Título: Ibovespa tem maior queda desde maio
Autor: Cury , Aline
Fonte: Valor Econômico, 11/07/2012, Finanças, p. C2
Uma combinação de indicadores de atividade na China considerados negativos pelos analistas, incertezas relacionadas à Europa e dados de balanços recebidos com cautela no Brasil determinou a maior queda do Ibovespa em quase dois meses.
O índice encerrou o pregão de ontem com queda de 3,05%, em 53.705 pontos, com R$ 6,166 bilhões movimentados - cerca de 17% abaixo da média diária neste ano -, na maior perda apurada em um pregão desde o dia 17 de maio deste ano.
Entre os papéis mais negociados, a pior queda do dia veio do setor bancário. Com 15,8 mil negócios e giro de R$ 123 milhões, a unit do Santander desabou 9,71% para R$ 14,03, na maior perda desse papel desde a oferta pública da subsidiária brasileira, quase três anos atrás.
Conforme rascunho do texto oficial do encontro dos ministros de finanças na Europa, obtido pela Dow Jones Newswires, os investidores que tenham qualquer ação ou instrumento híbrido de capital emitido pelos bancos espanhóis que receberem ajuda poderão perder completamente os investimentos. Embora o Santander já tenha informado que não vai recorrer ao pacote, a informação acabou afetando todo o setor bancário espanhol.
No Brasil, o Barclays soltou relatório em que aponta que os resultados a serem anunciados pelo Santander no dia 26 próximo, referentes ao segundo trimestre, serão inferiores aos obtidos pelo banco entre janeiro e março por causa de maiores provisões, o que vai forçar a instituição espanhola a rever as projeções de crescimento de lucros em 2012.
Ainda no setor bancário, Itaú Unibanco PN recuou 4,47% para R$ 27,94. O banco acertou associação com o BMG para oferta, distribuição e comercialização de créditos consignados. A XP Investimentos considerou positivo o formato do negócio, por meio do qual o banco não absorve os números do banco mineiro.
Petrobras PN cedeu 4,21%, para R$ 18,39, acompanhando a queda do preço do petróleo no mercado internacional. A queda das ações pode estar vinculada a um ajuste do mercado, segundo Lucas Brendler, analista da Geração Futuro. "A Petrobras terminou a semana subindo mais de 5%", disse. Já para a Planner, a diferença entre os preços do mercado interno e externo para gasolina e diesel vendidos pela estatal segue elevada. Nas contas da corretora, a estatal está vendendo diesel com preço 16,5% menor que no exterior. No caso da gasolina, a diferença é de 10,6%.
Vale PN cedeu 2,25% para R$ 39,98. O Bank of America Merrill Lynch soltou relatório em que cortou as projeções para as ações PNA e ON da mineradora de US$ 29,00 (cerca de R$ 58,00) para US$ 27,00 (cerca de 54,00) por causa das estimativas mais baixas para os preços dos metais.
No setor elétrico, os investidores reagiram à revisão tarifária proposta pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para a CPFL Piratininga, com ajuste negativo de 8,18%. A CPLF Energia cedeu 2,46% na bolsa, para R$ 23,70. "Há receio de que esses ajustes afetem políticas de dividendos dessas companhias", disse Pedro Galdi, da SLW Corretora.
O segmento de construção civil também foi destaque no Ibovespa, para cima e para baixo. O papel da PDG Realty despencou 10,05%, para R$ 3,04, após a empresa ter anunciado novo corte na meta de lançamentos imobiliários para 2012. O ponto médio do Valor Geral de Vendas (VGV) a ser lançado foi reduzido em 47%.
Segundo o analista Flavio Conde, da CGD Securities (antiga Banif Investment), "o mercado compra resultados, e contra números não há argumentos". Ou seja, face a mais um corte de projeções, na dúvida, o mercado opta por vender os papéis.
Já as ações da Gafisa subiram 1,22%, para R$ 2,57. A empresa anunciou queda de 60% nos lançamentos do segundo trimestre, na comparação com o mesmo período de 2011. Para Conde, a empresa encerrou o trimestre com R$ 1,02 bilhão em caixa, contra R$ 947,1 milhões ao fim de março. "O problema da Gafisa era a geração de caixa", resume.
Com o desempenho da terça-feira, o Ibovespa acentuou a perda no acumulado de 2012, com baixa de 5,37% até agora. (Colaborou Marta Nogueira)