Título: Crise global afeta os planos de expansão da Braskem no país
Autor: Scaramuzzo , Mônica
Fonte: Valor Econômico, 16/07/2012, Empresas, p. B7

A má fase do setor petroquímico global, como reflexo da desaceleração econômica mundial, sobretudo dos mercados da zona do euro e asiático, já afeta os planos de expansão da companhia brasileira Braskem. Três projetos "greenfield" (construção) deverão ser postergados para os próximos meses, na expectativa de que o cenário internacional para essa indústria melhore a partir de 2013.

Os planos de expansão da petroquímica para o mercado interno contemplavam dois projetos de resinas "verdes" - a construção da primeira fábrica de polipropileno (PP) à base de etanol e uma unidade de polietileno (PE) com a mesma matéria-prima renovável. Além desses duas novas fábricas "verdes", a companhia estudava construir uma unidade de PP convencional (à base de nafta) na Bahia, no complexo industrial de Camaçari. Somados, esses três projetos são da ordem de R$ 1 bilhão.

A prioridade da companhia, controlada pelo grupo Odebrecht, para este ano será concentrada no aumento da capacidade das unidades em operação e na modernização de seu parque petroquímico atual, afirmou ao Valor Carlos Fadigas, presidente da Braskem. Esses investimentos estão incluídos no orçamento divulgado pela companhia de R$ 1,8 bilhão para 2012, que também incluem a conclusão da nova fábrica de butadieno, que entrou em operação no Rio Grande do Sul, e da nova unidade de PVC em Alagoas.

Segundo Fadigas, o projeto de PP "verde" é o que está mais maduro. Os outros dois, que poderiam ser discutidos em reunião do conselho da companhia este ano, devem esperar um pouco mais.

A Braskem é pioneira na produção de resinas termoplásticas à base de etanol. A companhia inaugurou, no fim de 2010, uma fábrica de polietileno (PE) "verde" na cidade de Triunfo (RS). A segunda fábrica da companhia com essa mesma matéria-prima deverá ser construída ao lado de uma usina de etanol.

Com 35 fábricas e quatro centrais petroquímicas, a Braskem tem sentido o impacto da crise global em suas ações. Nos últimos 12 meses, os papéis da petroquímica acumulam queda de 40%. Na sexta-feira, as ações da companhia encerraram o dia a R$ 12,02, leve alta de 0,84%.

Analistas ouvidos pelo Valor afirmam que as ações de companhias do setores de óleo e gás e petroquímico passam por uma maré baixa, em razão do cenário macroeconômico adverso. No caso da Braskem, além desses fundamentos baixistas, o fato de a companhia ter como base a nafta - menos competitiva que o gás natural - para boa parte de sua produção de resinas no Brasil pesa sobre seus papéis.

O grande projeto da Braskem para reduzir esse gargalo será a sua participação no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), que será tocado em parceria com a Petrobras. O Comperj, a maior central petroquímica em construção no país, está sendo desenhado para que a proporção nafta/gás fique em 30% e 70%, respectivamente. O complexo, orçado em US$ 13 bilhões, segundo fontes do setor, terá duas refinarias, que serão controladas pela estatal, e um polo petroquímico, do qual a Braskem será majoritária, com investimentos de US$ 4 bilhões, segundo apurou o Valor. Pela configuração atual, o projeto petroquímico terá uma unidade de produtos básicos (eteno, propeno, benzeno e outros) e de segunda geração, especialmente as resinas que fazem parte do portfólio da Braskem.

Em 2010, a companhia brasileira avançou em seu plano de internacionalização, ao comprar duas fábrica de polipropileno nos Estados Unidos, que pertenciam à Sunoco. No ano passado, a Braskem adquiriu três unidades da Dow Chemical, tornando-se a maior produtora de PP em território americano. No México, a petroquímica nacional está investindo cerca de US$ 3 bilhões em parceria com a mexicana Idesa na construção de um complexo petroquímico, que prevê três fábricas, com capacidade para 1 milhão de toneladas de etileno e polietileno.

Nos Estados Unidos, uma parte das petroquímicas fechou suas portas e tradicionais empresas, como a Dow, se desfizeram de parte de seus ativos, como forma de dirimir o impacto da crise financeira global, que foi desencadeada no segundo semestre de 2008.