Título: China já olha para o setor de serviços, diz confederação
Autor: Pedroso , Rodrigo
Fonte: Valor Econômico, 11/07/2012, Brasil, p. A4

Uma das políticas da China para continuar com crescimento elevado e mudar o perfil da economia à medida que ela se aproxima dos níveis dos países desenvolvidos é aumentar a participação do setor de serviços no Produto Interno Bruto (PIB) dos atuais 45% para até 60% nos próximos cinco anos. O planejamento foi revelado em junho pelo primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, na abertura da 1º Feira Internacional de Comércio e Serviços de Pequim. Presente quando o premiê chinês discursou, Luigi Nese, presidente da Confederação Nacional de Serviços (CNS), não duvidou do que ouviu.

A mesma entrada agressiva de produtos industriais chineses no mercado brasileiro verificada nos últimos anos deve acontecer no setor de serviços até o fim da década, na perspectiva da confederação, já que uma das condições para a expansão chinesa é o investimento maior em exportação. Em 2009, último ano com dados disponíveis para consulta por país, o montante da troca brasileira de serviços com a China foi quase inexpressivo em relação ao comércio: US$ 463 milhões. Naquele ano, segundo o Banco Central, o Brasil importou do mundo quase US$ 47 bilhões em serviços. Em 2011, a cifra subiu para US$ 76 bilhões.

Esse cenário futuro faz com que os empresários do setor tenham duas opções daqui para frente, na visão da confederação: aproveitar as oportunidades que estão sendo oferecidas para também entrar no mercado asiático e assim ampliar os negócios, ou perder espaço no mercado doméstico em função das dificuldades em competir com o que vem da China.

A presença dos serviços chineses no Brasil de forma mais ostensiva é restrita ao setor bancário, mas vem crescendo. Atualmente, o único banco que opera no país é o Bank of China. Em negociações com o governo desde o ano passado, o Industrial and Commercial Bank of China (ICBC) espera poder atuar até o fim do ano em território brasileiro, assim como o China Construction Bank.

Organizados e ágeis nos negócios, na visão de Nese, os empresários chineses lotaram a palestra feita por ele na feira buscando informações sobre como entrar no Brasil. Por outro lado, os brasileiros ligados ao setor de serviços não se entusiasmaram quando a confederação chamou parte deles para a viagem ao país asiático. "Queríamos ir com uma delegação de 30 pessoas, mas fomos em seis. O brasileiro ainda precisa aprender a fazer negócios na China."

Com o apoio de órgãos governamentais, a confederação prospectou áreas em que o Brasil tem serviços competitivos, como automação bancária, engenharia e arquitetura e desenvolvimento de sistemas. Até o momento foram assinados três acordos de intenções com instituições chinesas para a troca de experiências, um primeiro passo para o início de relações comerciais. "Para entrar lá você precisa chegar com referência. Aquele que for sozinho vai perder tempo e dinheiro, pois eles só negociam quando confiam", diz Nesse. Ele acredita que as parcerias são uma oportunidade para os brasileiros participarem daquele mercado.