel, do PRP, José Maria Eymael, do PSDC e Luciano Bivar, do PSL), deverão fazê-lo, em conjunto", afirma Lavareda.

A pesquisa do Ipespe é feita entre eleitores que possuem telefone na residência ou no local de trabalho. Segundo o presidente do Conselho Científico do Instituto, Antonio Lavareda, este universo de análise exclui um segmento do eleitorado brasileiro: a pobreza rural. Lavareda estima em 10% do total de eleitores o percentual de pobres que vivem no campo, majoritariamente eleitores de Lula.

Por outro lado, este segmento é o que tradicionalmente apresenta maior grau de alienação eleitoral (ausências, votos brancos e nulos). "Nenhum instituto de opinião faz a ponderação em suas pesquisas da alienação eleitoral, que gira em torno de 20% a 25% dos votos. Por isso todas as sondagens apresentam um grau de diferença em relação ao resultado real. Na pesquisa do Ipespe, o peso deste fator é menor, em função do universo pesquisado", diz o sociólogo.

A pesquisa mostra que avaliação da situação econômica do País no governo Lula, em comparação com a do governo de seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, não se alterou. O índice dos que a consideram melhor oscilou de 57% para 58% e dos que acham pior subiu de 17% para 19%, o que, para Lavareda indica o descolamento da avaliação da economia, em relação ao agravamento da crise política. "Há uma avaliação negativa consistente em relação ao governo passado, com um piso que pouco se altera", diz Lavareda.

De acordo com a sondagem, o percentual de eleitores que percebem um noticiário desfavorável ao presidente passou de 29% para 40% em apenas uma semana. Dos pesquisados, 68% tomou conhecimento da denúncia de que pessoas do PT tentaram comprar um dossiê para prejudicar tucanos. A maneira como Lula tratou do tema no horário eleitoral gratuito na televisão não agradou: caiu de 28% para 25% os que apontam seu programa eleitoral como o melhor, ante 31% que dizem o mesmo do programa de Alckmin.

O processo de cristalização do voto amorteceu o impacto no eleitorado. Nada menos que 86% dos eleitores de Lula dizem que a opção é definitiva, ante 80% na semana passada. Dos que anunciam disposição de votar em Lula e tomaram conhecimento das denúncias, apenas 10% afirmam que a tendência em votar no petista diminuiu.

"A cristalização é natural na reta final de campanha. O percentual dos que admitem mudar parece pouco, mas, como a base de Lula é muito alta, estamos falando de cerca de 5 milhões de pessoas", pondera Lavareda. No caso de Alckmin, a cristalização passou de 78% para 79%. "É natural que um candidato em viés de alta tenha uma cristalização relativa menor do que um candidato que está estável", afirma.

Sem levar em conta a intenção de voto, a pesquisa mostra que o episódio tem impacto entre eleitores de todas as faixas de renda. Entre os que ganham até dois salários mínimos, 40% afirmam que diminui a disposição de votar em Lula, ante 48% que afirmam que a disposição não se altera. Entre os que recebem mais de cinco mínimos, 51% dizem que a intenção de apoiar Lula diminui e 39%, que não se altera.

A pesquisa mostra que o eleitorado brasileiro está longe de relativizar a importância de denúncias de corrupção. Segundo o levantamento, há quase um empate quando o entrevistado é convidado a escolher entre três motivos para se votar em um candidato a presidente: programas sociais de ajuda aos mais pobres mobilizam 40% dos pesquisados e o combate à corrupção no País é citado por 39%. "Fazer a economia avançar" é uma razão escolhida por apenas 13% dos entrevistados.

Na faixa de eleitores que ganham até dois salários mínimos, as políticas sociais batem a bandeira ética por 48% a 36%. Entre os que ganham mais de cinco mínimos, o resultado se inverte: 43% diz que o combate à corrupção é mais importante e 22% defendem as políticas sociais. "Mesmo considerando as diferenças, o uso de uma 'régua ética' na classe mais pobre é alto o suficiente para afirmar que foram exageradas e apressadas as análises de tolerância maior com a corrupção entre os mais pobres", diz Lavareda.

Entre os eleitores de Lula, a preocupação com a questão social ganha da bandeira ética por 53% a 33%. Entre os adeptos de Alckmin, prevalece o oposto: 42% querem como prioridade a diminuição da corrupção no País e 30% optam pela ampliação de políticas sociais. O eleitor mais suscetível a uma cruzada moralizadora é o de Heloísa Helena (P-SOL): 58% de seus simpatizantes elegem a bandeira ética como prioritária.

Faltando apenas quatro dias para a eleição, o debate eleitoral na Rede Globo de Televisão pode ser o último fato com potencial de modificar o cenário. "A presença ou não de Lula no debate será decisiva para aferir se teremos ou não segundo turno", afirma o sociólogo. Lavareda estima que Lula perderá de três a quatro pontos percentuais caso não compareça no debate. O cálculo do sociólogo toma como base as perdas registradas em outras eleições onde o líder das pesquisas não foi a embates televisivos.