Título: PT consegue impedir convocações
Autor: Junqueira , Caio
Fonte: Valor Econômico, 15/06/2012, Política, p. A8

O PT conseguiu ontem rearticular a maioria governista na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Cachoeira e impedir a convocação do ex-diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura e Transporte (Dnit), Luiz Antonio Pagot, e do ex-proprietário da Delta Construções, Fernando Cavendish.

Com dois placares apertados, respectivamente, 17 a 13 e 16 a 13, os petistas finalmente conseguiram convencer os aliados a votarem conforme sua orientação. Em votações anteriores, como a que convocou o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), ou a que quebrou o sigilo das contas nacionais da Delta, o partido fora derrotado por integrantes da base e da oposição.

Ontem, alguns fatores foram fundamentais para evitar que esse desfecho se repetisse. Primeiro, houve um acordo com o PMDB. A maioria do partido era contrária à convocação de Cavendish, devido à sua ligação com o governador do Rio Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB). Mas não tinha maiores restrições à ida de Pagot à CPI.

Já para o PT e para o governo era importante adiar as convocações, tendo em vista o receio de que as investigações possam respingar em eventuais irregularidades do programa de Aceleração do Crescimento (PAC), via Dnit. Além disso, avistou aí o momento de retomar o controle e o foco da CPI planejado pela legenda.

O acordo, então, consistiu no principal aliado apoiar a orientação do relator Odair Cunha (PT-MG) de adiar a apreciação tanto de Cavendish quanto de Pagot. nesse cenário, petistas e pemedebistas passaram a ter ontem pelo menos dez votos em mãos. Para compor a maioria, faltavam mais seis.

Algo que ficou mais fácil depois que a oposição apresentou um requerimento de convocação da presidente Dilma Rousseff, pelo deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), em resposta ao pedido do PT de convocação do candidato a prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB). A CPI retomará sua condição de palanque eleitoral.

"A base percebeu com isso que a disputa política estava exarcebada e precisou se ajustar, ter uma posição coesa e se proteger", afirmou o senador Ciro Nogueira (PP-PI), que vinha mantendo votos diferentes da orientação petista. De acordo ele, a partir desse requerimento tucano houve uma mobilização de alguns partidos para que a maioria se consolidasse, como PP, PSB e PCdoB. No entanto, PR e PTB se dividiram. "Houve uma repactuação com o PMDB e um diálogo na base no sentido de trazer para nós a condução dos trabalhos. Tivemos diálogos bilaterais para isso", disse o vice-presidente da CPI, Paulo Teixeira (SP).

Por outro lado, ao não convocar Cavendish e Pagot, a CPI rejeitou possíveis provas testemunhais que poderiam aprofundar a apuração. Após ser defenestrado do Dnit, Pagot deu inúmeras declarações apontando irregularidades não só em contratos federais de obras como também em financiamentos de campanhas eleitorais. Cavendish era simplesmente o dono da Delta, que teve seus sigilos quebrados. Se a CPI promoveu a abertura dos dados fiscais, telefônicos e bancários da empresa, por que não trazer para depor aquele que fora responsável por ela?

"Não há possibilidade de construir um discurso contra a convocação de Cavendish. É o presidente da empresa que se deixou gravar dizendo que com R$ 30 milhões consegue qualquer obra, que compra políticos. Não comprometam suas biografias", disse o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ).

O problema, na visão petista, é que ao ampliar em demasia o seu foco original, a comissão se afastava do que o partido inicialmente planejara: utilizá-la para o embate político contra adversários. Esse afastamento da proposta inicial vinha ocorrendo à medida em que o PT estava perdendo as votações nominais e tendo de se submeter à vontade de maiorias instantâneas que se formavam de acordo com a pauta da hora. Por exemplo, foi obrigado a engolir uma aliança do PMDB com o PSDB para blindar Cabral. Tentou ainda que fossem quebradas apenas as contas nacionais da Delta ligadas aos seus operadores do Centro-Oeste. Também perdeu.

Na próxima semana não deve haver sessões porque comitivas parlamentares irão à Rio+20. É depois dela que o PT quer consolidar essa maioria recomposta ontem e voltar a dominar os trabalhos da CPI.

Agendará os depoimentos dos convocados de ontem, como a mulher de Cachoeira, Andressa Mendonça; o jornalista Luiz Carlos Bordoni, que teria recebido recursos de uma empresa de fachada ligada a Cachoeira durante a campanha eleitoral do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB); assessores e ex-funcionários do governo de Goiás; além de outras pessoas próximas a Perillo. (Colaborou Bruno Peres)