Título: Empresas e bancos recorrem a doações diretas a partidos
Autor: Balarin, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 29/09/2006, Política, p. A11

As eleições deste ano serão marcadas pelo uso maciço de um novo mecanismo de financiamento de campanhas políticas. É cada vez maior o número de empresas e bancos que optam por fazer doações aos partidos políticos e não diretamente aos candidatos, segundo levantamento feito pelo Valor com empresários e instituições financeiras.

Em geral, essas doações são feitas com a orientação de que o partido repasse os recursos para esse ou aquele candidato. "Essa é uma maneira de o nome da empresa não ser associada ao político e evita constrangimentos futuros. Os últimos escândalos têm colocado os financiadores muito em evidência e, dessa vez, há um medo generalizado de fazer doações via caixa dois", afirma o alto executivo de uma instituição financeira.

A legislação eleitoral prevê que apenas as doações feitas pelo comitê eleitoral ao candidato tenham de identificar a origem dos recursos. No caso do dinheiro doado pelos partidos, não é preciso dizer quem doou quanto.

De acordo com Claudio Weber Abramo, diretor-executivo da ONG Transparência Brasil, o mecanismo da doação ao partido, que já foi muito utilizado nas eleições de 2004, deve ter se expandido este ano. "No caso dos bancos, mesmo as doações diretas são difíceis de serem identificadas porque muitos deles nos últimos anos adquiriram instituições menores e fazem as doações utilizando esses CNPJs", explica Abramo.

Empresários e executivos de bancos afirmam que os candidatos, especialmente a cargos do Legislativo, estavam neste ano muito mais afoitos por doações. Uma das explicações é a de que a proibição de distribuição de brindes, como camisetas e bonés, fechou uma das brechas para doações irregulares. Um executivo disse que, no passado, os arrecadadores sempre sugeriam que a empresa pagasse um gasto da campanha - como um lote de camisetas - caso os acionistas não quisessem fazer doações em dinheiro. "Agora, eles se apressam em dizer que a doação é oficial, com recibo e tudo", explica o presidente de uma empresa de bens de consumo.

Outra explicação para o "desespero" de candidatos, diz um executivo financeiro, é o fato de que as campanhas ficaram mais caras. Os candidatos a uma vaga na Assembléia Legislativa ou no Congresso precisam pagar cabos eleitorais, que ficam segurando cartazes ou bandeiras, e colocar anúncios pagos nos jornais. "Ficou mais difícil ser conhecido do grande público."

Esse mesmo executivo explica que, em eleições anteriores, o banco procurava os candidatos que tinham propostas que mais se alinhavam à linha ideológica da instituição. Delfim Netto (PMDB-SP), por exemplo, sempre teve apoio, independentemente do partido, por ser um político com conceitos econômicos de abertura de mercados e que defende interesses da iniciativa privada, diz o executivo.

"Mas, neste ano, candidatos que não têm nada a ver com a instituição ou com associações da classe nos procuraram. Apareceu gente de lugares distantes, que nos abordaram até por e-mail." O controlador de uma grande empresa brasileira também ficou surpreso com o assédio. "Alguns candidatos eram de Estados em que nem temos atividades empresariais." Há um mês, uma empreiteira vinha recebendo dez pedidos diários de doações.

Para os cargos do Executivo, os pedidos de doação chegaram mais tarde nesta campanha. Até junho, eram poucos. O movimento se intensificou de fato em julho, quando alguns bancos, como o Bradesco, começaram a doar recursos. As concessionárias de serviços públicos, que por lei são proibidas de fazer doações, foram bastante pressionadas por prefeitos e governadores candidatos à reeleição para rescalonar dívidas, segundo apurou o Valor.