Título: Bloco hegemônico no PT volta a se dividir
Autor: Vitale, Thiago
Fonte: Valor Econômico, 05/02/2007, Política, p. A8

A vitória de Arlindo Chinaglia (PT-SP) na eleição para a presidência da Câmara, apoiada em massa pelo partido, não deve pacificar as relações internas. Os integrantes do antigo Campo Majoritário do PT podem se dividir no Congresso Nacional do partido, em julho. Ex-presidente nacional do PT e ligado à ex-prefeita paulistana Marta Suplicy, o deputado estadual Rui Falcão prepara a apresentação de uma tese separada do restante do grupo hegemônico petista. No documento, além de uma reforma política, será pedido o encurtamento do mandato da atual direção do partido de setembro de 2008 para o final deste ano.

"No Congresso do partido, é preciso um redesenhar o Campo Majoritário, redesenhar uma nova maioria. Esta que está aí se esgotou", disse Falcão, que conta com o apoio do deputado federal eleito Cândido Vaccarezza (SP), também aliado de Marta e um dos principais articuladores da candidatura de Arlindo Chinaglia à presidência da Câmara. A distância do grupo em relação a Berzoini é antiga. Na eleição partidária em 2005, Falcão apoiou a candidatura de Valter Pomar, da Articulação de Esquerda.

A troca do comando partidário, prevista para acontecer só em setembro de 2008, coincidiria com o período eleitoral e tornaria a eleição interna inviável. A idéia de reduzir o mandato de Berzoini não é nova na legenda e já foi defendida até mesmo pelo próprio presidente do PT.Mas não há definição sobre a data da saída e muito menos sobre a substituição do dirigente.

O texto do grupo martista não é o único alternativo dentro do Campo Majoritário. Antagonista do domínio paulista sobre a direção partidária, o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, deve oficializar um documento com críticas à atual direção até quarta-feira.

Os aliados de Berzoini acreditam em uma composição futura. Apostam que a apresentação de teses agora serve para a demarcação de espaço no debate. "Estamos no início do processo e existe um intervalo entre os dois tempos do jogo", disse o secretário nacional de Organização da sigla, Gleber Naime.

O dirigente se referiu às novas regras para os encontros do partido: as teses partidárias não são o documento final que irá à votação no Congresso. Elas serão apresentadas até 7 de março, antes portanto da escolha dos delegados do encontro, em maio. Os delegados então irão reformulá-las, transformando-as em projetos de resolução.

"Isto significa que o nosso Campo pode apresentar duas, três ou quatro teses, que depois poderão ser unificadas em uma negociação",concluiu Naime. O texto do antigo Campo Majoritário se chamará "Construindo um Novo Brasil", que é o novo nome do grupo. Neste final de semana, os integrantes do Campo Majoritário reuniram-se em um hotel em São Roque, município vizinho à São Paulo, para começar a traçar a estratégia do bloco para o Congresso partidário.

O regulamento para o Congresso será votado na reunião do Diretório Nacional em Salvador, nos dias 9 e 10 deste mês. As regras já apresentadas pretendem evitar que grupos apresentem suas teses sem que façam uma articulação interna. Para ser homologado, o documento apresentado pelos grupos precisam ter pelo menos cinco votos da direção nacional e pelo menos o apoio de mil filiados, em diferentes Estados.

A reforma política deve ter papel central na tese do grupo martista, com a proposta do fim do poder revisor do Senado, voto em lista fechada, sem o ordenamento pela função parlamentar. O grupo irá propor também uma regra interna , limitando os petistas a uma reeleição por cargo eletivo, mesmo nas disputas proporcionais.