Título: Lula planeja encontro com ex-presidentes
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 28/09/2006, Política, p. A12

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer chamar, depois das eleições, os ex-presidentes da República - Fernando Henrique, Itamar Franco e José Sarney - para debater a reforma política. Lula tem dito aos seus ministros mais próximos que os três são importantes para que o debate sobre o tema ganhe uma dimensão mais elevada, sem as preocupações com as disputas cotidianas. Se a eleição decidir-se no primeiro turno, Lula pretende fazer o convite ainda em outubro.

Segundo um ministro político do Planalto, os três ex-presidentes foram fundamentais na história política recente do Brasil. Sarney - que já integra o comitê de reeleição de Lula - foi peça-chave no processo de redemocratização do país. Itamar Franco assumiu o governo em um momento conturbado do cenário nacional - o Brasil acabava de sofrer o trauma de um processo de impeachment do então presidente Fernando Collor. Apesar disso, conseguiu manter o país em ordem. Foi sucedido por Fernando Henrique, que consolidou o processo democrático brasileiro.

Dos três nomes definidos por Lula para um diálogo, o único que mantém firme as pontes de contato político com o governo é Sarney, do PMDB governista. Itamar chegou a alinhar-se com Lula no início do mandato do petista, mas rompeu depois que o presidente optou por apoiar Newton Cardoso na corrida ao Senado por Minas.

A situação mais complicada, contudo, é a relação com Fernando Henrique Cardoso. O acirramento da disputa eleitoral tem feito petistas e tucanos se atacarem mutuamente e FHC, em convenção recente, chegou a chamar Lula de demônio. Lula, em conversas anteriores, queixou-se que Fernando Henrique não sabe comportar-se como ex-presidente.

O Planalto sabe das dificuldades. Mas acredita que a alta temperatura política, em virtude da disputa eleitoral, seja a principal razão para a troca de acusações. "Neste momento, qualquer diálogo é complexo, quase impossível. Ninguém vai abrir mão de suas posições e projetos de poder político-partidário", acredita o ministro da coordenação política, Tarso Genro.

Para impedir que essas relações continuem tumultuadas após a disputa de outubro, o Planalto vem mantendo conversas permanentes com líderes da oposição, como o candidato ao governo de São Paulo, José Serra, ao governo de Minas, Aécio Neves e com pefelistas como o atual comandante do Palácio Bandeirantes, Cláudio Lembo e o senador Marco Maciel.

Além dos ex-presidentes, Lula deve convocar também os presidentes dos partidos para discutir a reforma política e eleitoral, focalizando os temas do financiamento, fidelidade partidária e voto em lista. Numa segunda etapa, o governo promoveria o debate sobre o fim da reeleição e mandato presidencial de cinco anos, além de coincidência da data das eleições.