Título: Previ utiliza superávits para reduzir juro atuarial
Autor: Vieira, Catherine
Fonte: Valor Econômico, 05/02/2007, Finanças, p. C9

O presidente da Previ, Sérgio Rosa: "Temos agora a Selic mais baixa e as projeções dos analistas são de juros menores no futuro; é o momento de ser conservador Com a intenção de aproveitar a bonança para enfrentar melhor eventuais tempestades futuras, a Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, decidiu usar R$ 1,5 bilhão do superávit acumulado para tornar mais conservadora sua previsão de taxa de juro para o futuro. A entidade reduziu de 6% para 5,75% o chamado juro atuarial que, somado ao índice de inflação definido - no caso o INPC - resulta na chamada meta atuarial. Maior fundo da América Latina, a Previ já tem patrimônio superior a R$ 100 bilhões. O superávit acumulado deve fechar 2006 em cerca de R$ 30 bilhões, segundo projeções dos dirigentes.

A redução do juro atuarial é vista pela Secretaria de Previdência Complementar como uma medida de conservadorismo. Isso porque o juro atuarial tem impacto direto sobre o passivo do fundo. A redução da taxa projetada eleva a reserva que o fundo deve ter para honrar seus compromissos futuros e isso começa a ter impactos já no presente.

O presidente da Previ, Sérgio Rosa, disse que está aproveitando os bons resultados, de quatro anos seguidos de superávit, para formar um colchão de segurança. "Temos agora a Selic mais baixa do histórico e as projeções dos analistas são de juros menores no futuro, então acreditamos que é um momento de ser conservador. Além disso, estamos nas vacas gordas, é o momento de ser mais previdente para o futuro", diz ele, não sem conhecimento de causa, já que quando chegou ao fundo, ainda como diretor, a Previ amargava déficit.

A redução também tem teoricamente um impacto positivo para a gestão de ativos, já que poderia ficar mais fácil bater uma meta menor em 0,25 ponto percentual. "Mas não pretendemos encarar dessa forma, vamos continuar trabalhando para obter a melhor rentabilidade dentro das condições do mercado e do nosso perfil", diz Rosa. Ele admite porém, que no futuro, com redução do juro real, tende a ser cada vez mais difícil a obtenção de ganhos de 6% de rentabilidade acima da inflação.

A redução do juro atuarial, que já vinha sendo praticada por fundos de empresas multinacionais pode se tornar tendência também entre os fundos maiores, ligados a estatais. A Eletros, fundo do sistema Eletrobrás, também já reduziu de 6% para 5,5% o juro atuarial em 2006. Segundo o diretor de assuntos econômicos da SPC, Ricardo Pena, esse movimento é muito positivo. "Para se ter uma idéia, a redução de um ponto percentual do juro atuarial implica num aumento de custo de 25% para o fundo", afirma. "Ou seja, se o fundo não tiver um bom superávit para absorver a mudança, isso implica um aumento de 25% da contribuição".

Segundo Pena, nos últimos quatro anos, nos quais a maioria dos fundos obteve superávit, uma série de premissas que têm impacto sobre a contabilidade vêm sendo revisadas para que fiquem mais adequadas e não gerem descasamentos no futuro. "O primeiro ano ainda foi de reversão dos déficits, no segundo muitos fundos já aproveitaram para atualizar as tábuas atuariais, que indicam a longevidade dos aposentados", lembra. Premissas como inflação projetada e taxa de rotatividade de funcionários também têm impacto sobre a contabilidade dos fundos de pensão. Quanto mais conservadoras as projeções mais protegido o fundo fica, mas as reservas a manter também são maiores.