Título: Favorito, Serra deve conquistar para o PSDB 4ª gestão consecutiva em SP
Autor: Agostine, Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 29/09/2006, Política, p. A13

No comando do Estado há doze anos, o PSDB deverá manter o governo de São Paulo nas eleições de domingo, uma das disputas mais previsíveis do país, apesar de seus 16 candidatos. O favoritismo do ex-prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB), não dá pistas, no entanto, sobre os rumos do principal problema identificado pelos eleitores do Estado: a segurança.

Suas propostas convergem com as do candidato petista Aloizio Mercadante no que se refere ao aumento dos investimentos na inteligência policial. Mas os dois partidos distanciam-se na discussão sobre os presídios e parceria com o governo federal.

Serra pretende construir unidades de segurança máxima, com Regime Disciplinar Diferenciado (RDD). Em seu plano encontra-se apenas um genérico "enfrentar o crime organizado em todas as suas dimensões". Mercadante, diferentemente, defende o uso da Força Nacional, a criação de sub-secretarias de Segurança e desenvolvimento de projetos com a União.

Das propostas temáticas feitas pela campanha tucana, Serra tirou o capítulo sobre Segurança do grupo de debate e centralizou a discussão em torno de pessoas próximas, como os ex-ministros Aloysio Nunes Ferreira e José Gregori. A descrição do plano de combate à violência foi resumida em dez pequenos parágrafos - espaço semelhante ao usado pelo programa do PT. Mercadante, no entanto, explorou fortemente o tema nos programas eleitorais, em comícios e nos três debates que participou. Serra foi apenas no último, da Rede Globo e não dedicou nenhum dos 38 programas da TV ao tema.

A segurança parece não ser o único problema a ser herdado pelo próximo governador. Coordenadores da campanha de Serra e de Mercadante já avistaram dificuldades no caixa do governo estadual, conhecidas há pelo menos seis meses pelo sucessor de Alckmin, Cláudio Lembo (PFL). Assim que assumiu o governo, em abril, o pefelista deparou-se com um decreto assinado pelo tucano quinze dias antes, que contingenciou R$ 1,5 bilhão. Lembo teve de rever metas orçamentárias deixadas por Alckmin porque a arrecadação foi abaixo do esperado, reduziu gastos e investimentos.

A receita ficou R$ 803, 43 milhões aquém da previsão. A dívida continua alta, mas o Estado favoreceu-se com a valorização do real, o que o deixa na dependência do câmbio. A situação pode tornar-se ainda mais nebulosa porque parte da receita prevista deverá vir da venda de ativos do governo, ainda incerta, como ações do banco estadual Nossa Caixa. Para aumentar a arrecadação, o governo perdoará multas sobre dívidas dos contribuintes.

Mas nem as dificuldades do governo, nem as acusações levantadas por um dossiê comprado pelo PT contra políticos do PSDB abalaram a intenção de votos de Serra. As pesquisas apontam a vitória no primeiro turno, com 51% dos votos, contra 24% de Mercadante e 8% de Orestes Quércia (PMDB), de acordo com o Ibope de ontem.

O colapso da política de segurança no governo de Geraldo Alckmin também não foi suficiente para alterar o cenário configurado antes mesmo do início da propaganda no rádio e na TV, em 15 de agosto, e o PSDB caminha para o início do quarto mandato seguido no Estado. Plínio de Arruda Sampaio (P-SOL), ex-militante e ex-candidato petista, tem apenas 1%.

Caso a vantagem de Serra se confirme nas urnas, a eleição será uma exceção: das onze eleições democráticas, apenas uma, em 1958, foi resolvida no primeiro turno.

O fortalecimento do PT na disputa pelo governo paulista é recente e a sigla chegou só uma vez ao 2º turno, na eleição passada, com José Genoino. O primeiro a disputar o Palácio dos Bandeirantes foi o hoje presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 1982. Quatro anos depois foi a vez de Eduardo Suplicy, seguido por Plínio de Arruda Sampaio, José Dirceu e Marta Suplicy nas eleições seguintes.

A escolha de Aloizio Mercadante para representar o PT nesta eleição foi feita por prévia, com a ex-prefeita Marta Suplicy. Para o cientista político Rubens Figueiredo, do Cebrap, a vantagem de Serra pouco mudaria qualquer que fosse o candidato da oposição. "Serra tem uma imagem muito forte. Foi candidato à Presidência, ministro, prefeito e é representante de um governo bem avaliado", observa. "As pesquisas mostram que a onda de violência não influenciou a avaliação do governo de Alckmin assim como no governo federal os escândalos de corrupção não afetaram o governo Lula", considera.