Título: Para o governo, mercado erra ao projetar IPCA maior em 2013
Autor: Safatle , Claudia
Fonte: Valor Econômico, 17/07/2012, Brasil, p. A2

Na avaliação do governo, o mercado está com um prognóstico inflado da taxa de inflação para o primeiro trimestre do próximo ano, de 1,8% conforme pesquisa do Banco Central. Essa seria uma das razões para a projeção do IPCA estar em 5,5%, um ponto percentual acima do centro da meta, para 2013.

Apesar de a expectativa do BC, no cenário de referência para 2013, projetar um IPCA de 4,9% para uma taxa Selic de 8,5% ao ano, a variação do IPCA não deve escapar da meta no ano que vem e o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), que começaria os dois primeiros trimestres em 4,6%, convergiria para o patamar de 4% nos trimestres seguintes, fechando o exercício muito próximo a essa performance.

O cenário externo continuará desinflacionário, as economias maduras vão crescer muito pouco em 2013 sobre uma base pequena de 2012, mas não se espera mais um acidente de percurso ou um evento dramático na zona do euro. O risco está se diluindo. Para a desaceleração da China, a estimativa é de pouso suave e crescimento ainda no patamar de 7%.

Nesse sentido, o BC coloca menor peso na crise externa hoje do que no seu balanço de risco do ano passado e dos primeiros meses deste ano. A grande incógnita é como o governo americano resolverá, em 2013, um problema fiscal que tem a dimensão de cerca de 4% do PIB e que terá que ter uma resposta do Congresso no início de 2013.

Para o governo brasileiro, a retomada do crescimento do país está contratada e o que ocorre é uma maior lentidão nos efeitos das medidas tomadas desde o ano passado, velocidade que teria sido afetada pelas imensas incertezas externas.

Com taxas de juros reais bem mais baixas, desvalorização do câmbio, pleno emprego, crescimento da massa salarial, novas concessões de serviços públicos para o setor privado e redução da inadimplência a partir do último trimestre deste ano, há um novo mix de política macroeconômica e chances reais de a economia brasileira começar a entrar num ciclo de retomada da expansão da atividade. Esse ciclo - e vigorando um novo mix de política macroeconômica - seria puxado pelo aumento moderado do consumo - possível a partir da diminuição das taxas de inadimplência - e do investimento.

Com a taxa Selic na casa dos 7%, avaliam fontes do governo, abrem-se novas oportunidades no mercado de capitais, sobretudo para colocação de papéis de renda fixa do setor privado. Discute-se, também, a desindexação da indústria de fundos DIs para algo na linha de taxas de juros flutuantes.