Título: PSDB precisa se aproximar do povo, defende Fernando Henrique
Autor: Costa, Raymundo e Lucchesi, Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 02/10/2006, Política, p. A4

O presidente de honra do PSDB, Fernando Henrique Cardoso, exortou o partido a voltar-se para o povo e capturar para si uma imagem hoje associada ao PT. "O PSDB é um partido popular, tem que ter ligação mais forte com movimentos sociais", disse ontem o ex-presidente, que acompanhava o voto do candidato tucano ao governo do Estado de São Paulo, José Serra. Defensor da tese de refundação do partido, FHC afirmou que o "verdadeiro programa que interessa ao povo é o do PSDB".

As declarações seguem a mesma linha que foi defendida na carta aberta escrita pelo ex-presidente aos militantes do partido, no começo de setembro. Na ocasião, a carta provocou polêmica dentro do PSDB e foi interpretada como uma crítica.

Ontem, FHC reforçou o tom. "Escrevi a carta para chamar o PSDB a uma posição mais enérgica. Em certos momentos, a gente não pode ficar fazendo um jogo esquisito. Tem que ser claro", respondeu, ao chegar pela manhã para votar no Colégio Sion, em Higienópolis, bairro de classe alta de São Paulo. "Não dá para governar com um partido só. Tem que governar com a sociedade. O que está faltando hoje é conversa dos líderes com o país e não só com os partidos. Isso, o PSDB terá de fazer".

Ao ser questionado sobre como seria um eventual segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, FHC previu "muitas dificuldades", mas descartou a possibilidade de impeachment. O ex-presidente considera que, neste momento, o PSDB tem mais condições de governabilidade por ter apoio de candidatos do PMDB que devem ser eleitos nos Estados. "O PMDB que sai vitorioso não é o PMDB do Lula, é outro. Os governadores que estão saindo vitoriosos do PMDB são mais ligados a nós do que ao Lula."

O ex-presidente manteve a troca de farpas com Lula, buscando provocá-lo em vários momentos, como, por exemplo, ao dizer que são de sua autoria os programas sociais do governo petista. "Fui eu quem criou os programas sociais. O presidente Lula apenas mudou os nomes e, como tinha uma situação mais favorável, aumentou as verbas. Mas os programas são os mesmos", disse FHC.

O ex-presidente também ironizou as declarações de Lula, que acredita ser vítima do preconceito da elite. "O presidente Lula pode ter certeza de que nenhum banqueiro se queixa dele", respondeu. Na avaliação do tucano, Lula erra ao insistir em dividir "o país em dois", ou em ricos e pobres. "Isso é prejudicial para o futuro do país."

FHC afirmou estar "muito decepcionado". "Sempre achei (o Lula) um líder autêntico. Mas agora, na Presidência, eu não sei o que ele pensa, o que ele é", disse FHC. O tucano cobrou uma reação mais enérgica do presidente Lula às denúncias de corrupção e a demissão de auxiliares envolvidos nos escândalos. "Parece que ele está no mundo da lua."