Título: Preço médio sinaliza recuo de 16% no ano
Autor: Ribeiro , Ivo
Fonte: Valor Econômico, 18/07/2012, Empresas, p. B7

Os bons tempos para os preços do minério de ferro parecem ter acabado em 2011. Foi quando as cotações do produto atingiram a média de US$ 168 a tonelada no mercado internacional, pico médio nunca antes visto na indústria de mineração da principal matéria-prima do aço. Estudo da LCA Consultores aponta para 2012 uma queda de 16% na cotação comparada com a média obtida ao longo do ano passado.

Essa reversão da alta interrompe uma escalada que teve início em 2005 e não foi interrompida nem mesmo pela crise oriunda da quebra do Lehman Brothers em setembro de 2008. O cenário atual tem como pano de fundo a desaceleração econômica da China, país que é o maior importador da matéria-prima para suprir os altos-fornos de sua gigantesca indústria do aço, e a crise que assola os países da Eurozona.

Na União Europeia, o consumo aparente de aço vai cair 9% neste na comparação com 2011, informou esta semana relatório da Eurofer, entidade que reúne as siderúrgicas e processadoras de aço de 27 países. A perspectiva é que a retomada só ocorra a partir do segundo trimestre de 2013.

Metade das exportações brasileiras do produto em 2011 teve como destino o mercado chinês

Wermesson França, economista da LCA, informa que todas essas notícias têm contribuído para manter o preço do minério de ferro em um patamar que varia de US$ 130 a US$ 140 a tonelada negociada no mercado spot chinês. A referência de preço desse mercado é o produto com teor metálico de 62%. O minério brasileiro, com 65% e 66%, é negociado com prêmio.

A consultoria projeta preço médio para este ano de US$ 140 por tonelada. É um valor inferior aos US$ 147 de dois anos atrás, mas ainda bem acima dos US$ 80 de 2009, quando houve a depressão da economia mundial. A China segurou parte do impacto da crise sobre o setor.

O estudo detalha informações entre janeiro e maio, abrangendo dados de produção de minério e de produtos siderúrgicos no Brasil. Ele atribui desempenho negativo do mercado no período, para o minério de ferro, devido à menor demanda externa - redução do ritmo de embarques para a China e recuo nas vendas para consumidores da matéria-prima na União Europeia e Japão.

Metade das exportações brasileiras do produto no ano passado teve como destino o mercado chinês. A Europa ficou com 19%, seguida pelo Japão, com 11%. Os embarques para a China de janeiro a maio, conforme dados compilados pela LCA, subiram 2,9% na comparação entre períodos. A média de 2011 mostrou aumento de 7,8%. Para Europa e Japão verificou-se recuo de 20% e 8,6%, respectivamente neste ano, até o mês de maio.

Outro fator que deve afetar as vendas brasileiras no ano são os problemas de extração e transporte do produto enfrentados por mineradoras locais, principalmente Vale, CSN e sua controlada Namisa. Isso se deveu às intensas chuvas na virada do ano e em parte do primeiro trimestre.

O Brasil é o segundo maior produtor mundial de minério de ferro, ficando logo atrás da Austrália. Das cinco grandes produtoras e exportadoras mundiais, uma é a brasileira Vale, líder absoluta, e três são australianas: Rio Tinto, BHP Billiton e Fortescue.

A expectativa para o restante do ano, na visão da LCA, é que a demanda por minério de ferro permaneça retraída devido ao cenário externo conturbado da economia, tanto pelas incertezas sobre uma solução rápida para a crise na Eurozona, quanto pelo esfriamento da economia chinesa, cujo PIB do trimestre passado veio com 7,6% de alta.

"Ao sair de um patamar de 10% a 12% de crescimento anual para 7% a 8%, a China, como maior demandante de matérias-primas, tem uma grande influência no comportamento dos mercados", afirmou França. Com isso, acrescentou o economista da LCA, parece pouco provável uma rápida recuperação do preço do minério de ferro.

No estudo, a LCA prevê que a produção de minério de ferro do Brasil deverá crescer 2% neste ano, ainda assim um percentual inferior ao aumento de 4% verificado em 2011. Até abril, o volume extraído teve recuo de 2,8%, para 158 milhões de toneladas, conforme dados do IBGE. Já as exportações somaram 121 milhões de toneladas (números da Secex) até maio, com retração de 1% sobre igual período do ano passado.

O economista ressalta que a situação da mineração é melhor que a de siderurgia no Brasil, que vem com desempenho fraco até junho: a produção de aço caiu a partir de abril. Em junho, fechou com queda de 8,5% sobre um ano atrás.

Olhando pelo lado da demanda, o segmento de aços planos sentiu a desaceleração da economia brasileira. Depende muito do setor automotivo (fabricação ainda em queda), de bens eletrodomésticos e da fabricação de máquinas e equipamentos. Por sua vez, aços longos mostrou até agora melhor desempenho, com sustentação da construção civil.

Para a LCA, a demanda seguirá fraca no restante do ano, mas espera desempenho melhor neste semestre por conta das medidas do governo de estímulo à economia. Até junho, o consumo aparente no país foi de 12,9 milhões de toneladas, com alta de 2,5%, segundo o Instituto Aço Brasil.