Título: FMI está 'excessivamente exposto' à UE
Autor: Moreira , Assis
Fonte: Valor Econômico, 18/07/2012, Finanças, p. C12

O Fundo Monetário Internacional (FMI) já está "excessivamente exposto" ao euro e à União Europeia (UE) e qualquer ajuda adicional de emergência contra a crise para países da região deveria ser "muito modesta".

Essa é a visão pessoal de Paulo Nogueira Batista Júnior, que é diretor-executivo do Brasil e mais oito países no FMI, em meio ao sentimento crescente nos mercados financeiros de que a deterioração econômica de Espanha e Itália poderá exigir pacote bilionário de ajuda internacional para a terceira e quarta maiores economias da zona do euro.

Ele nota que países da UE já respondem por 73% das dívidas com o Fundo. Somente Portugal, Grécia e Irlanda acumulam 54% das dívidas dos países membros. "O FMI já está excessivamente engajado lá."

A crescente percepção de que o fundo anticrise europeu não será suficiente para apoiar a Espanha e a Itália fez os juros sobre os títulos soberanos baterem recordes de 7,15% e mais de 6%, respectivamente, em meados de junho.

Nesse cenário, uma questão que começa a pesar também sobre a economia mundial é se haverá recursos suficientes e rápidos do FMI para ajudar espanhóis e italianos.

Ainda mais que, para certos analistas, a Espanha terminará recorrendo a um pacote de ajuda internacional no ano que vem, se não antes. Consideram que o pacote de até € 100 bilhões para o setor bancário e a decisão europeia para permitir que o fundo anticrise recapitalize diretamente os bancos da zona do euro, não resolvem os problemas econômicos do país.

A Espanha continuará em recessão em 2013. O ajuste fiscal prossegue, sendo o último de € 65 bilhões, com corte na ajuda a desempregados e alta do imposto indireto (IVA). Combinado com deficiências estruturais, a conclusão é que alcançar as metas para redução do déficit público, mesmo com um ano a mais dado pela UE, não será fácil. E tudo isso leva à necessidade de dinheiro adicional.

A Itália também é vista como "na zona de risco". A rápida deterioração das perspectivas econômicas e crescentes incertezas políticas dificultam as metas fiscais e a espiral da dívida tende a aumentar. Para reduzir o déficit a um nível sustentável, Roma teria que receber ajuda externa cedo ou tarde.

Também é considerado provável um segundo pacote de socorro para Portugal, quando o primeiro expirar, diante de sua fragilidade econômica crônica para se financiar.

Sem surpresa, Nogueira Batista diz que a crise do euro domina as discussões no FMI, pois "não está resolvida, longe disso, e tem capítulos importantes". Mas é enfático sobre futuros pacotes para a zona do euro, reiterando que fala em nome pessoal.

"O ônus de prover financiamento de emergência para o euro e a área da UE tem que ficar sobretudo com os governos europeus", diz ele. "A situação do fundo já é problemática com essa crise na Europa."

Juntas, Espanha e Itália têm uma dívida pública de € 2,8 trilhões (ou US$ 3,6 trilhões). Muitos analistas econômicos acham que essas duas economias são grandes demais para serem resgatadas pelo FMI ou por fundos europeus.

Nos últimos meses, a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, fez uma cruzada pessoal para levantar US$ 456 bilhões junto a alguns dos principais sócios do organismo para criar uma "muralha de proteção" que evite um maior contágio da crise dentro da própria Europa e fora dela. Com essa injeção de recursos, o poder de fogo do FMI praticamente dobrou, para perto de US$ 900 bilhões.

Será muito difícil para o FMI levantar mais recursos, caso necessário. Os Estados Unidos se recusaram a contribuir, com o argumento de que a Europa é rica o suficiente para resolver seus problemas. Países emergentes como China, Brasil, Índia e Rússia só aceitaram contribuir com o compromisso de avançar a reforma de poder no Fundo. Os avanços, porém, têm sido muito lentos.

Sobre o Brasil, ele observa que a avaliação do FMI é favorável ao país, com expectativa de recuperação no segundo semestre, mas dependendo do que ocorrer na zona do euro. ""Acredito que medidas tomadas nas áreas creditícia, fiscal e monetária vão gerar crescimento, a menos que haja uma catástrofe na área do euro. Aí o Brasil vai também ser atingido", afirma.