Título: GM e Renault definem diretrizes para discutir possível parceria
Autor: Olmos, Marli
Fonte: Valor Econômico, 29/09/2006, Empresas, p. B5

Numa sala com 13 jornalistas de diferentes países, o executivo que não se cansa de cultivar a diversidade cultural no mundo automotivo começou a conversa tomando chá de uma garrafa com rótulo escrito em japonês. Embora a decisão sobre uma provável aliança com a americana General Motors esteja marcada para o dia 15 de outubro, Carlos Ghosn, o brasileiro que comanda o grupo franco-japonês Renault/Nissan, demonstrou entusiasmo ontem, um dia depois da reunião que manteve com Rick Wagoner, presidente da GM, em Paris.

O misterioso chá, segundo um jornalista japonês, serve para garantir boa forma e saúde. Mesmo repetindo que a aliança ainda não é certa, Ghosn deu algumas diretrizes do possível entendimento. Segundo o executivo, esta não será uma aliança em que uma empresa adquire parte da outra. "Ninguém vai controlar ninguém, nenhuma das empresas será administradora da outra", disse. "Estamos conversando sobre aproveitar oportunidades para uma sinergia que pode adicionar valor e lucro", acrescentou.

Numa a entrevista concedida no período da tarde, durante a apresentação do salão do automóvel de Paris, o presidente da Renault/Nissan mostrou muito mais empolgação do que o provável parceiro havia demonstrado pela manhã, em conversas com jornalistas no mesmo evento. Com um semblante mais constrangido, quando questionado sobre o assunto, Rick Wagoner limitou-se a responder que a decisão sobre a aliança será tomada somente no dia 15.

Ghosn tomou, entretanto, precaução de evitar transparecer que a decisão sobre o assunto mais comentado no salão de Paris já estaria tomada. Segundo ele, o que está em discussão no momento é saber se a parceria faz sentido. "Precisamos saber se valerá a pena", disse o executivo.

Segundo Ghosn, o grupo que ele representa não precisa da aliança. "Não se trata de uma questão de necessidade", disse. "Temos uma estratégia muito clara e nosso futuro não depende disso", acrescentou. Segundo explicou, o que se discute são as oportunidades que a união poderia representar. "Tenho o apoio dos acionistas para interromper a discussão a qualquer momento", destacou.

Outra questão que precisa ser definida é a proporção da parceria, destaca. "Porque as coisas mudam de acordo com o tamanho da sinergia", explicou. Outro ponto, disse, é manter a disposição para o aprendizado que uma aliança como essas proporciona diante das diferenças culturais. Também não se pode buscar objetividade, segundo ele. "Essas coisas não são como dizer se um copo está cheio ou vazio". Definidas essas diretrizes que Ghosn considera importantes, é preciso, segundo o executivo, partir para a nova fase: a organização da parceria.

A provável aliança com a General Motors ocupou boa parte do interesse do grupo de jornalistas que entrevistou Ghosn, independentemente da nacionalidade de cada um. A força dos países emergentes no crescimento da produção de automóveis no mundo é outro tema que o entusiasmou. "Nós já temos o Bric (sigla que engloba Brasil, Rússia, Índia e China); precisamos saber qual será o próximo motor do crescimento do setor no mundo", disse.

O executivo brasileiro demonstrou, porém, menos empolgação em relação ao desempenho do grupo Renault/Nissan no Brasil. "Os resultados no Brasil não são os que eu esperava", disse. Segundo ele, a situação da empresa na Argentina é melhor. "Estamos agora trocando o comando da operação brasileira, com novos executivos", lembrou. "Estou preocupado, mas daqui a algum tempo a situação vai mudar".

O brasileiro foi ontem mais uma vez o centro das atenções num evento que reúne os principais executivos da indústria automobilística. Pela manhã, ele próprio apresentou as novidades da Renault no salão de Paris, que será aberto ao público amanhã. Diante de uma platéia que passava de 500 jornalistas, novamente comandou um show em que ele foi mais fotografado do que os carros.