Título: Custo do investimento é o menor desde 1999
Autor: Villaverde , João
Fonte: Valor Econômico, 19/07/2012, Brasil, p. A4

O custo do investimento no Brasil é o menor desde 1999. Segundo estudo do secretário de Política Econômica (SPE) do Ministério da Fazenda, Márcio Holland, o preço relativo dos investimentos caiu 2,81% entre 2010 e 2011, terminando, no ano passado, no menor patamar em 12 anos. De acordo com Holland, as medidas de desoneração tributária tomadas pelo governo neste ano somadas à redução dos juros continuaram reduzindo o preço relativo dos investimentos em 2012.

O secretário acredita que, a despeito da crise externa e dos indicadores de queda de confiança, o país está na "iminência de um novo surto de investimentos na economia, uma vez que os empresários estão, neste momento, apenas aguardando a consolidação do processo de redução das taxas de juros".

Para obter o cálculo do preço relativo dos investimentos, Holland estimou a razão entre o deflator implícito da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que contabiliza os investimentos em máquinas e equipamentos e em construção civil, e o deflator do Produto Interno Bruto (PIB). O deflator é um cálculo de inflação específico para cada indicador, por isso ele é diferente para o investimento e para o conjunto do PIB.

Do pico, em 2004, até hoje, o preço relativo dos investimentos no Brasil ficou quase 12% menor como proporção do PIB. Foi essa redução do custo do dinheiro para se investir que permitiu que, nos últimos seis anos, a proporção do investimento em relação ao PIB tenha aumentado, mesmo com o forte avanço do PIB no período. Em 2005, a Formação Bruta de Capital Fixo representou 15,9% do PIB, patamar 3,4 pontos percentuais abaixo do registrado em 2011 - o Ministério da Fazenda estima que os investimentos devem representar 20,4% do PIB em 2012.

Parte considerável deste salto nos investimentos na economia deve-se, estima Holland, às desonerações tributárias promovidas pelo governo. O secretário calcula que o governo desonerou os investimentos das empresas brasileiras em R$ 31 bilhões entre 2007 e 2011, sendo R$ 11,4 bilhões apenas no ano passado. Holland utilizou dados dos demonstrativos dos gastos tributários (as desonerações) na Receita Federal.

Além disso, a valorização cambial entre o início da recuperação da crise, no fim de 2009, e o início de 2012, provocou o barateamento de máquinas e equipamentos importados. A sofisticação do parque industrial nacional decorrente dessa incorporação de tecnologia mais barata vai impulsionar a produção interna, agora estimulada também pelo câmbio mais desvalorizado, avalia Holland.

"Esta última redução na taxa básica de juros [anunciada pelo Banco Central na semana passada, que levou a Selic a 8% ao ano] mostrou aos empresários que os juros no Brasil estão realmente caindo de forma consistente. Quando o juro começa a cair desta forma, os empresários esperam o máximo, de forma a fazer seu investimento quando o custo do capital for o mais baixo possível", avalia o secretário de Política Econômica.

O secretário aponta que a taxa de juros futura (swap 360) descontada das expectativas para a inflação nos próximos 12 meses está em 2,47% - o menor patamar da série histórica, iniciada em março de 2002. Isso vai se refletir na taxa de investimentos a partir de agora, aposta o Ministério da Fazenda. Essa retomada dos investimentos ocorrerá ao mesmo tempo em que entra em vigor, em agosto, a desoneração da folha de pagamentos de 15 setores da economia (que foi ampliada para mais setores na Câmara dos Deputados).

Os investimentos estão relacionados à queda da taxa de juros real, ao patamar da taxa de câmbio, à demanda e ao cenário externo, afirma Holland. "Em 2011, houve o recrudescimento da crise externa, o câmbio ainda estava se valorizando, os juros estavam começando a cair, e ainda havia incerteza quanto à demanda interna, por conta da crise mundial", afirma o secretário, para quem todos esses fatores, hoje, "estão precificados". A recuperação dos investimentos, para ele, "é apenas uma questão de tempo".

O biênio 2011-2012, segundo Holland, será lembrado como o de "parada técnica" dos investimentos. Para ele, a resiliência do mercado de trabalho formal, com a criação de mais de 800 mil empregos com carteira assinada no primeiro semestre, e a taxa de desemprego em patamares próximos a 5%, mantém aceso o mercado interno. "Não há como não ter demanda interna forte no futuro. O empresário que não se atentar para isso e investir para fazer frente à demanda vai perder market share", diz.

Doutor em economia pela Universidade de Campinas (Unicamp), com pós-doutorado pela Universidade de Berkeley (EUA), Holland minimiza a acumulação de estoques por parte da indústria de transformação. Para ele, o problema de estoque não é generalizado, mas sim algo "muito pontual". Desta forma, a atuação do Ministério da Fazenda "tem sido e continuará sendo" pontual, isto é, o governo vai continuar "corrigindo estoques com políticas pontuais e emergenciais, como a redução do IPI para os setores com problemas", disse o secretário.