Título: Roseana caminha para o terceiro mandato no MA
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 29/09/2006, Política, p. A17

Com pouco mais de 40% das famílias maranhenses (720 mil) recebendo mensalmente o Bolsa-Família, não é à toa que todos os candidatos ao governo do Estado procurem associar-se à imagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, adorado pelos eleitores do interior. Nas pequenas cidades do Maranhão, a crise do dossiê é vista pelos eleitores como "mais uma confusão deles lá". O argumento usado pelo presidente, de que a oposição quer "melar a eleição", é aceito pelos eleitores, que vêem Lula como "perseguido pelas elites", nas palavras do governador José Reinaldo Tavares (PSB).

Temendo a aliança entre o ex-presidente José Sarney e o presidente Lula, o governador pediu que não houvesse visita ao Estado. "Pelo menos conseguimos isso, porque senão o Sarney ia se apossar dele", diz. Ex-aliado da família Sarney, Tavares rompeu com Roseana há pouco mais de dois anos. A senadora, que deve conquistar o terceiro mandato de governadora, recebeu a visita do candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, em sua casa na praia do Calhau, e reclamou da forte oposição do PSDB regional, que tem candidato próprio ao governo do Estado. Alckmin não fez campanha com Roseana. Mas a neutralidade de Lula na disputa estadual não foi suficiente para garantir um segundo turno aos candidatos do governo. Em entrevista na varanda de sua casa, de frente para o mar na praia de São Marcos, Tavares credita parte da dificuldade de crescimento dos candidatos - ainda que apoiados pelo governo estadual - ao controle pela família de veículos de comunicação no Estado.

A eleição de Roseana para o terceiro mandato de governadora marcará 40 anos de poder da família Sarney no Maranhão, desde a entrada do ex-presidente José Sarney no governo estadual em 1966. Segundo a última pesquisa de opinião feita pelo Ibope, contratada pela TV Mirante, repetidora da Globo no Maranhão, e divulgada em 13 de setembro, Roseana perdeu 6 pontos percentuais, mas deve ganhar no primeiro turno, com 60% das intenções de voto. O segundo colocado é Jackson Lago (PDT), com 25%, seguido pelo ex-presidente do Tribunal Superior de Justiça, Edson Vidigal (PSB), com 7%, e Anderson Lago (PSDB), com 1% - os três são apoiados pelo governador.

A reta final da campanha, como é tradição no Maranhão, está agitada por acusações mútuas, denúncias de compra de votos e de manobras de última hora. Um pedido de impugnação da candidatura de Roseana por falta de atribuição de valores aos bens declarados à Justiça Eleitoral acabou sendo rejeitado pelo TSE.

O procurador da República no Maranhão, Juracy Guimarães, propôs ontem duas ações para cassação de registro das candidaturas de José Sarney Filho a deputado federal, pelo PV, por abuso de poder econômico, e de Afonso Manoel Duailibi (estadual pelo PSB), marido da secretária de Saúde do governo José Reinaldo, Helena Duailibi, por uso da máquina estadual na campanha.

Também provoca discussões uma operação da Polícia Federal para cumprimento de mandados judiciais de busca e apreensão de equipamentos de rádios e emissoras de TV, que tinham irregularidades em suas concessões no interior do Estado. A apreensão ocorreu no dia do debate entre os candidatos a governador, ao qual Roseana não compareceu.

A campanha da senadora acusa os candidatos do PSB e do PDT de manipular pesquisas de opinião e contratar institutos pouco conhecidos. A queda de um helicóptero alugado pelo governador para visitar o interior aumentou a tensão nas campanhas de candidatos ligados a ele, que tentaram vincular o acidente à disputa eleitoral.

Proporcionalmente, os escândalos pré-eleitorais de 2006 são mais brandos que em 2002. No primeiro semestre daquele ano a PF apreendeu R$ 1,3 milhão em dinheiro na sede da empresa Lunus, de propriedade do marido da então governadora Roseana Sarney. A operação acabou inviabilizando a pré-candidatura de Roseana à Presidência da República.

Os eleitores maranhenses acompanham com atenção a acirrada disputa entre José Sarney e Cristiana Almeida pela cadeira no Senado pelo Amapá. Uma eventual derrota do ex-presidente terá grandes conseqüências políticas para o Estado.