Título: Genro deverá sair da coordenação política
Autor: Costa, Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 05/02/2007, Política, p. A7

Passada a disputa pelas presidências do Senado e da Câmara, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva retoma as consultas para a formação do novo ministério, a partir desta semana, com outra baixa definida no grupo que participa da "reunião das nove" no Palácio do Planalto, também chamada de coordenação de governo: o ministro Tarso Genro (Relações Institucionais) já avisou a seus assessores que não permanecerá no cargo. Antes dele, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, acertara com o presidente sua demissão até o próximo dia 15.

Se for convidado por Lula para assumir o lugar de Bastos na Justiça, Genro disse aos assessores que ficará no governo. Do contrário, sai porque considera encerrada sua missão com as eleições para as Mesas das duas Casas do Congresso e por considerar que não tem o perfil ideal para o cargo de coordenador político do governo - tratar do varejo das emendas de parlamentares ao Orçamento, por exemplo. Intelectual, avalia que a política deveria ser exercida em "um outro patamar", disse a assessores.

Na ótica de outros partidos da coalizão de governo, no entanto, a atuação de Tarso Genro em favor da candidatura do petista Arlindo Chinaglia à presidência da Câmara teria comprometido sua nomeação para a Justiça. O presidente teria outras opções para o ministro. O Ministério da Defesa seria uma delas. Além disso, o PMDB, por exemplo, acha que o perfil do novo ministro da Justiça deve mudar. O ideal seria alguém da área de segurança e com trânsito para fazer a intermediação com os Estados nessa questão.

Nesse figurino não cabem nem Genro nem o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Sepúlveda Pertence, o nome preferido de Thomaz Bastos. Mas cabe no de Michel Temer, atual presidente do PMDB e que já foi secretário de Segurança de São Paulo. O problema é que a Justiça não é o sonho de consumo dos pemedebistas, que preferem Pastas como a do Transportes ou a da Integração Nacional. É esse tipo de demanda que Lula deve começar a negociar esta semana com os partidos aliados. O presidente disse, sexta-feira passada, que não tem pressa para formar o novo ministério.

No Planalto, avalia-se que o anúncio do novo gabinete pode se dar somente após o Carnaval. Mas há setores que devem sugerir a Lula a aceleração do processo, de modo a recompor o mais rápido possível a coalizão de governo, que saiu trincada do processo eleitoral na Câmara. O ideal seria anunciar a equipe até o dia 15 para que iniciativas importantes do governo possam começar a ser tocadas no Congresso. As oito medidas provisórias e cinco projetos de lei que integram o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) são os exemplos mais citados. Mas até quarta-feira o presidente também deve sancionar a lei orçamentária e começar a definir o decreto de contingenciamento.

Nesse sentido, talvez esta semana sejam definidos os líderes do governo: Romero Jucá deve continuar no Senado, a senadora Roseana Sarney (PMDB-MA), e a da Câmara, vaga com a eleição de Chinaglia, está entre Beto Albuquerque (PSB), José Múcio Monteiro (PTB) e o deputado Henrique Fontana (RS), atual líder do PT. Beto cabe no figurino "mercúrio cromo", mas José Múcio fortaleceria os governistas do PTB em relação a ala do ex-deputado Roberto Jefferson, reforçada na sexta-feira com a filiação do ex-presidente Fernando Collor.

De acordo com os aliados, a recomposição da base governista não requer apenas "mercúrio cromo", como sugeriu o presidente. Além das feridas abertas, a candidatura Chinaglia tem vários "sócios-cotistas" que devem começar a apresentar a fatura. Um deles seria o deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), ao qual teria sido prometido um ministério. De início, Lula pensava que as situações de Geddel e do deputado Jader Barbalho (PMDB-PA) deveriam ser resolvidas pelos governadores que eles ajudaram a eleger - Jaques Wagner, na Bahia, e Ana Júlia, no Pará. Mas o fato é que as demandas do PMDB estão de novo em seu colo.

No trabalho de tentar recompor a coalizão, Lula deve insistir na oferta de um ministério para o deputado Aldo Rebelo, candidato derrotado pelo PT na Câmara. O comunista já anunciou que não aceita compensação, mas o presidente espera que o deputado pelo menos aceite indicar o nome de alguém ligado a ele - o PCdoB, partido de Aldo, já controla o Ministério dos Esportes. Aldo ou algum indicado seu teria de entrar na cota pessoal do presidente. Até porque o PT, vitorioso na Câmara, julga-se novamente forte para defender seus espaços no governo.

Em contraposição, Lula e os outros partidos da aliança, especialmente o maior deles, o PMDB, acham que o PT, com o terceiro cargo na linha de sucessão do presidente, deve de fato emagrecer na Esplanada dos Ministérios. Assim, haveria um lugar para Marta Suplicy, mas num ministério como o da Educação, hoje ocupado pelo partido.

Há outro petista na fila: o ex-governador do Acre Jorge Viana, cotado para a coordenação política. Mas o PMDB, que, em princípio, pretende confirmar seus atuais ministros - Hélio Costa, nas Comunicações, e Silas Rondeau nas Minas e Energia - acha que a "reunião das nove" deve ser ampliada com a presença dos principais partidos que integram a coalizão. Nem que para isso seja preciso seja necessária recriar a Secretaria de Comunicação Social nos moldes da que era ocupada pelo ex-ministro Luiz Gushiken, por exemplo.