Título: Aliados de Kassab veem ambição ministerial em protesto de Kátia Abreu
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 11/07/2012, Política, p. A9

Em carta enviada ao prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD, a senadora Kátia Abreu (PSD-TO), vice-presidente do partido, protesta contra a "forma arbitrária e clandestina" da intervenção no diretório da legenda em Belo Horizonte e declara "dissidência crítica e vigilante" em relação ao dirigente.

Por orientação de Kassab, o líder da bancada na Câmara, Guilherme Campos (SP), movimentou-se para acalmar os ânimos e orientar os deputados a não reagir, na tentativa de reduzir os danos políticos. "Kátia está exagerando", afirma Campos. Segundo ele, a senadora está isolada no protesto. "Não pode uma decisão circunscrita à capital mineira ganhar um contorno desse", diz.

Entre deputados do PSD ligados a Kassab, existe uma avaliação segundo a qual Kátia quer disputar com o prefeito o espaço que - acreditam - ele deverá ter no governo Dilma Rousseff, a partir do ano que vem. Há uma expectativa no partido que o prefeito ocupe um ministério, provavelmente o de Cidades.

Aliados da senadora rejeitam essa avaliação. Dizem que, para a senadora, seria uma diminuição política ser ministra, já que ela preside a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e é líder do setor rural. Pessoas próximas de Kátia dizem que ela tem toda razão de estar irritada.

Lembram que ela foi muito cortejada por Kassab para ir para o PSD. O prefeito chegou a pensar em indicá-la para presidir o novo partido, depois mudou de ideia. E, depois da criação, a senadora, embora primeira vice-presidente, não é ouvida sobre decisões partidárias.

A crise no PSD foi provocada pela decisão tomada por Kassab, em reunião com cinco dos seis deputados federais mineiros - dos quais um, Marcos Montes, discordou - de determinar aliança com o candidato do PT a prefeito, Patrus Ananias. O diretório havia registrado ata apoiando a reeleição do prefeito Marcio Lacerda (PSB). O caso está sub-judice.

"Considero que houve mais que abuso de poder, um grave e insolente dano ao espírito do nosso partido, nascido sob a inspiração da ruptura com os rótulos ideológicos anacrônicos e, principalmente, com o compromisso de ser uma legenda democrática, sem donos ou comandos arbitrários, mas com lideranças conscientes e bases esclarecidas", afirmou a senadora na carta a Kassab, repassada por ela a outros dirigentes e parlamentares do partido.

Presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), ela critica o fato de a intervenção ter sido decidida sem que fossem ouvidos os dois vice-presidentes do partido - ela e o ex-deputado mineiro Roberto Brant, que renunciou ao cargo na direção partidária e anunciou a decisão de se desfiliar da legenda por discordar da posição.

"Na contramão das estratégias e alianças que você mesmo defendia e para as quais obteve o consenso dos fundadores do nosso partido - convencendo a todos nós a apoiarmos um projeto realista e consequente - a intervenção em Belo Horizonte sugere que estamos à mercê de humores e objetivos que não conhecemos, consequentemente não autorizamos, e com as quais não podemos nos comprometer", diz Kátia.

Ela afirma que não discute o mérito da decisão e sim a forma como foi imposta, "goela abaixo". E se declara em dissidência "crítica e vigilante" até que sejam restauradas garantias contra "atos de truculência e autoritarismo discricionário".

O líder do PSD na Câmara, que conversou com todos os deputados da bancada federal do partido, nega que a intervenção tenha sido imposta por Kassab. Segundo ele, foi uma decisão colegiada, tomada depois que foi desfeita a aliança que incluía PSD, PSB e PT em torno de Lacerda. A "gênese" foi a decisão do prefeito de não fazer coligação com o PT na eleição proporcional (para vereadores).

"A partir daí, cada partido seguiu seu caminho. No dia seguinte, artificialmente, um grupo registrou uma ata com uma aliança que não existia mais [em torno de Lacerda, da qual faz parte do PSDB do senador Aécio Neves]", afirma Campos. Ele rebate a crítica de Kátia e Brant de que as decisões no PSD não são discutidas de forma colegiada e que Kassab controla a sigla. "Ele nunca deixou de atender ninguém", diz.

Na tentativa de minimizar o episódio, o líder o atribui "à tensão pós-decisões do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e do Supremo Tribunal Federal (STF)", favoráveis ao PSD, garantindo ao partido direito a fundo partidário e a tempo de rádio e televisão. Campos chama Kátia de "pessoa de valor, bem quista e líder do setor rural" e diz que é hora de conversar. Afirma que o partido é pequeno, novo e "não tem musculatura para ficar brigando".

O deputado Marcos Montes (MG) tem a expectativa de que a justiça eleitoral em Minas decida pela manutenção da aliança do PSD com o PSB do prefeito. Ele disse estar recebendo ligações de colegas de outros Estados, prestando solidariedade. Ele admite que o PSD mineiro tem um projeto político nacional ligado a Aécio. Com essa intervenção, que chamou de "equivocada" e "abrupta", Montes avalia que o PSD "praticamente assinou a ficha de adesão ao PT".