Título: Investimento externo, em especial da Europa, volta a crescer nos EUA
Autor: Shah , Neil
Fonte: Valor Econômico, 15/06/2012, Internacional, p. A15

Estrangeiros estão voltando a investir nos EUA, depois de baterem em retirada no pior momento da crise financeira. Essa nova onda se deve em parte a europeus que buscam porto seguro em meio à crise da dívida do continente.

Os EUA receberam US$ 28,7 bilhões em investimento estrangeiro direto entre janeiro e março. Foi o 12º trimestre consecutivo de saldo positivo, informou o Departamento de Comércio ontem. Esse investimento inclui apostas de longo prazo de empresas e indivíduos, como compra de empresas e imóveis - mas não títulos do Tesouro e outros papéis americanos.

O investimento estrangeiro direto nos EUA totalizou US$ 234 bilhões em 2011, um salto de 14% em relação aos US$ 205,8 bilhões de 2010; cerca de dois terços desse valor veio da Europa. O governo inicialmente estimara queda de 4% na entrada de investimentos no ano passado. O investimento em 2010 e 2011 superou assim a média dos últimos dez anos, sugerindo que a capacidade americana de atrair capital se recuperou da crise.

Os próximos meses prometem ainda mais. A aquisição de empresas americanas por europeias - a maior fonte de investimento externo - somou US$ 7,5 bilhões no primeiro trimestre, segundo a provedora de dados Dealogic. É bem menos que os US$ 27,1 bilhões já registrados no segundo trimestre. Em geral, todo primeiro trimestre é lento para o investimento estrangeiro. Enquanto isso, o preço de imóveis nos EUA, há seis anos em queda, está levando europeus e demais estrangeiros a comprar imóveis no país, em parte devido à percepção de estabilidade dos EUA.

A retomada do investimento estrangeiro direto nos EUA provocou a valorização de ações e turbinou o emprego na indústria - um pivô da recuperação. O investimento despencou em 2009, quando a crise econômica congelou fluxos de capital mundiais. Embora ainda sejam o destino mais popular do mundo para o capital, os EUA perderam, nos últimos anos, um pouco do seu apelo para economias emergentes como China e Brasil. Mas especialistas dizem que o agravamento da crise da zona do euro pode alimentar a recuperação do fluxo para os EUA, tornando o país uma aposta mais segura para o investimento a longo prazo.

"É uma oportunidade para os EUA", disse Nancy McLernon, presidente da Organização para o Investimento Internacional, grupo sediado em Washington que representa grandes investidores estrangeiros nos EUA. "No momento, há muitos pontos de interrogação sobre a perspectiva europeia."

Tem crescido o temor de que a crise da dívida na Europa e as economias fragilizadas do continente possam derrubar o crescimento mundial. Analistas do J.P.. Morgan & Chase reduziram de 2,6% para 2,1% sua estimativa de crescimento mundial este ano, mas esperam que os EUA cresçam acima disso. Bancos americanos reforçaram seu colchão de capital, dizem economistas, enquanto o mercado imobiliário do país parece ter parado de cair. E o setor de tecnologia continua sendo um fator positivo, apesar da decepção com a abertura de capital da Facebook.

Em maio, a empresa alemã de software SAP pagou US$ 4,3 bilhões pela americana Ariba, de comércio eletrônico. A aquisição é parte do plano da SAP de rumar para data centers na "nuvem", que leva informações e software a aparelhos móveis e computadores, disse James Dever, porta-voz da SAP. "Boa parte da tecnologia em nuvem está partindo dos EUA", disse. É "um ponto forte para os EUA".

Este ano, a suíça ABB comprou a Thomas & Betts, fabricante americana de conectores elétricos, por US$ 3,9 bilhões. "A ABB acredita na força da indústria americana", disse num comunicado Joe Hogan, o diretor-presidente da empresa.

A fabricante francesa de pneus Michelin informou em abril que iria ampliar suas instalações no Estado americano da Carolina do Sul e erguer uma nova fábrica ali; as montadoras BMW e Volkswagen também inauguraram fábricas.

E não é só a Europa. Empresas latino-americanas, como a processadora brasileira de carne JBS, gastaram US$ 1,4 bilhão em empresas americanas no primeiro trimestre. "É quase que uma reindustrialização dos EUA com ajuda do capital estrangeiro", disse Joseph Carson, economista da Alliance Bernstein.

Os fluxos de investimento estrangeiro direto em todo o mundo deve voltar à média pré-crise em 2011, segundo a ONU. Se a reputação dos EUA como destino para o capital mundial melhorar, o país pode recuperar parte do terreno perdido para países como China (o segundo maior destino), que corroeu sua liderança. Em 2011, a China atraiu US$ 116 bilhões de investimento estrangeiro direto, 9,7% a mais que no ano anterior, uma alta menor que a dos EUA, de 14%.