Título: PMDB será o aliado chave para qualquer presidente
Autor: Izaguirre, Mônica
Fonte: Valor Econômico, 29/09/2006, Política, p. A10

Qualquer que seja o próximo presidente da República, o futuro governo federal deverá eleger com facilidade os próximos presidentes da Câmara e do Senado, segundo a avaliação de analistas políticos que traçaram prognósticos sobre os tamanhos das futuras bancadas. A chave para a provável vitória governista é o resultado de dupla face que o PMDB deverá ter.

Segundo levantamento feito pelo Diap, o partido, que fez 79 deputados em 2002 e hoje está com 78, deverá eleger a maior bancada da Câmara, oscilando entre 91 e 114 deputados. No Senado, contudo, onde terá que renovar nove das suas 21 cadeiras, deve cair para dezesseis cadeiras e perder a condição de maior bancada para o PFL, que elegeria hoje dezessete senadores.

A garantia de poder no Legislativo será um argumento a mais para o PMDB deverá selar seu apoio ao futuro presidente, seja o atual, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ou ao seu maior adversário, Geraldo Alckmin (PSDB). "Com Lula reeleito, provavelmente o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), irá querer permanecer no cargo. Neste caso, o PMDB terá que ceder a presidência da Câmara para um partido aliado de Lula ou ao PT, recebendo em troca o apoio da base governista entre os senadores", disse o cientista político Antonio Queiroz, do Diap, que fez um levantamento da composição do futuro Congresso.

"Já em caso de vitória de Alckmin, provavelmente deve ocorrer o inverso. O bloco PFL/PSDB, majoritário no Senado, ficaria com a presidência da Casa e apoiaria o PMDB para o comando da Câmara", aposta Queiroz. Desde 1994, o PMDB apresenta um comportamento pendular entre tucanos e petistas. A chance do partido ter um projeto próprio de poder, a princípio, ainda não existe.

"O PMDB vai seguir com suas 25 tendências. É um partido carente de quadros para concorrer com chapa própria em 2010, assim como o PT também não terá nomes fortes. Como no PSDB há um excesso de quadros, talvez tenhamos uma migração partidária de impacto", disse o professor aposentado da UnB, David Fleischer, referindo-se ao governador mineiro, Aécio Neves.

O elemento decisivo para o PMDB ser o partido mais cotado para eleger a maior bancada na Câmara foi a aposta na regionalização da disputa. O partido não lançou candidato a presidente, mas deve eleger dez governadores, entre os dezesseis candidatos que lançou. A verticalização das coligações praticamente eliminou as alianças para a eleição presidencial e fez com que os arranjos partidários gravitassem em torno da disputa local.

Centrado na disputa nacional, o PT deve consolidar-se como a segunda maior bancada. De acordo com o levantamento do Diap, o PT, que elegeu 91 deputados em 2002 e hoje conta com 81, está oscilando de um mínimo de 66 deputados a um máximo de 94. "O PT foi beneficiado por uma onda vermelha de uma campanha dominada pela sucessão presidencial há quatro anos. Agora, acontece o caso oposto", disse Queiroz. No Senado, o PT deve cair de doze para onze postos.

O Diap prevê que o bloco formado pelo PSDB e PFL elegerá, na melhor das hipóteses para a oposição, 144 deputados, número abaixo do pior resultado avaliado para o eixo PT/PMDB, de 157 deputados. As legendas ameaçadas pela cláusula de barreira no campo da esquerda (PSB, PDT, PCdoB e P-SOL) somarão, no pior cenário 52 cadeiras, e no melhor, 83. PP, PTB e PL, somados, oscilarão entre 68 e 105.

Na avaliação de Fleischer e Queiroz, o índice de renovação das bancadas parlamentares na Câmara dos Deputados será pequeno, ao contrário do que inicialmente se previu, logo depois do início da crise do mensalão. A razão está nas novas regras eleitorais, que entraram em vigor este ano e diminuíram a visibilidade de novos candidatos, ao proibir outdoors, showmícios e brindes. "Será uma renovação semelhante a de 1998, que foi a menor nos últimos anos, em torno de 40% das cadeiras", arrisca Antonio Queiroz.