Título: Votorantim e Camargo Corrêa ganham mais força na Usiminas
Autor: Ribeiro, Ivo e Durão, Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 27/09/2006, Empresas & Tecnologia, p. B1

De sócios discretos da Usiminas, os grupos Votorantim e Camargo Corrêa tornaram-se acionistas com forte atuação no processo de reorganização societária da siderúrgica, o qual começou há mais de um ano e ainda deve levar pelo menos outros três meses. Nas negociações do arranjo, Votorantim e Camargo, juntas, compraram a parte do Bradesco (2,6%) e acertaram adquirir mais 3% de ações do bloco da Vale do Rio Doce.

Segundo uma fonte relatou ao Valor, o desenho da mudança no bloco de controle já está pronto e conta com a concordância dos principais acionistas, incluindo o grupo japonês Nippon Usiminas, que tem 19,4% do capital votante da empresa e é seu maior acionista individual. A maior resistência encontra-se ainda na Caixa dos Empregados da siderúrgica, que reluta em vender parte de sua participação de 13,2%. No novo cenário, a Caixa perderia alguns direitos de preferência e poder na gestão.

A mudança no bloco de controle da Usiminas visou abrir espaço para a entrada da Vale. O objetivo da mineradora, dona de 23% de participação, que está fora do bloco controlador, é contribuir em um plano de expansão da siderúrgica, no Brasil e internacionalmente, conforme informou em várias ocasiões. Por exemplo: construção de nova usina, que consumiria mais minério de ferro da Vale.

A entrada da Vale, com 10%, já foi aprovada pelo seu conselho de administração. A idéia da companhia é ficar apenas com o percentual de ações do bloco de controle, vendendo os 13% restantes para sócios, como Votorantim e Camargo Corrêa, e no mercado

A Previ ficou fora dessa operação de arranjo, mas segundo uma fonte, já trabalha em parceria com a Vale para fazer uma oferta secundária de ações da siderúrgica nos mercados de capitais interno e externo. O fundo deve contribuir com participação pequena, de 3%, que equivaleria hoje a R$ 200 milhões, enquanto a Vale deve dispor de 10%. A atual participação da Previ é de 14,9% de ações votantes.

Na avaliação de analistas, a oferta é muito boa, devido ao volume a ser ofertado - 14,6 milhões de ações ON - equivalente a R$ 1,1 bilhão. A cotação desse papel da Usiminas na Bovespa é hoje de R$ 74.

A idéia do fundo é manter em carteira o restante, na expectativa de que as ações da Usiminas ganhem bastante liquidez num futuro próximo por conta do aperfeiçoamento das regras de de governança corporativa que deverão ser implementas com o processo de reestruturação societária da companhia. Já iniciaram o processo de contratação de bancos para essa operação, prevista para este ano.

Com as duas aquisições, Votorantim e Camargo vão elevar sua fatia conjunta atual, de 15,2%, para 20,8% do capital votante da Usiminas, o que corresponderia a um terço do novo bloco controlador. Esse percentual pode até subir, caso os pequenos acionistas - como as famílias Johannes Sleumer e Decastro Loureiro, donas das distribuidoras de aço Fasal e Rio Negro - também vendam seus papéis. As duas somam 1,3%. Outro acionista no bloco é a Mitsubishi, que controla a MCD do Brasil e a Metal One. Em conjunto, detêm 1,115%.

No início do ano, o banco Sudameris (ABN Amro) vendeu sua parte, de 1,9%. A participação foi adquirida principalmente por Nippon, Votorantim e Camargo. Com isso, foi dado o primeiro passo na reorganização do bloco de controle. Segundo apurou o Valor, a família Johannes Sleumer, dona da Fasal, empresa na qual a Usiminas é sócia, já teria decidido desfazer-se de sua participação - 1,15%.

A Caixa da Usiminas, entidade de previdência privada dos funcionários, poderá ser forçada a vender parte de suas ações - 3% a 4% -, uma vez que está desenquadrada dentro das normas da Secretaria de Previdência Complementar (SPC). A participação da renda variável (ações) já representava em agosto 44% do seu patrimônio. Esse percentual infringe pelo menos duas normas: está acima de 35% de aplicação em uma única empresa (Usiminas) que não se enquadra em nenhum nível da Bovespa e tem mais de 10% de companhia aberta com mais de 2% do Ibovespa. A Usiminas já chega a 4,5%.

José Ruque Rossi, diretor financeiro da Caixa, disse que a entidade conta com "waiver" da SPC, pois esse desequadramento se deve à elevada valorização das ações da Usiminas desde 2003 - mais de 400%. "É uma exceção e podemos ficar assim até o fim do acordo de acionistas, em 2023", afirmou.