Título: Grandes eventos mobilizam líderes de todo o mundo
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Fonte: Valor Econômico, 15/06/2012, Especial, p. F2

Pelo menos seis mil empresários e executivos estrangeiros devem circular pelo Brasil em torno da Rio+20 até o fim do evento. Quase todos trazem nas malas a intenção de participar da construção do futuro, de tentar formular propostas concretas de crescimento econômico com inclusão social e respeito ao meio ambiente e a necessidade de uma sinalização política comprometida com metas de sustentabilidade.

A revoada internacional confirma a postura mais efetiva do setor privado nas discussões vinte anos depois de uma participação tímida na Rio-92 ao mesmo tempo em que mobiliza um aparato invejável e exige detalhes meticulosos de organização para não fazer feio exatamente no tema da cúpula das Nações Unidas: a sustentabilidade.

O evento mais ambicioso reúne 1.200 empresários e executivos no luxuoso Hotel Windsor da Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio. A expectativa era chegar a mais de dois mil participantes com o envolvimento de investidores, representantes de governos e ambientalistas. O "Fórum de Sustentabilidade Corporativa da Rio+20: Inovação e Colaboração para o Futuro que Queremos", que começa hoje e vai até o dia 18, prevê mais de 120 sessões sobre desafios-chave de sustentabilidade em seis temas.

O encontro é promovido pelo Pacto Global das Nações Unidas. Vai servir também de vitrine das principais inovações tecnológicas e sociais adotadas pelas empresas para chamar a atenção para a necessidade de apoio de governos e investidores nas soluções tecnológicas que preservam o meio ambiente.

"O Rio será uma demonstração de que as empresas, mais do que nunca, estão dispostas a fazer sua parte e ajudar a moldar a agenda global", diz George Kell, diretor-executivo do pacto Global das Nações Unidas. "Muito do sucesso da Rio+20 será medido pela mudança e as ações que conseguir inspirar, embora existam expectativas para resultados políticos."

O "Fórum de Sustentabilidade Corporativa" será o primeiro evento da ONU com o selo de windmade - o que significa que será abastecido integralmente por energia eólica.

Cada participante contribuiu com US$ 45 para compensar as emissões de carbono causadas por sua viagem à cidade. Nenhum livro, documento ou folheto foi impresso. Publicações e materiais de apoio têm de ser baixados pela internet. Até os copos de café são sustentáveis e reciclados. A Sublime Eventos cuidou dos detalhes do encontro orçado em US$ 4,5 milhões desde março do ano passado. Tanto cuidado se justifica pela expectativa em torno dos resultados.

"A intenção é sair dos compromissos que não definem metas concretas", diz Yolanda Cerqueira Leite, secretária executiva do Pacto Global no Brasil. "Temos carta compromisso, assinada por quase 200 empresas brasileiras, que propõe dez compromissos para os próximos dez anos: do crescimento econômico sustentável à inovação tecnológica com metas concretas. A carta prevê o apoio ao governo brasileiro na adoção de medidas de apoio ao consumo sustentável e de tecnologias sustentáveis."

O Hotel Windsor da Barra também será o palco do Business Day. O evento é organizado pela Business Action for Sustainable Development (Basd), coalizão de três grandes redes empresariais internacionais que reúnem indústrias e varejistas de todo o mundo. Vai ser no dia 19 e deve juntar presidentes de grandes corporações, políticos e representantes de governos. São esperadas 800 pessoas.

O objetivo é promover uma aproximação entre as lideranças empresariais e quem formula políticas públicas, identificar ações e soluções de negócios e estabelecer compromissos em setores como agricultura, química, produtos de consumo, energia, óleo & gás e transporte. Também serão debatidos temas transversais como acesso à energia, segurança alimentar, economia verde, governança internacional e tecnologia em desenvolvimento sustentável.

O Conselho Empresarial da América Latina (Ceal), que reúne mais de 500 empresários de dezenove países, trouxe três propostas concretas para encaminhar na Rio+20: retomada em cinco anos do crescimento econômico aos níveis de 2007, de 5,7% ao ano, redução em 20% da extrema pobreza no mundo e inserção de 200 milhões de pessoas no mercado em dez anos e imposto zero sobre a cadeia de energia renovável.

"Nossos objetivos são totalmente quantificáveis e possíveis de ser atingidos. Por isso, acreditamos em uma boa aceitação e em iniciativas concretas com base nessas metas", afirma o presidente do conselho empresarial no Brasil, Ingo Plöger.

O debate em torno da sustentabilidade não se restringe aos limites do Rio de Janeiro. O assunto trouxe a São Paulo ontem o diretor de pesquisa do Centro de Construções Sustentáveis da Building and Construction Authority (BCA) de Cingapura, Kian Seng Ang. Ele foi a atração principal do simpósio "Eficiência no Uso de Recursos e Economia Verde: Oportunidades para Edifícios e Cidades Sustentáveis", do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e da Sustainable Buildings and Climate Initiative (SBCI).

No encontro, que reuniu empresários do setor da construção civil, Kian Seng Ang pode explicar como funciona a estatal BCA, que entre outras coisas opera um edifício para testar tecnologias de energia zero.