Título: Cristovam descarta candidatura ao governo do Distrito Federal em 2010
Autor: Galvão, Arnaldo
Fonte: Valor Econômico, 02/10/2006, Política, p. A5

O candidato do PDT à Presidência, senador Cristovam Buarque, em nenhum momento desta campanha ultrapassou o quarto lugar na preferência do eleitorado, mas sai fortalecido da disputa de 2006. Levantou a votação para o seu partido e conseguiu multiplicar a boa imagem, de intelectual respeitado e político preocupado com a área social, sobretudo a educação, que já tinha em Brasília.

Diante da perspectiva de segundo turno, apontada pelas pesquisas, ele estava disposto a se manifestar contra a neutralidade e não esperava ter grandes dificuldades para convencer seus companheiros de partido a optar por uma das duas propostas. Vencendo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no primeiro turno, o senador pretendia reassumir seu mandato de senador hoje mesmo, prometendo já fazer, no Senado, mais um discurso em favor da educação, tema principal da sua candidatura.

Cristovam está afastando especulações de que, pela forma como conduziu sua campanha, é candidato ao Palácio do Buriti, sede do governo do Distrito Federal, cargo que já ocupou entre 1994 e 1998. "Prefiro ficar no Senado. Não volto ao GDF porque é sempre ruim essa segunda vez", explica.

A campanha de Cristovam consolidou seu principal ativo político: a educação como principal agente de transformação do Brasil. Mas seus próximos quatro anos no Senado, além da educação, serão marcados pela defesa de uma reforma política profunda. "Não escaparemos de uma assembléia constituinte pura, que não se confunda com o Congresso, mas que seja convocada por ele", acredita.

Suas propostas para um ambiente político mais estável e legítimo vão do fim do marketing eleitoral, passam pelo financiamento público de campanha, pela adoção de votos distritais, estaduais e nacionais na distribuição das vagas na Câmara e chegam ao fim da reeleição para cargos executivos.

Numa campanha eleitoral que teve sua reta final tumultuada pelo escândalo da compra de dossiê pelo PT contra adversários, Cristovam prefere não falar sobre as especulações de esses fatos da reta final terem desdobramentos após os resultados das urnas, como impugnação de candidaturas ou até mesmo de impeachment. "É como falar de um câncer em um amigo ou pessoa da família. É ruim para a democracia. É algo como uma cirurgia arriscada. Por isso é que o segundo turno é tão necessário para esclarecer tudo", pondera.

Sua experiência como ministro da Educação no governo Lula - janeiro de 2003 a janeiro de 2004 -, do qual foi demitido por telefone, foi marcante. Nesse cargo, segundo suas próprias palavras, o senador pôde conviver com um presidente distante e com um estilo de governar com grupos organizados da sociedade que não o agradou. "Esquece-se o longo prazo. Lula trabalha com datas-base, não com os calendários da história. O que vai ocorrer com o país em 30 anos? Para um sindicato não há país, há a categoria. Um sindicato pode ter essa missão, o Estado, nunca".

Cristovam aposta no PDT para ter na educação e nos movimentos sociais o fortalecimento de uma sigla moderna e de esquerda, que tenha projeto de transformar com responsabilidade e não apenas administrar o Brasil. "Essa campanha para a presidência foi uma vitória para mim e para a educação no meu discurso de uma nota só. E os outros candidatos? Têm nota?", questiona.

Cristovam sai desta campanha com idéias para mudar as regras eleitorais. Pretende fazer propostas para acabar com a pesada influência do marketing nas campanhas eleitorais. Nessa ambiente, ele espera que o enfadonho horário gratuito possa dar lugar a um efetivo debate entre os candidatos. Uma campanha mais barata pode ser bancada pelo financiamento público.

Para aperfeiçoar o sistema eleitoral, o senador também quer que as vagas na Câmara sejam preenchidas por voto distrital misto. Os deputados federais passariam a ser chamados "representantes do povo" e seriam escolhidos com base nos votos em distritos, no Estado onde têm domicílio e também nacionalmente. Outro ponto defendido pelo senador é o fim do voto secreto no Parlamento, com exceção das eleições das Mesas e da derrubada de vetos, para evitar pressões do Executivo. O fim dos sigilos fiscal, bancário e telefônico é outra idéia a ser defendida por Cristovam para os cargos de confiança e os eletivos, o que também inclui altos cargos no Judiciário.