Título: Alckmin cola em Aécio e Serra para derrotar Lula
Autor: Costa, Raymundo e Lucchesi, Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 02/10/2006, Política, p. A4

Antes de chegar às eleições em condições de disputar o segundo turno Geraldo Alckmin teve de superar o ceticismo dos próprios companheiros, o corpo mole de candidatos a governador do PSDB e do PFL, e o mito da invencibilidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Foi persistente. E nem com as pesquisas indicando para um empate técnico entre Lula e a soma dos demais adversários, mudou o tom monocórdico que predominou durante quase toda a campanha: "Vamos com as sandálias da humildade até o fim", disse ontem, antes da apuração dos votos. Mas, numa espécie de prévia do que deve ser o tom dos tucanos a partir desta semana, acrescentou: "A esperança vai vencer o descrédito. A ética vai vencer a corrupção".

É um contraponto ao mote que Lula adotou em 2002 para derrotar os tucanos: "A esperança vai vencer o medo". Alckmin diz que quer ser "um instrumento do povo brasileiro, um instrumento de esperança. Esperança de que podemos ter um governo honesto, bom, que melhore a saúde, a segurança pública, a educação e que o país cresça".

Para o presidente do PSDB, Tasso Jereissati, "há um clima diferente de indignação. Esse último escândalo serviu de choque para uma população que estava anestesiada diante de um Brasil apodrecido, uma Brasília apodrecida", disse.

Para ameaçar a reeleição de Lula, o ex-governador de São Paulo também contou com os erros do adversário. A prisão de petistas, pilhados quando tentavam comprar um suposto dossiê contra os tucanos, pesou, na avaliação do comando de campanha tucana, assim como a ausência de Lula no debate da TV Globo, semana passada. Mas também houve erros políticos. O maior deles, reconhecido por integrantes da própria campanha petista, ocorreu em Minas Gerais, quando o PT apresentou a candidatura inviável de Nilmário Miranda e apoiou o ex-governador mineiro Newton Cardoso.

Com isso, a campanha de Lula deixou o governador Aécio Neves sem outra saída a não ser se engajar definitivamente na campanha de Alckmin no Estado. Em um mês, a diferença de Lula para os demais concorrentes, que era de 36 pontos, passou para 18 pontos. Não por acaso, depois de votar e acompanhar José Serra, quando o candidato ao governo de São Paulo foi votar, Alckmin viajou para Belo Horizonte para um esforço final de boca de urna.

O tucano disse que foi a Minas acompanhar Aécio Neves num gesto de agradecimento pela "enorme acolhida" que teve no Estado durante a campanha. "Quero agradecer a Aécio, grande irmão, companheiro de jornada desde o início. Fizemos aqui uma grande convenção."

Fotógrafos e câmaras de TV, na busca pela melhor imagem, se acotovelaram e chegaram a iniciar um pequeno tumulto na entrada de Alckmin no colégio Santo Américo, no Morumbi, onde foi votar. O tucano chegou por volta das 10h da manhã, acompanhado da mulher, Maria Lúcia Alckmin, conhecida como dona Lu que também votou no mesmo local, da filha Sophia e da neta, Isabella.

Nenhuma grande liderança do PSDB estava presente. Esperavam por ele o governador Claudio Lembo (PFL), o candidato a deputado federal André Montoro (PSDB), o candidato a deputado estadual Ricardo Montoro (PSDB), o vereador Gilberto Natalini (PSDB), o candidato a senador Afif Domingos (PFL), o deputado federal Walter Feldman (PSDB), o candidato à deputado federal José Aníbal (PSDB), entre outros.

Depois de votar, Alckmin afirmou que "vamos com absoluta confiança para o segundo turno". Segundo Alckmin, "Lula já teve sua chance e o povo tem pressa... a ética vai vencer a corrupção". Ele não quis antecipar sua estratégia para o segundo turno. "Há um provérbio que diz: ? Só tire as sandálias da humildade quando estiver à beira do rio", afirmou. É uma alusão ao Evangelho segundo João Batista, que, como exemplo de humildade, disse que não era digno nem para desatar as sandálias de Jesus Cristo.

Alckmin afirmou estar em "curva ascendente" nas pesquisas de intenção de voto nas últimas semanas, enquanto Lula "está parado ou caindo". Isso mostra, no seu entender, um esgotamento da população com Lula, que "não foi bem do ponto de vista ético". "Houve uma mistura de PT e de governo. A gestão foi pior, seja na saúde, na segurança ou na educação", afirmou. Ele classificou como "ridícula" qualquer tentativa de impugnar sua candidatura pelo PT e por seus aliados. "O Lula estava em primeiro lugar, já tinha ganho em primeiro turno. Agora, querem impugnar", afirmou.

Depois de votar, Alckmin se dirigiu à casa do candidato a governador de SP, José Serra, na Vila Madalena, onde teve uma reunião com o ex-presidente FHC e outros colegas de partido. Por volta das 11h30, chegou com Serra e FHC ao colégio Santa Cruz, no Alto de Pinheiro, local da votação do ex-prefeito. Antes das 12h deixou o colégio em direção ao aeroporto. Alckmin embarcou para Belo Horizonte, onde acompanhou o voto de Aécio Neves.