Título: Cenário externo ditou ritmo forte do PIB
Autor: Raquel Salgado
Fonte: Valor Econômico, 01/12/2004, Brasil, p. A4

O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano se mostrou muito mais robusto do que a expectativa dos analistas no final do ano passado, que rondava a casa dos 3,5%, por uma convergência de vários fatores: bom desempenho da economia internacional, recuperação generalizada da demanda doméstica, além da elevação dos preços das commodities no mercado externo. Segundo analistas, o fator que mais pesou para um desempenho do PIB acima do esperado foi o cenário externo, com aquecimento das economias do Estados Unidos, Europa e Japão, e com a continuidade do crescimento da China. Segundo o FMI, o comércio mundial deve crescer 17%, em média, no biênio 2003-2004, bem acima da média de 5,5% dos últimos dez anos. E esse vigor reflete diretamente nas exportações brasileiras. Alexandre Bassoli, economista-chefe do HSBC Investment Bank, projeta o que considera "uma extraordinária expansão" de 30% nas exportações. No final de 2003, de acordo com pesquisa do Banco Central, analistas esperavam um saldo comercial de US$ 19 bilhões. Hoje, este número já chega a US$ 33 bilhões. Para ele, esse superávit maior explica a elevação das expectativas de um PIB entre 4,5% e 5%, ante uma previsão anterior próxima a 3,5%. No entanto, a história deve ser um pouco diferente no próximo ano. O dinamismo do comércio internacional já não será o mesmo. Bassoli prevê um incremento de 8% na média mundial. Além disso, a vantagem trazida ao Brasil pela valorização das commodities perderá intensidade. Ao mesmo tempo, com a melhora dos níveis de emprego e renda, o mercado doméstico ganhará maior participação no crescimento da economia brasileira. O economista Fábio Silveira, da MS Consult espera um avanço de 3,5% no PIB do ano que vem. E lembra que a taxa marginal de crescimento dos setores indústriais ligados à melhora da renda, como os de produtos semi e não-duráveis será superior àquela apresentada pelo ramo dos duráveis. O coordenador do grupo de conjuntura do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Francisco Eduardo Pires de Souza, revisou sua expectativa de crescimento de 5% para 5,3% neste ano. Para o quarto trimestre, ele acredita numa expansão de 0,9% em relação ao terceiro, com ajuste sazonal. A projeção para o ano que vem foi mantida em 4%, mas a trajetória é diferente da esperada anteriormente. Com o ciclo de alta dos juros, ele acredita que o PIB deve desacelerar no primeiro trimestre de 2005, voltando a crescer a seguir. Mas há um fator novo: com o crescimento mais forte neste ano, Souza estima que, mesmo se a atividade econômica ficar estacionada por todo o ano que vem no nível a ser registrado no fim de 2004, o PIB avançaria 1,6% em 2005. Fernando Montero, economista-chefe da corretora Convenção , ressalta que a revisão do IBGE não se restringiu apenas à variação do PIB de 2003, que passou de -0,2% para 0,5%. O primeiro trimestre deste ano foi de um resultado de 5,43%, contra igual período de 2003 para 6,09%, representando um ganho total de 1,14 ponto percentual. Ele ressalta que, mesmo se o PIB não crescer nada no quarto trimestre, já está garantido um crescimento de 5% neste ano. O economista-chefe da MCM Consultores, Celso Toledo, prevê uma expansão um pouco inferior a 5% neste ano e de 3,5% em 2005. Para ele, o desempenho do biênio 2004 e 2005 é bastante razoável, especialmente em comparação ao passado recente.