Título: PSD retribui ajuda e apoia candidatos de governadores
Autor: Klein , Cristian
Fonte: Valor Econômico, 16/07/2012, Política, p. A7

Numa estratégia de "pagar a fatura" pela acolhida que recebeu nos Estados, durante o período de criação, o PSD apoiará, nas 26 capitais, 16 candidaturas patrocinadas por governadores. Nas outras dez cidades - onde não teve a ajuda esperada ou foi entregue a grupos de oposição - o PSD se sentiu solto e disputará contra representantes ligados à máquina estadual.

Legenda construída essencialmente sob a influência dos governadores, o PSD só não retribuirá o tucano Antonio Anastasia (MG) e seu padrinho político, o senador Aécio Neves. O rompimento, feito a fórceps pelo presidente da sigla, o prefeito de São Paulo Gilberto Kassab, resultou na intervenção no PSD de Belo Horizonte e na retirada do apoio à reeleição do prefeito Marcio Lacerda em favor do petista Patrus Ananias.

O episódio na capital mineira destoa de todo o tabuleiro das eleições nas capitais, onde o PSD fez questão de ser um bom pagador. À exceção de Minas, o PSD aderiu a candidaturas apoiadas por governadores aliados tucanos em São Paulo (José Serra, do PSDB), Curitiba (Luciano Ducci, do PSB), Belém (Zenaldo Coutinho, do PSDB), Goiânia (Jovair Arantes, do PTB), e Tocantins (Marcelo Lelis, do PV).

Nos outros dois Estados administrados por tucanos, Alagoas e Roraima, o PSD se formou à margem do poder e integra coligações que representam a oposição ao governo estadual. Em São Paulo, a situação é ambígua. Kassab não teve a vida facilitada pelo governador e desafeto Geraldo Alckmin, mas como Serra, seu grande aliado, candidatou-se, ambos estão do mesmo lado.

Surgido sob o lema de que "não é de esquerda, nem de direita, nem de centro", o PSD parece ter equilibrado o apoio entre os grandes adversários nacionais PT e PSDB. O partido de Kassab apoia quatro candidatos petistas (Nelson Pellegrino, em Salvador; Iriny Lopes, em Vitória; Washington Luiz, em São Luís; e Patrus Ananias, em BH), mesmo número que o do PSDB; e está na coligação da qual fazem parte petistas em oito capitais, número igual às vezes em que está do lado de tucanos.

Nestas adesões ao PT, apenas em Salvador o apoio é em retribuição a um governador petista, Jaques Wagner, cujo vice, Otto Alencar, é o presidente estadual do PSD. Nas outras quatro unidades da Federação administradas pelo PT, a situação é diversa: no Distrito Federal, não há eleição municipal; em Sergipe, o governador Marcelo Déda, que controla o PSD no Estado, não tinha candidato forte no PT e apoia Valadares Filho (PSB) em Aracaju; o Acre é um dos raros lugares onde o PSD entrou pelas mãos de um opositor ao governo e o senador Sérgio Petecão levou o partido a apoiar o PMDB em Rio Branco; e no Rio Grande do Sul, o governador Tarso Genro deu de ombros para a legenda de Kassab.

Tido como Estado muito politizado e com partidos ideologicamente bem definidos, o Rio Grande do Sul foi onde o PSD teve uma das maiores dificuldades para recrutar quadros de outras legendas. Por outro lado, ficou livre em Porto Alegre e, depois de flertar com as três principais candidaturas, decidiu apoiar a deputada federal Manuela D"Ávila (PCdoB).

"O PT não nos ajudou muito e não tinha um nome forte. O [prefeito José] Fortunati (PDT) já contava com um monte de gente. Preferimos apoiar um nome em ascensão e agora nos tornamos protagonistas, principalmente depois que a candidatura da Manuela ganhou fôlego com o aumento do nosso tempo de TV", afirma Saulo Queiroz, secretário-geral nacional do PSD.

O apoio aos petistas só não é maior por causa da ruptura entre o PT e o PSB, partido com o qual o PSD tem uma aliança. No balanço das cidades onde houve racha, a legenda de Kassab tendeu mais para o PSB. No Recife, a sigla acompanha a candidatura do ex-secretário estadual Geraldo Julio, bancada pelo presidente nacional do PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Em Fortaleza, está com o candidato do governador Cid Gomes, Roberto Claudio. A contrapartida ao PT veio com o apoio a Patrus Ananias em Belo Horizonte.

Não fossem estas mudanças na reta final, o placar de adesões do PSD seria inverso e favorável, por cinco a quatro, para o PT.

Além de Fortaleza e Recife, as outras três cidades onde o PSB é apoiado são João Pessoa, Curitiba e Aracaju, capitais de Estados nos quais os governadores ajudaram na formação do PSD. "A decisão das candidaturas foi tomada pelos patronos do partido nos Estados", confirma Queiroz.

O dirigente lembra, por exemplo, o caso do Maranhão e do Amapá, onde o PSD está sob o comando da família Sarney, do PMDB. Em São Luís, de olho na retribuição do PT na eleição de 2014, a governadora Roseana Sarney apoia o seu vice, Washington Luiz, e o PSD segue atrás. Em Macapá, o candidato do grupo do senador José Sarney - que faz oposição ao governador Camilo Capiberibe (PSB) - é do PDT, e o PSD também vai na cola.

O peso de Sarney é responsável por um raro confronto entre as legendas dos aliados Kassab e Eduardo Campos. Além de o PSB ser a sigla com mais candidatos apoiados pelo PSD (cinco), os dois partidos estão juntos em mais da metade das coligações nas capitais: 14 das 26 - o que demonstra a parceria nacional entre o prefeito de São Paulo e o governador de Pernambuco, ambos com planos de projeção para além de seus Estados.

"É uma parceria boa para os dois partidos. O PSB é forte no Nordeste e temos mais capilaridade do que eles no Sul-Sudeste. É uma soma muito interessante, inclusive na Câmara, onde uma atuação conjunta poderá contar com 85 deputados", afirma Saulo Queiroz, referindo-se à formação do bloco que pode superar o PMDB como segunda maior bancada em Brasília.

Outra cidade onde os partidos não caminham juntos é em Cuiabá. Ali, o empresário Mauro Mendes (PSB) é favorito, mas o PSD resolveu lançar candidatura própria. O Mato Grosso é um dos Estados onde o PSD nasceu com mais força, assim como Santa Catarina, onde tem o governador. Em Florianópolis, está a segunda candidatura pessedista, à qual o PSB está a serviço.

O pendor governista do PSD fez com que o partido mudasse de rota até onde nasceu para ser oposição. No Mato Grosso do Sul, a legenda foi entregue ao senador petista Delcídio Amaral, que indicou seu ex-suplente e dono do maior grupo de comunicação do Estado, Antônio Rodrigues, para presidi-la. Ambos planejavam apoiar o radialista e deputado estadual Alcides Bernal (PP), para ganhar um aliado em 2014, quando Delcídio pretende disputar o governo. Rodrigues, no entanto, decidiu na última hora aderir ao grupo do governador Puccinelli e à ampla coalizão formada em torno da candidatura de Edson Giroto. Irritado, Delcídio teria pedido até para Kassab intervir no diretório.