Título: PIB cresce 6,1% no terceiro trimestre
Autor: Chico Santos
Fonte: Valor Econômico, 01/12/2004, Brasil, p. A3

A economia brasileira cresceu 6,1% no terceiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado, segundo números divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foi o melhor resultado do Produto Interno Bruto (PIB) nesta forma de comparação desde o terceiro trimestre de 1996, quando o crescimento alcançou 6,3%. A indústria, pela ótica da oferta e os investimentos, pela ótica da demanda, foram os destaques, conforme já previam os analistas, crescendo, respectivamente, 7% e 20,1% na mesma comparação. Quando medida na ponta, a taxa de crescimento do PIB, já livre de efeitos sazonais, sofreu uma desaceleração. A economia cresceu 1% no trimestre de julho a setembro em comparação aos três meses anteriores. No segundo trimestre o crescimento havia sido de 1,4% sobre o primeiro que crescera 1,8% sobre o último período de 2003. "O número trimestral veio tão bom quanto o esperado. Eu chamaria a atenção para uma revisão importante do resultado do primeiro trimestre, que passou de 2,7% para 4% sobre o mesmo período de 2003. Essa revisão muda um pouco as perspectivas para o ano. O primeiro trimestre, que estava puxando a média para baixo, passa a influenciar menos negativamente. O crescimento do ano pode até passar de 5%", disse o economista Estevão Kopschitz, responsável pelo acompanhamento do nível de atividade no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Ele calculou que com um crescimento de 4,3% no último trimestre do ano sobre o último de 2003 a economia crava 5% de crescimento neste ano. Até setembro, o crescimento do PIB em 2004 em relação aos primeiros nove meses do ano passado chegou a 5,3% e no período de 12 meses encerrado no mesmo mês a taxa de incremento da atividade econômica foi de 4,2%. Para o gerente da equipe de Contas Trimestrais do IBGE, Roberto Olinto, o crescimento das exportações, que atingiu 18,2% no terceiro trimestre e 18,6% no acumulado do ano continua sendo um fator decisivo no crescimento. "Nos últimos trimestres você começou a observar um mercado interno mais dinâmico, com o começo do crescimento da massa salarial", ressaltou Olinto, destacando que no terceiro trimestre deste ano os salários cresceram 5,3% em relação ao mesmo período do ano passado. Daí porque, na sua visão, o consumo das famílias cresceu 5,7% no terceiro trimestre e 4,5% no segundo em relação aos mesmos periodos de 2003. Olinto não vê no crescimento menor da economia em relação ao trimestre anterior sinais de perda de dinamismo. "A tendência é que ao longo do tempo se chegue a um nível mais estável de crescimento na ponta. Não é indicador de desaceleração", afirmou. Para o economista Bráulio Borges, da LCA Consultores, o crescimento menos forte na ponta, a uma taxa anualizada de 4,2%, "indica para o Banco Central que não é necessário prosseguir muito no ajuste dos juros", preocupado com o risco de uma inflação de demanda em 2005. Na opinião de Borges, "a economia já está em um ritmo bem próximo daquele que é considerado possível neste momento". O ritmo anualizado próximo a 8% que vinha se registrando no começo do ano "era insustentável", no seu modo de ver. Os números do IBGE mostram que em relação ao terceiro trimestre de 2003 a construção, que começara a sair do ambiente recessivo no trimestre anterior, cresceu 11,6%, sendo ao mesmo tempo o principal fator para o crescimento de 7% da indústria, do ponto de vista da produção, e para o aumento de 20,1% nos investimentos, do ponto de vista da demanda. José Otávio Carneiro de Carvalho, secretário-executivo do Sindicato da Indústria Nacional do Cimento (SNIC), comemorou este resultado, mas disse que este ano a produção de cimento ainda vai apresentar um crescimento tímido, entre 1% e 2% no máximo, por conta do comportamento fraco da renda. "O consumo de cimento está intrinsecamente ligado ao comportamento da renda do trabalhador por conta do consumo 'formiga'. Acreditamos que em 2005 a situação possa melhorar e a produção de cimento deve crescer mais, entre 3,5% e 4%", projetou. A agropecuária manteve um crescimento forte, de 4,9%, e os serviços cresceram 4,7% sobre o mesmo trimestre do ano passado. Já na ponta, a série ajustada sazonalmente mostra a agropecuária com uma queda de 3,6%, enquanto a indústria cresce 2,8% e os serviços, 0,7%, em relação ao segundo trimestre. A queda da atividade agropecuária no período de julho a setembro não é motivo de preocupação, segundo Olinto, do IBGE. Ele disse que o resultado está relacionado com a dinâmica das safras no período. Pela ótica da demanda, os números com ajuste sazonal evidenciam a participação dos investimentos, expressos pela Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que cresceram 6,7% sobre o trimestre anterior, enquanto o consumo das famílias cresceu 1,4% e o do governo caiu 0,2%. Os dados do IBGE mostram também que, na ponta, as importações de bens e serviços estão crescendo mais que as exportações, 3,7% contra 1,5%. Para os técnicos do IBGE, isso é resultado da retomada do crescimento do mercado interno.