Título: Lula culpa oposição por ausência em debate
Autor: Costa, Raymundo e Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 29/09/2006, Política, p. A8

Depois de alimentar suspense por uma semana, o candidato Luiz Inácio Lula da Silva esperou a última hora do último dia de sua sétima campanha presidencial para informar que não compareceria ao debate realizado na noite de ontem pela TV Globo. Culpou a oposição. "Sou um dos políticos que mais participou de debates eleitorais neste país", justificou Lula em correspondência à emissora. "No entanto, é fato público e notório o grau de virulência e desespero de alguns adversários, que estão deixando em segundo plano o debate de propostas e idéias, para se dedicar, quase exclusivamente, aos ataques gratuitos e agressões pessoais".

Lula passou a considerar seriamente a idéia de comparecer ao debate no fim de semana passado, quando pesquisas indicaram a redução na margem entre seus votos e os dos demais adversários somados, o que sugeria uma tendência de segundo turno. Seu comando de campanha se dividiu. A maioria dos ministros achava que ele deveria ir, ao contrário de boa parte do PT e de outros políticos do conselho. O presidente resolveu esperar pelas pesquisas da quarta-feira, que efetivamente demonstraram uma redução na margem da vitória no primeiro turno, mas não tão expressiva quanto aquela detectada pelo Ibope sábado passado.

Ainda assim, até o fim da tarde seus principais assessores registravam que o presidente compareceria ao debate. O clima era o mesmo na produtora encarregada dos programas de televisão do presidente, que chegou a ensaiar para o debate. Mas só no início da noite assessores próximos confirmaram que ele decidira não ir. Por dois motivos.

O primeiro: pesquisas qualitativas apontavam que a eleição em primeiro turno estaria assegurada. Era menos prejudicial, para o candidato a ausência que a presença. O outro argumento comprova a dúvida do presidente: a visita ao Banco Central (BC) do presidente do PSDB, Tasso Jereissati, e do senador Heráclito Fortes (PFL-PI), integrantes do conselho político da campanha de Geraldo Alckmin, para cobrar pressa na investigação da origem do dinheiro para a compra do suposto dossiê contra tucanos. A visita deu-se no fim da manhã.

A manobra da oposição teria deixado Lula irritadiço, pois, segundo argumentou com auxiliares, mandara investigar a compra do suposto dossiê. Os adversários estariam fazendo um jogo político - no qual não pretendia entrar - para deixá-lo exposto no debate. Na correspondência à Globo, Lula confirma o relato dos auxiliares: "Não posso render-me à ação premeditada e articulada de alguns adversários que pretendiam transformar o debate desta noite em uma arena de grosserias e agressões, em um jogo de cartas marcadas", disse, depois de lembrar que sempre participou de debates, além de entrevistas na atual safra eleitoral.

Na realidade, a campanha de Lula pesou cuidadosamente os prós e os contra. No fim, sem consenso, prevaleceu a proposta de que era melhor o presidente não se expor, com as pesquisas indicando a vitória em primeiro turno. Uma das principais preocupações era que Lula pudesse ficar nervoso com alguma pergunta ou comentário sobre sua família. Os negócios de um de seus filhos com a Telemar, por exemplo. Lula preferiu correr o risco do desgaste.

Enquanto alimentava o suspense, Lula manteve a agenda. Pela manhã, reuniu-se com o presidente da Fifa, Joseph Blatter. Reiterou a candidatura do Brasil a sediar a Copa do Mundo de 2014. Blatter, que a exemplo de Lula concorre à reeleição. "É uma personalidade atraente, interessante e apaixonada por futebol. Sabe que um jogador da seleção brasileira não jogou bem no confronto entre Barcelona e Werder Bremen (Ronaldinho Gaúcho). E outro entrou nos minutos finais do jogo entre Real Madri e Dínamo de Kiev (Ronaldo)", declarou Blatter, numa referência a dois jogos da Liga dos Campeões, realizados na terça e na quarta, às 15h30.

No início da tarde, Lula foi à produtora de TV responsável por sua campanha de marketing, agradeceu o trabalho de todos, posou para as fotos e assistiu o programa exibido à tarde. Tudo num clima muito emocional: Lula chegou a derramar algumas lágrimas entre os abraços e as fotos com os funcionários. Quando retornou ao Alvorada, o presidente aproveitou uma pequena concentração de populares para pedir votos. Desceu do carro e pediu às pessoas que não esqueçam dele nem do 13 no dia da votação. Também pediu aos cinegrafistas que baixassem as câmeras e votassem nele no domingo.

Refletindo a indecisão de Lula, as equipes de segurança da Presidência foram para os três prováveis locais em que o presidente poderia estar ontem. Na quarta-feira, um grupo foi deslocado para o Rio de Janeiro. Na manhã de ontem, seguranças foram deslocados para São Paulo e São Bernardo do Campo.