Título: Heloísa Helena faz mistério sobre 2º turno
Autor: Santos, Chico
Fonte: Valor Econômico, 02/10/2006, Política, p. A5

A senadora Heloísa Helena (P-SOL-AL), terceira colocada na eleição presidencial, abandonou, ontem, a sua habitual contundência e fez mistério sobre a posição que ela e o partido tomarão em um eventual segundo turno das eleições. "Nós, (do P-SOL), vamos ter posição definida, mas nossos eleitores são homens e mulheres livres e têm todo o direito de escolher", disse a candidata logo depois de votar na manhã de ontem em uma escola do bairro de Riacho Doce, região norte da capital alagoana.

Mais tarde, a candidata do P-SOL disse que teria quatro posições possíveis, se houver mais um turno: votar em Lula, votar em Alckmin, se abster de votar ou anular. Dos quatro, ela descartou a abstenção. Outros dirigentes do P-SOL em Alagoas disseram ao Valor que a idéia era liberar o voto sem indicar ninguém. "Vamos pedir coerência aos eleitores", disse o candidato do P-SOL ao governo de Alagoas, Ricardo Barbosa.

Ela se disse "triste" porque vai ser substituída no Senado pelo ex-presidente Fernando Collor de Mello, que deixou a Presidência sob acusações de ter cometido irregularidades, mas aproveitou a vitória de Collor para bater no Presidente Luiz Inácio Lula da Silva: "Pode ser um protesto. Ouvi muita gente dizer: O Lula roubou mais do que ele e está lá (no governo)".

A senadora disse também que sua candidatura foi uma forma de não deixar sem representação no pleito "todas as concepções acumuladas pela esquerda ao longo do tempo" depois da "traição do PT" e depois que o governo Lula "transformou-se em uma verdadeira organização criminosa".

"Combati o bom combate e estou com a consciência tranqüila e com a cabeça erguida. É possível não se vender", disse ainda de manhã, embora ressalvando que não se considerava ainda derrotada. Heloísa Helena chegou cedo, 7h30, à pequena povoação praiana de Riacho Doce, onde morou.

Longas filas já se formavam nos acessos às seções eleitorais instaladas no Grupo Escolar Antônio Vasco, onde ela sempre votou em Maceió. Embora tenha como prática não usar do direito de prioridade e entrar normalmente na fila, desta vez ela pediu a uma prima que guardasse seu lugar enquanto permanecia na casa de um parente.

Saiu às 8h15 para ocupar seu lugar na fila, levando no colo Clara Ramos, 6, afilhada e prima em segundo grau. "Loló!", gritou uma amiga, chamando a senadora pelo apelido familiar. Heloísa Helena entrou na fila quando havia apenas dez pessoas à sua frente e disse que este ano quebrou a tradição de entrar no final da fila porque estava falando com um amigo que perdeu a mulher no acidente aéreo da última sexta-feira. Votou às 8h45, na 185ª seção eleitoral.

Ao avaliar o fato de os usineiros estarem retomando o controle do governo alagoano - João Lyra ou Teotônio Vilela Filho, ambos usineiros, será o futuro governador de Alagoas -, Heloísa Helena atribuiu grande parte das responsabilidade ao presidente Lula e ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. "Por que as oligarquias daqui nunca afundaram? Porque sempre foram privilegiadas nos governos de Lula e de Fernando Henrique. Um absurdo! Fazem tudo, conseguem tudo. Assim é fácil sobreviver", disparou.

Lula e o PT foram os alvos favoritos da língua afiada da senadora. Ela chamou o PT de "gang partidária" e disse que o presidente Lula "é o grande comandante de uma verdadeira organização criminosa capaz de roubar, matar, caluniar e liquidar quem atrapalhar seu projeto de poder". Ela disse que amanhã voltará a Brasília para concluir seu mandato e acrescentou que continuará trabalhando na organização do P-SOL mesmo que o partido não consiga a votação necessária para atingir a cláusula de barreira.

Segundo ela, o maior prejuízo se o partido não atingir o limite mínimo será a perda do tempo de TV, uma vez que a quantia que ele recebe do fundo partidário é muito pequena (cerca de R$ 25 mil por ano). Depois de votar, Heloísa Helena foi para Palmeira dos Índios, no agreste alagoano, a 130 km de Maceió, onde passou parte da sua infância e adolescência e onde um dos seus filhos, Ian, vota. Viajou acompanhada apenas de Ian e do outro filho, Sacha, e passou a tarde na cidade, na casa de um irmão.