Título: Erundina reforça periferia para Haddad
Autor: Lima , Vandson
Fonte: Valor Econômico, 15/06/2012, Política, p. A10

Depois de meses de negociações, a aliança entre o PT e o PSB para a eleição à Prefeitura de São Paulo será anunciada hoje à tarde, com a presença de caciques nacionais dos partidos. O ex-ministro petista, Fernando Haddad, terá como candidata a vice a deputada federal e ex-prefeita Luiza Erundina, que aceitou a indicação do PSB como uma "missão partidária".

Décima deputada federal mais votada no Estado de São Paulo em 2010, Erundina tem na capital paulista seu maior eleitorado, onde concentrou 83,1% dos 214.114 votos que amealhou na última eleição. Estes 178.003 votos recebidos deram a ela a segunda maior votação para o cargo na cidade, atrás apenas de Tiririca. Erundina obteve na capital 43,4 mil votos a mais que Gabriel Chalita, pré-candidato do PMDB à Prefeitura de São Paulo - que por sua vez, aparece nas pesquisas de intenção de voto à frente de Fernando Haddad (PT).

A indicação de Luiza Erundina, de 77 anos, no entanto, traz vantagens e desvantagens à estratégia dos petistas. O mote da propaganda eleitoral de Haddad, que tem 49 anos e participa de sua primeira eleição, é a renovação, em contraste com os 70 anos e as seguidas disputas enfrentadas por José Serra. Sua presença na chapa pode neutralizar em certa medida o poder do argumento dos marqueteiros. Por outro lado, um dos ganhos esperados é com a imagem associada à ética e a experiência de sua passagem pela prefeitura entre 1989 e 1992, quando ainda era filiada ao PT.

A escolha da ex-prefeita é vista pelos petistas como uma forma de acrescentar às marcas mais recentes da administração de Marta Suplicy (2001 a 2004) - como o bilhete único e os CEUs, nas áreas de transporte e educação - realizações mais antigas de Erundina, nas áreas de habitação e urbanismo.

Boa parte do capital eleitoral de Erundina é ainda reflexo do período em que comandou a prefeitura. Com uma gestão que se notabilizou pelos mutirões destinados à pavimentação de ruas e construção de casas populares em bairros da periferia, Erundina registra até hoje suas maiores votações nestas regiões, que mais se beneficiaram das ações de seu governo.

Foi do bairro de São Mateus, na zona leste - onde em 27 de abril de 1989 a então prefeita deu início a um projeto habitacional em um terreno de um milhão de metros quadrados, que beneficiou cerca de mil famílias moradoras de favelas localizadas em áreas de risco e outras 2.850 famílias cuja renda não ultrapassava quatro salários mínimos - que vieram as maiores votações obtidas por Erundina na cidade em 2006 (8,8 mil votos) e 2010 (14,1 mil).

Independentemente do cargo que concorra, Erundina sempre obteve votações expressivas em São Mateus. Já em outros bairros de periferia, como São Miguel Paulista, Guaianazes (ambos na zona leste) e Pirituba (zona norte), seu eleitorado varia ao sabor da disputa. Quando concorre a cargo Executivo, Erundina fica mais visível a esse eleitor e os números sobem; quando buscou o Legislativo, a votação caiu. Um exemplo é São Miguel Paulista: candidata a prefeita em 2000, Erundina obteve 26,8 mil votos na região. Dois anos depois, em 2002, ao pleitear novo mandato como deputada federal, recebeu 9,1 mil votos. Em 2004, buscou a prefeitura novamente e subiu para 14,2 mil votos na região. Em 2006, apenas 2,8 mil votos como candidata ao Legislativo.

Em bairros mais nobres da cidade, o eleitorado de Erundina está estável desde 2002, como se essencialmente as mesmas pessoas votassem nela para qualquer cargo. De lá para cá, ela recebe entre 3 mil e 5 mil votos em Perdizes, Bela Vista, Vila Mariana e Pinheiros.

O lançamento da chapa contará com os principais dirigentes das duas siglas, entre eles os presidentes do PT, Rui Falcão, e do PSB, o governador de Pernambuco Eduardo Campos, e seu colega do Ceará, Cid Gomes.

Apesar do apoio em São Paulo, ambos os governadores indicaram nos últimos dias que romperão longa aliança com os petistas em seus Estados, nas duas principais capitais administradas pelo PT: Recife e Fortaleza.

O primeiro-secretário do PSB, Carlos Siqueira, afirma que, apesar das difíceis negociações, que se concentraram nos últimos três meses e teriam envolvido outros municípios, o apoio da legenda a Haddad nunca esteve em questão.

"É uma inverdade. A negociação não teve nada a ver com outras cidades. Apoiaríamos o PT em São Paulo em qualquer situação. Sabemos que vai haver uma polarização [com o PSDB, cujo candidato é o ex-governador José Serra]. E temos um lado", disse Siqueira.

O dirigente do PSB reconheceu que as seções locais do partido estavam mais inclinadas, inicialmente, a apoiar Serra, e depois, ao lançamento de nome próprio, mas que "por meio do diálogo" foram convencidas a rumar com o PT.

O compromisso entre as cúpulas nacionais passa pela amizade e relação política de Eduardo Campos com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, artífice da candidatura Haddad.

Mas em São Paulo, o PSB faz parte da base de sustentação do governador Geraldo Alckmin e do prefeito Gilberto Kassab, caciques dos dois principais partidos da coligação de Serra: o PSDB e o PSD.

A decisão da direção nacional de apoiar a candidatura de Haddad levou à saída do deputado federal Márcio França, presidente regional do PSB, da secretaria estadual de Turismo.

Restou a Luiz Erundina - ex-petista e distante dos dirigentes alinhados ao bloco tucano - o convite para ser a vice na chapa de Fernando Haddad. A consulta foi feita diretamente pela direção nacional.

"Ela estava meio reticente, mas disse que era partidária e aceitava se fosse uma decisão unânime no PT e no nosso partido, pois ela não estava reivindicando a vice, até por já exercer o cargo de deputada", disse Carlos Siqueira.

Sobre o consenso no PSB, o dirigente afirma que tanto França quanto o presidente do diretório municipal, o vereador Eliseu Gabriel, estão de acordo com a indicação de Erundina.

Outro nome que foi sondado, segundo um parlamentar pessebista, é o do secretário de Educação Básica Cesar Callegari, do Ministério da Educação.

No PT, a adesão do PSB é comemorada por ser o primeiro partido a se coligar. O PCdoB ainda é aguardado. Serra conta com PSDB, PSD, DEM, PV e PR.