Título: 22 mortes causadas pela superbactéria
Autor: Sacramento, Mariana
Fonte: Correio Braziliense, 10/11/2010, Cidades, p. 29

Segundo a Secretaria de Saúde, em 15 dias, mais quatro vítimas entraram para as estatísticas

Em duas semanas, subiu de 18 para 22 o número de pessoas mortas com a superbactéria em hospitais públicos e privados do Distrito Federal. De janeiro até a última sexta-feira, já foram registrados 207 casos de contaminação, dos quais 54 evoluíram para um quadro infeccioso. Atualmente, 64 pacientes portadores da Klebsiella pneumoniae carbapenemase (KPC) permanecem internados, sendo 12 com a infecção. A presença da KPC foi constatada em 20 estabelecimentos de saúde ¿ oito públicos e 12 privados. O avanço e a potencialidade do micro-organismo preocupam especialistas.

¿A situação, como já era previsto, é grave¿, reconhece a presidente do Comitê Gestor Central, criado para controlar o surto da KPC no DF, a enfermeira Ariany Gonçalves. Segundo ela, apesar do aumento de mortes e do avanço de casos de contaminação, medidas de contenção estão sendo tomadas, tanto nas unidades públicas como nas particulares. ¿A rede pública estava carente de insumos usados para o controle da bactéria, mas os materiais já estão sendo distribuídos para todas as unidades. Essa medida ajudará a conter o surto¿, reforça.

No último boletim, divulgado ontem, chamou a atenção o número de estabelecimentos privados que detectou a presença da superbactéria, que saltou de 9 para 12. ¿Os hospitais particulares têm criado protocolos para controlar a KPC. A infecção hospitalar é inerente ao cuidado da saúde, o que a gente preconiza é minimizar as consequências¿, afirma Ariany.

Surto Segundo ela, não há previsão para o fim do surto que tomou os hospitais do DF e preocupa a população. ¿É muito difícil dizer se vai acabar. Esperamos que não se transforme em uma endemia. Atualmente, os casos estão dentro do padrão de um surto. O que a gente espera é que o número de casos aumente menos, em termos proporcionais¿, analisa. Ariany avisa que a contaminação ainda não atingiu o seu ápice. ¿Como essa é uma bactéria nova, não sabemos como ela se comporta nem quando esse pico vai chegar¿, diz. Para o infectologista Francisco Aoki, professor de medicina da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o que preocupa é a capacidade que a superbactéria tem de produzir graves infecções em vários órgãos do corpo humano. Aliado a isso, segundo o especialista, existe o agravante de ela ser resistente a vários tipos de antibióticos.

Atualmente, o tratamento é feito com três drogas, que são usadas em combinações, de acordo com a infecção do paciente. ¿Mas a pessoa pode ser portadora e não desenvolver a infecção¿, ressalta. O especialista acredita que o avanço dos casos no DF está relacionado ao aumento de diagnósticos feitos para identificar a bactéria.

A falta de informação sobre a superbactéria ainda preocupa moradores da capital da República, principalmente aqueles que têm familiares internados em Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs). A bactéria se desenvolve principalmente em pessoas debilitadas ou com doenças graves. Sempre que a vendedora Marinalva Alves dos Santos, 37 anos, vai visitar o enteado, que está internado no 4º andar do Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF), ela teme o contágio. ¿No último domingo, meu rosto começou a coçar. Pensei que poderia ser essa tal bactéria. Mas passei uma pomada e melhorou¿, conta a moradora de São Sebastião. No HBDF, o número de visitantes foi reduzido visando um maior controle do surto.