Título: Ética e tom agressivo vão guiar estratégia do 2º turno
Autor: Costa, Raymundo e Lucchesi, Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 02/10/2006, Política, p. A4

Nem bem as urnas foram fechadas e os tucanos já armavam a estratégia para a disputa do segundo turno com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O próprio candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, anunciou que irá pedir o apoio dos outros candidatos - Heloísa Helena (P-SOL) e Cristovam Buarque (PDT). E mesmo não sendo do seu estilo, deve manter o tom agressivo da última semana e fazer da questão ética o mote principal da campanha. "É matar ou morrer", resumiu um integrante da cúpula do PSDB, que agora passa a ver chance concreta de desalojar Lula do Palácio do Planalto.

Além de Cristovam e de Heloísa Helena os tucanos vão tentar atrair para a campanha o deputado Fernando Gabeira (PV), que se transformou numa espécie de ícone do combate à corrupção. Desde que tomou a linha de frente da CPI das Sanguessugas, Gabeira passou a ser visto como uma exceção num Congresso minado por sucessivas denúncias de corrupção. Foi o candidato a deputado federal mais votado do Rio de Janeiro.

"Queremos o apoio de todo mundo", disse Geraldo Alckmin. Na avaliação do comando da campanha tucana, no entanto, a avaliação é que é possível o apoio formal de Cristovam, mas é bastante improvável que Heloísa Helena se alie a um dos dois candidatos. Seus eleitores, no entanto, se dividiriam numa proporção de dois terços para Alckmin e o outro terço para Lula.

Os governadores eleitos ontem são considerados peças-chaves para a eleição de Alckmin, especialmente os tucanos José Serra e Aécio Neves, que venceram no primeiro turno em São Paulo e Minas Gerais, respectivamente. Serra e Aécio, potenciais candidatos em 2010, não teriam como escapar do apoio incisivo a Alckmin, sob pena de comprometerem seus projetos futuros no partido. Mas a estratégia tucano-pefelista sofreu um duro revés na Bahia, onde a coligação esperava uma vitória fácil do governador Paulo Souto (PFL), o que não aconteceu.

PSDB e PFL contavam com Souto para reverter ou pelo menos diminuir significativamente a vantagem de Lula na Bahia, o quarto maior colégio eleitoral do país. Ocorreu o contrário: Lula saiu fortalecido com a surpreendente vitória do ex-ministro Jaques Wagner na disputa pelo governo estadual.

Em compensação, o comando da campanha de Alckmin acredita que terá palanques fortes no Rio de Janeiro, com a deputada Denise Frossard (PPS), no Paraná, com Osmar Dias (PDT) e no Rio Grande do Sul, onde a deputada Yeda Crusius atropelou na reta final e vai disputar o segundo turno - ao qual chegou em primeiro lugar.

A campanha de Alckmin conta também com a divisão do PMDB, muito embora ontem o presidente do Senado, Renan Calheiros, dissesse que o partido pode surpreender e se unir no apoio a Lula. O presidente fechou bons acordos com as seções de São Paulo e da Bahia, as principais forças na oposição ao governo, ao lado do Rio Grande do Sul. No primeiro turno, o presidente da sigla, Michel Temer, declarou apoio a Geraldo Alckmin, mas Orestes Quércia atuou em "dobradinha" com Aloizio Mercadante (PT) contra José Serra.

O PSDB prepara-se para um confronto acirrado com o governo. Com a decisão da disputa presidencial adiada para o dia 29, o comando da campanha deverá se reunir até a próxima terça-feira, para traçar a estratégia dessa fase eleitoral. Integrantes do núcleo político da campanha têm uma certeza: Alckmin terá de subir ainda mais o tom dos ataques ao governo.

O presidente nacional do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), confirma que o segundo turno turno deverá ser acirrado, com a discussão profunda da "crise moral" do país. Pela manhã, ao votar, Tasso disse estar otimista com o segundo turno, apostando numa "virada" de Alckmin, inclusive na preferência do eleitorado do Nordeste. Em toda a campanha, Lula esteve à frente de Alckmin nas pesquisas realizadas naquela região. No Ceará, Estado de Tasso, Lula fez pouco mais de 71% dos votos válidos e Alckmin, 22,8%

Animado com a passagem de Alckmin para o segundo turno, Tasso afirmou que o episódio da tentativa de comercialização de um dossiê contra o candidato do PSDB ao governo de São Paulo, José Serra, por pessoas do PT, "fez o Brasil despertar para a onda de corrupção". Esse caso, na opinião do senador, foi decisivo para o eleitor repensar sua opção para a Presidência. "Esse último escândalo trouxe uma espécie de alerta para o país. A gente sente o país ficando revoltado com essas malas de dinheiro, com dinheiro ilegal rodando por aí", afirmou.