Título: Mercado projeta alta fraca em índice do BC
Autor: Machado , Tainara
Fonte: Valor Econômico, 15/06/2012, Brasil, p. A4

Após três meses consecutivos de queda, o mercado espera que a economia doméstica mostre algum crescimento na evolução mensal, ainda que modesto. De acordo com a média das projeções de dez economistas consultados pelo Valor Data, o Índice de Atividade do Banco Central (IBC-Br) deve registrar alta de 0,24% em abril, ante março, feitos os ajustes sazonais. O intervalo das estimativas vai de queda de 0,1% até alta de 0,4%. O dado será divulgado hoje.

Para os economistas, no entanto, a avaliação é que, apesar da expectativa de alta modesta para o índice, o pulso da atividade segue fraco no segundo trimestre. "A economia vai ganhar força, mas os claros sinais de recuperação que esperávamos ainda não vieram. Cada vez adiamos mais as expectativas", afirma Rafael Bistafa, economista da Rosenberg & Associados.

Como a produção industrial recuou 0,2% entre março e abril, e as vendas no varejo ficaram aquém da expectativa, a Rosenberg revisou levemente a estimava de alta para o IBC-Br entre março e abril. A projeção para o indicador passou de alta de 0,3% para um crescimento menor, de 0,2%, em função do volume de vendas no varejo restrito, que teve alta de 0,8% em abril, na comparação com março. A Rosenberg esperava um comportamento bem mais robusto, de aumento de 2,6% no período.

O HSBC também considerou o comportamento do varejo decepcionante e por isso reduziu a projeção para o índice de atividade do BC, estimando agora recuo de 0,1% em abril. Anteriormente, a projeção era de estabilidade. Itaú e Santander também passaram a trabalhar com a expectativa de um início de segundo trimestre mais fraco para a atividade após a divulgação, ontem, da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC).

No campo oposto, Marcelo Arnosti, economista-chefe da BB-DTVM, se surpreendeu positivamente com o resultado do comércio em abril e, por isso, manteve a projeção de alta de 0,4% para o índice de atividade do BC. Para ele, a confiança do consumidor ainda em patamar alto, a expansão da massa salarial e a queda dos juros reais fundamentam a perspectiva de que o consumo das famílias irá se acelerar no segundo trimestre, "permitindo uma expansão um pouco mais forte da atividade no período", disse Arnosti, que projeta crescimento de 1% no segundo trimestre sobre o primeiro. Nos primeiros três meses do ano, o Brasil amargou avanço de 0,2% do PIB.

Para Alessandra Ribeiro, economista da Tendências Consultoria, o tom para o segundo trimestre não é tão otimista. Ela destaca que em maio os indicadores antecedentes continuaram a mostrar um ambiente de retração para a indústria. A Tendências, que antes projetava alta de 0,6% da produção industrial no mês, revisou a estimativa para queda de 0,8%. Por isso, diz, a previsão de crescimento de 0,5% no segundo trimestre sobre o primeiro ainda tem potencial para decepcionar.

Entre as previsões de dez instituições, coletadas pelo Valor Data, o número da Tendências é a estimativa mais baixa para o crescimento no período. A média das projeções aponta para uma expansão do PIB de 0,77% no segundo trimestre em relação ao primeiro, com ajuste sazonal.

Alexandre Teixeira, economista da MCM Consultores, também enxerga uma indústria ainda fraca em maio e, por isso, vê poucas chances de surpresa positiva com o desempenho da atividade no segundo trimestre. A MCM projeta alta de 0,6% do PIB no período. A partir dos indicadores de junho, avalia, os efeitos da política monetária e dos incentivos devem ficar mais visíveis e provocar uma reação mais forte da economia. No terceiro trimestre sobre o segundo, a consultoria projeta crescimento de 1,8% do PIB, feitos os ajustes sazonais.

Apesar da migração recente das estimativas do mercado para um crescimento em torno de 2% em 2012, as expectativas para a inflação continuam a se situar acima do centro da meta de 4,5% perseguida pelo Banco Central. A média das projeções compiladas pelo Valor Data aponta para um crescimento de 2,2% do Brasil em 2012, de acordo com 11 instituições consultadas, enquanto o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) terá alta de 5,01% neste ano - média com base em projeções de dez instituições.

Teixeira, da MCM, menciona o efeito da inércia inflacionária para explicar, em parte, a resistência das expectativas. "Além disso, a expectativa de que o hiato do produto fique mais apertado na passagem entre 2012 e 2013 deve possibilitar um repasse maior dos preços, que estão sendo limitados neste início do ano pelo fato de que a economista está andando muito devagar".

A inflação de serviços, que perdeu fôlego no início deste ano, também é considerada um impeditivo para que o IPCA siga em desaceleração, na opinião de Marcelo Arnosti, da BB-DTVM.