Título: Investimento sobe e abre espaço para BC abrandar ciclo de alta dos juros
Autor: Sergio Lamucci
Fonte: Valor Econômico, 01/12/2004, Brasil, p. A3

Os investimentos crescem a um ritmo significativo na economia, indicando que está em curso um movimento de expansão da capacidade de oferta no país. Esse sinal, para alguns economistas, abre espaço para o Banco Central (BC) abrandar e encurtar o ciclo de alta de juros iniciado em setembro. Números divulgados ontem pelo IBGE mostram que, no terceiro trimestre, a formação bruta de capital fixo (FBCF) avançou 6,7% em relação ao segundo - a maior desde 1994 - na série livre de influências sazonais. Na comparação com o mesmo período de 2003, a expansão foi de 20,1% (a mais alta desde 1995), acima das projeções do mercado, de 13% a 15%. Para os analistas, embora seja necessário verificar se o processo terá continuidade nos próximos meses, o resultado deve ajudar a reduzir problemas de oferta. A FBCF mede o investimento na construção civil e em máquinas e equipamentos. O coordenador do grupo de conjuntura da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Francisco Eduardo Pires de Souza, considerou os números sobre investimentos bastante positivos, ainda que a base de comparação seja fraca. Ele nota que, entre o terceiro trimestre de 2003 e o terceiro deste ano, a FBCF cresceu 21%, bem acima dos 6,8% registrados pelo PIB. Nos dois movimentos de recuperação anteriores, em 1999/2000 e 2001/2002; o investimento custou mais a avançar, afirma ele. "Os números parecem indicar que as empresas estão apostando na continuidade da expansão da demanda. Há uma grande chance de que esse seja o início do processo de crescimento sustentado", diz. Isso seria corroborado pelo aumento do emprego formal, de 1,796 milhão entre janeiro e outubro. Só contrata quem aposta num crescimento mais duradouro, avalia. Souza estima que a taxa de investimento tenha atingindo 19,9% do PIB no terceiro trimestre, a preços do trimestre anterior. "É uma recuperação substancial em relação à média de 2003, de 17,8%." O número, porém, ainda é baixo em relação a outros emergentes. Na Coréia do Sul, a taxa é de 26,5% do PIB. Para um crescimento sustentado e prolongado de 3,5% a 4%, alguns analistas estimam que a taxa tem de ficar na casa de 22% a 23%. O economista Juan Jensen, da Tendências, também foi surpreendido pela expansão do investimento. Ele esperava avanço de 15% na comparação com o mesmo trimestre de 2003, e o crescimento foi de 20,1%. Para Jensen, os dados indicam que a recuperação tem fôlego. "Os investimentos estão aumentando a capacidade produtiva, e são um argumento a mais para o BC considerar o fim do aperto monetário." Um dos motivos apontados pelo BC para justificar a alta da Selic é o risco de que a demanda esteja crescendo mais rapidamente que a oferta. Os economistas do WestLB também acreditam que a expansão do investimento ajuda "a reduzir constrangimentos de oferta e pressões inflacionárias nos próximos trimestres". Os números do IBGE mostram crescimento significativo da construção civil no terceiro trimestre, de 11,6% em relação ao mesmo período de 2003. Foi o maior entre os subsetores da economia, ainda que beneficiado por base de comparação fraca. Também é fundamental o aumento do consumo aparente de máquinas e equipamentos, que cresceu 20% no terceiro trimestre e deve fechar o ano com 12%, segundo Jensen. O indicador leva em conta a produção doméstica e as importações desses produtos, excluindo exportações. O economista-chefe da corretora Convenção, Fernando Montero, esperava um crescimento de 10,3% da FBCF no acumulado do ano, e o número oficial do IBGE ficou em 11,8%. Para ele, é sem dúvida uma boa notícia, por mostrar a expansão da capacidade de oferta na economia, mas que deve ser celebrada sem exageros. Será preciso verificar, por exemplo, se é uma tendência que se repetirá nos próximos trimestres. Montero lembra que a série de investimento foi revista para cima, o que o pode estar relacionado a mudanças nas ponderações dos seus componentes. O economista-chefe da MCM Consultores, Celso Toledo, diz que os números sobre investimento parecem positivos, por indicar que os ganhos de produtividade continuam em curso. Ele avalia, porém, que a cautela é importante, para verificar se o processo não se restringe a um trimestre.