Título: FMI vê expansão global fraca pelo menos até 2013
Autor: Ribeiro , Alex
Fonte: Valor Econômico, 17/07/2012, Internacional, p. A9

O Fundo Monetário Internacional (FMI) cortou a sua previsão para o crescimento econômico mundial deste e do próximo ano, refletindo os efeitos do recente agravamento da crise da Europa e a desaceleração mais forte do que a prevista das principais economias emergentes.

Segundo a revisão do relatório "Panorama Econômico Mundial", divulgada ontem, a economia global deverá apresentar um crescimento de 3,5% em 2012, queda de 0,1 ponto percentual em relação ao previsto na edição anterior, de abril. A expansão estimada para 2013 é de 3,9%, ou 0,2 ponto percentual menor.

O economista-chefe do FMI, Olivier Blanchard, disse que a revisão foi pequena, diante do recente agravamento do ambiente econômico mundial, apenas porque o FMI já tinha uma projeção bastante conservadora. Além disso, disse, a economia mundial se saiu melhor do que o esperado no primeiro trimestre, compensando um pouco o fraco crescimento do segundo trimestre.

Segundo o Fundo, uma série de fatores de riscos pode minar essa já fraca recuperação econômica, entre eles um eventual agravamento na crise da Europa e possível impasse nos Estados Unidos em torno do chamado "penhasco fiscal", como ficou conhecido um conjunto de medidas de corte de gastos e aumento de impostos que entram em vigor em 2013.

Os emergentes, diz o relatório, devem crescer 5,6% neste ano, queda de 0,1 ponto percentual em relação à projeção anterior. Mesmo assim, o FMI acredita numa retomada econômica desses países. "Em geral, esperamos que os emergentes sejam capazes de fazer um pouso suave de suas economias, mas para crescimento mais baixo do que vínhamos observando na última década", disse Blanchard.

Para a China, a expectativa do FMI é uma expansão do Produto Interno Bruto (PIB) de 8% em 2012. É um percentual menor do que os 8,2% previstos no relatório de abril, mas ainda assim mais otimista do que a faixa entre os 7% e 7,5% com que grande parte do mercado financeiro trabalha.

No caso do Brasil, o FMI cortou de 3,1% para 2,5% sua projeção de crescimento para 2012, mas aumentou de 4,1% para 4,6% sua projeção para 2013. Nos dois casos, o Fundo está mais otimista do que o mercado financeiro brasileiro, que aposta em 1,9% para 2012 e 4,1% para 2013.

Segundo o FMI, a desaceleração dos emergentes se deveu ao aperto monetário e uso de políticas macroprudenciais em vários países, incluindo China e Brasil, voltados a combater sinais de superaquecimento e evitar desequilíbrios causados pela forte expansão de investimento e de crédito. "Muitos desses países tem espaço para estimular as suas economias", disse Blanchard.

Mas há uma parte da desaceleração econômica que tende a ser mais duradoura, pois está ligada à crise nas econômicas avançadas, que reduziu a demanda por exportações de países emergentes, e ao esgotamento do ciclo de crédito.

O Brasil foi o único país entre as grandes economias avançadas e emergentes que teve o crescimento do PIB para 2013 revisto para cima pelo FMI. A aposta do FMI é que as medidas de estímulo vão fazer efeito, levando a economia crescer a uma velocidade de 4% no último trimestre deste ano, comparado a igual período do ano passado.

Num outro relatório divulgado ontem sobre estabilidade financeira, o FMI volta a alertar para vulnerabilidades acumuladas em países emergentes nos últimos anos pelo rápido crescimento de crédito. "Elas podem em algum momento desencadear um significativo aumento da inadimplência", disse o conselheiro financeiro do Fundo, José Viñals. "Desaceleração econômica impõe riscos para a estabilidade financeira em países como Brasil, China e Índia."

Num terceiro relatório divulgado ontem, o "Monitor Fiscal", o Fundo disse "não ver problemas até agora" com a ligeira piora no déficit público de algumas economias emergentes, que reflete sobretudo o enfraquecimento da economia. Para o Brasil, o FMI projeta uma queda do déficit nominal de 0,6 ponto percentual do PIB, para 1,5% do PIB, devido aos efeitos positivos nos encargos da dívida pública do corte dos juros básicos feitos pelo Banco Central.