Título: Tesouro admite abrir captação para o BID
Autor: Bautzer, Tatiana
Fonte: Valor Econômico, 05/02/2007, Finanças, p. C1

Depois de autorizar a International Finance Corporation (IFC) a lançar um título em reais no mercado local, o Tesouro Nacional está "disposto a analisar" pedidos de outras instituições multilaterais como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) interessadas em operações semelhantes. O Tesouro negou autorização ao BID nos últimos dois anos. O banco já vendeu dois bônus no mercado externo denominados em reais, e está avaliando os primeiros empréstimos em moeda local. "Tivemos consultas há algum tempo, e avaliamos que as emissões dessas multilaterais não contribuiriam para desenvolver o mercado local e poderiam até competir com o Tesouro Nacional", diz o secretário-adjunto Paulo Valle. A última consulta foi feita há pouco mais de um ano pelo BID. "Na época ainda estávamos no processo de melhora do perfil da dívida, aumentando a participação prefixada. Mas agora o momento é diferente, a dívida pública já tem um perfil mais estável. Tanto é que o Conselho Monetário Nacional autorizou um limite para a venda de papéis no mercado interno pela IFC", afirma Valle. A IFC espera autorização da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para vender R$ 200 milhões em títulos de investimento coletivo. A autorização para novas operações seria dada caso a caso, diz o secretário-adjunto do Tesouro.

Os primeiros empréstimos em reais do BID, ainda em análise, seriam para municípios no programa Procidades, que prevê crédito total de US$ 800 milhões. A instituição também está avaliando a conversão em reais parte de um crédito de US$ 919 milhões concedido ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para financiamento a pequenas e médias empresas, segundo a consultora do Departamento de Mercado de Capitais do BID, Claudia Franco. Como a IFC, o BID criou um programa específico para incentivar mais operações em moedas locais. Cerca de 10% do total de dívida do BID já é captada em moedas de países da América Latina, segundo o chefe da área de "funding", Esteban Molfino. O primeiro bônus em reais foi vendido em 2004. Há pouco duas semanas, foi feita a segunda operação, de R$ 175 milhões no exterior. A instituição pagou cupom de 10,75% pelo prazo de quatro anos.

É um custo extremamente alto para uma instituição que tem risco internacional "triplo A". Segundo Molfino, "o investidor internacional em reais não diferencia muito o risco de crédito", e mesmo instituições multilaterais com risco praticamente zero arcam com custos semelhantes aos da República brasileira. Na sexta-feira, o banco de fomento alemão KfW (Kreditanstalt fuer Wiederaufbau) elevou o total de uma emissão prevista no mercado internacional de R$ 65 milhões para R$ 85 milhões. O prazo é 4 anos e o cupom, 11%.

"Em geral, o comprador de papéis em reais no exterior está apostando na valorização da moeda e não paga um prêmio pelo risco triplo A", afirma o diretor do BID. A curva de juros de longo prazo em reais tem liquidez em pontos isolados, como o prazo de 10 anos.

Molfino acha que emissões no mercado local ofereceriam alternativas de diversificação a investidores institucionais brasileiros, o que poderia reduzir o custo de captação do BID diretamente em reais. Hoje a instituição faz "swap" para dólares para reduzir o custo.