Título: Para Palocci, investimento garante ciclo sustentável
Autor: Rodrigo Bittar e Mônica Izaguirre
Fonte: Valor Econômico, 01/12/2004, Brasil, p. A4

O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, comemorou os dados relativos ao Produto Interno Bruto (PIB) do último trimestre, divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), especialmente pelo fato de o resultado estar sendo obtido com um nível de investimento "duas vezes" superior à recuperação da renda e sem "mágicas no processo" ou "características exóticas". Palocci considera que o atual nível de investimentos na economia é um fator determinante para dar "sustentabilidade" à recuperação e garantir um crescimento de longo prazo. "Isso mostra que o crescimento é definitivamente consistente com o ambiente de sustentabilidade", resumiu. Com um nível de investimentos superior à renda, a pressão inflacionária futura tende a arrefecer, uma vez que há sinais claros de que a oferta será superior à demanda interna. Se fosse o contrário, o Banco Central seria forçado a elevar a taxa de juros para conter o consumo e o aquecimento inflacionário. Para o ministro, a variação de 6,1% sobre o terceiro trimestre de 2003 é especialmente "vigorosa" porque acontece com a combinação de três elementos "essenciais" para dar sustentabilidade de longo prazo: comportamento fiscal consistente, controle da inflação e contas externas fortalecidas. Palocci também comemorou o fato de o IBGE ter revisto a variação do PIB de 2003, de uma queda de 0,2%, divulgada anteriormente, para um crescimento de 0,5%. "O custo do grande ajuste que fizemos em 2003 foi menor do que os primeiros números previam, e isso tem dois fatores importantes", detalhou o ministro. O primeiro, segundo explicou, é que o país conseguiu passar pelo processo de ajuste macroeconômico sem uma perda de PIB, enquanto outros países que fizeram ajuste semelhante apresentaram expressivas quedas no produto. "Isso mostra o vigor da nossa economia", declarou. O segundo item, continuou o ministro, é o fato de que, havendo crescimento econômico em 2003, "as bases pelas quais o PIB evolui neste ano são mais sólidas, ou seja, o crescimento de 2004 é mais vigoroso do que foi previsto anteriormente". Palocci destacou a característica "clássica" e "sem mágicas" do crescimento verificado no último trimestre, porque foi baseado em regras tradicionais, testadas internacionalmente. Segundo ele, o governo está comprometido com a responsabilidade macroeconômica, mas não procura "crescer por crescer". O desafio, citou o ministro, é fortalecer o quadro econômico com base na inclusão social e na melhoria da distribuição de renda. "Vamos continuar perseguindo medidas que gerem emprego, como fizemos na construção civil", salientou. O desempenho positivo verificado na construção civil é considerado simbólico pelo governo pelo fato de ser um setor que obteve um foco especial nas políticas microeconômicas desenvolvidas nos últimos dois anos. Para continuar o processo, o ministro defendeu, entre outras mudanças, a reforma do sistema brasileiro de defesa da concorrência, a aprovação dos projetos das agências reguladoras e da Lei de Falências. O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, aproveitou sua ida ao Congresso, ontem, para fazer uma enfática defesa do sucesso da política econômica que vem sendo implementada pelo Governo Lula. Munido de muitos números, ele procurou demonstrar que, além de melhorar os fundamentos da economia, o governo conseguiu colocar o país numa rota sustentável de crescimento, com recuperação de emprego e renda. "O Brasil não está no primeiro passo e sim em pleno caminho de melhora da renda da população", afirmou. Durante todo o depoimento e também na fase do debate, o presidente do BC usou e abusou da palavra "sucesso" para se referir aos efeitos da política econômica. Citou, entre outros resultados, a redução da taxa de risco país, com conseqüente recuperação da credibilidade do Brasil perante mercado internacional; o ajuste das contas externas, graças ao elevado saldo comercial e a reversão do rombo na conta de transações correntes com o exterior; redução do endividamento público como proporção do PIB. Foi no crescimento sustentado da economia, no entanto, que ele insistiu.