Título: Empate entre PT e PSB por vaga no 2º turno acirra disputa em PE
Autor: Mandl, Carolina
Fonte: Valor Econômico, 29/09/2006, Política, p. A16

Uma das disputas mais acirradas do país, a eleição estadual de Pernambuco mostra que as divergências entre os três principais candidatos está muito mais no discurso de palanque do que nos programas de governo em si.

Tanto o atual governador, José Mendonça Filho (PFL), líder nas pesquisas, quanto Humberto Costa (PT) e Eduardo Campos (PSB), que brigam pela segunda colocação no pleito, têm propostas bastante similares no que diz respeito ao desenvolvimento econômico do Estado. O programa do governo dos candidatos tem como o principal pilar do crescimento de Pernambuco grandes projetos em construção no Estado, como a refinaria da Petrobras e o estaleiro Atlântico Sul, ambos no Porto de Suape.

Mendonça, Humberto e Eduardo querem fazer com que esses empreendimentos sejam a mola propulsora da geração de negócios para pequenos e micro empresários, reduzindo as desigualdades no Estado. A conseqüência dessas visões similares é que na área de educação os programas de governo dos candidatos também acabam se cruzando. Todos avaliam que Pernambuco precisa ter mais escolas técnicas profissionalizantes para que haja mão-de-obra necessária para a expansão dos projetos.

"Na formulação das propostas há um certo consenso. Já se percebeu que faltam grandes projetos estruturadores ao Estado", afirma o cientista político Michel Zaidan, professor da Universidade Federal de Pernambuco. Para ele, o que mais vai pesar no voto é o histórico dos candidatos e, principalmente, de seus aliados.

Até agora, a maior polarização entre os candidatos se deu na forma como eles se apresentam à população. O governador Mendonça se diz o sucessor de Jarbas Vasconcelos (PMDB), de quem foi vice até março deste ano. Eduardo, por sua vez, remonta ao governo de Miguel Arraes, seu avô e governador de Pernambuco por três vezes. Já Humberto Costa (PT) prefere ligar sua imagem à do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

As pesquisas eleitorais mostram que é difícil saber quem será o vencedor da disputa. A única coisa que parece certa até o momento é que Mendonça irá para o segundo turno, com 35% das intenções de voto, segundo levantamento do Ibope divulgado no dia 21. Mas com quem ele irá para a disputa é uma pergunta que só deve ser respondida nas urnas. Eduardo e Humberto aparecem empatados com 26% dos votos.

No início de agosto, o candidato do PT detinha claramente a segunda colocação, com 24%, dez pontos percentuais acima de Eduardo. Entretanto, o neto de Arraes foi ganhando força entre os eleitores indecisos, que somavam 10%.

Esse movimento se acentuou principalmente depois de Humberto ter sido indiciado pela Polícia Federal por suposto envolvimento em fraudes para a compra de hemoderivados (operação vampiro) enquanto estava no Ministério da Saúde. Entrevistado pelo Valor, Humberto disse acreditar que "tudo pode acontecer no domingo". Mas afirmou saber que as acusações contra ele impediram seu crescimento no Estado. "O voto de esquerda ficou dividido entre mim e Eduardo. Com os recentes escândalos, o PSB capturou os indecisos", explicou.

Nesta semana, o Ministério Público Federal aceitou a denúncia contra Humberto, o que pode tornar a disputa mais favorável a Eduardo. Tanto que a estratégia de ataque de Mendonça mudou. Em uma carreata pelo centro do Recife realizada anteontem, além de atacar Humberto ao colocar seus militantes para carregar fantoches de vampiro, Mendonça fez críticas a Eduardo. Disse ter encontrado o Estado "quebrado e arrebentado" depois do governo de Arraes, do qual Campos foi secretário da Fazenda.

O candidato do PFL sabe que a disputa no segundo turno não será nada fácil. Seja com Humberto ou com Eduardo, as pesquisas eleitorais apontam para um empate técnico entre os concorrentes. Além disso, PSB e PT têm um acordo de apoio recíproco no segundo turno.

Nas últimas eleições para a Prefeitura do Recife, a ajuda de Jarbas, que deve se tornar senador com cerca de 70% dos votos do Estado, não foi suficiente para eleger Carlos Eduardo Pereira (PMDB). João Paulo (PT) ganhou a disputa apesar de não ter iniciado a campanha como o preferido dos eleitores.