Título: Urnas surpreendem e levam disputas dos Estados ao 2º turno
Autor: Felício, César
Fonte: Valor Econômico, 02/10/2006, Política, p. A11
A reta final do processo eleitoral foi amarga para os atuais governantes. Nove dos 20 governadores que concorrem a um novo mandato conseguiram a reeleição no primeiro turno. Quatro dias antes das eleições, as pesquisas indicavam a reeleição de 17 governadores, sendo 14 na primeira rodada. Já estão derrotados no primeiro turno cinco governadores: são os do Distrito Federal, Ceará, Rio Grande do Sul, Bahia e Sergipe. O segundo turno era previsto para cinco Estados, pelos institutos de pesquisas. Ocorrerá em dez. Ainda assim, um resultado inferior aos observados em 2002 (15 Estados com segundo turno) e 1998 (11 Estados).
Em uma eleição onde os institutos de pesquisa erraram em seus prognósticos em vários Estados, o PMDB e o PSDB continuarão mantendo a maior fatia do comando político regional. Hoje com dez governadores, o PMDB garantiu a vitória no primeiro turno em quatro Estados: para os atuais governadores de Tocantins (Marcelo Miranda), Amazonas (Eduardo Braga), Espírito Santo (Paulo Hartung) e para o ex-prefeito de Campo Grande, André Puccinelli, no Mato Grosso do Sul. Os três governadores reeleitos entraram no partido em 2005, pelas mãos do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que ganha poder dentro da sigla.
O partido irá para o segundo turno em outros seis Estados: Goiás, Santa Catarina, Paraná, Rio de Janeiro, Paraíba e Rio Grande do Norte. Caso vença no próximo dia 29 no Rio, Paraná e em Santa Catarina, três Estados onde ficou em primeiro lugar na rodada de ontem, o PMDB saltaria da fatia de 5,2% do PIB nacional que conquistou no primeiro turno para 28,1%.
O PSDB garantiu o governo da maior fatia do PIB: venceu em quatro Estados no primeiro turno, sendo que com a reeleição de Aécio Neves em Minas Gerais e a eleição de José Serra em São Paulo já governará 41,7% da economia nacional. O partido também ganhou em Alagoas (0,7% do PIB), com Teotônio Vilella Filho e Roraima (0,1%) com Ottomar Pinto. Os tucanos perderam, contudo, no Ceará, onde Cid Gomes (PSB) bateu o governador tucano Lúcio Alcântara no primeiro turno. O PSDB disputará segundo turno no Pará, Rio Grande do Sul e Paraíba, em todos na condição de primeiro colocado no primeiro turno. Na hipótese de vencer nos três Estados, agregará uma fatia de 11% do PIB brasileiro em seu mando regional.
O resultado eleitoral trouxe para o PT a maior surpresa da eleição, com a vitória de Jaques Wagner, ex-coordenador político do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no primeiro turno, derrotando o governador pefelista Paulo Souto. O PT bateu ainda outro governador pefelista em Sergipe, onde Marcelo Déda derrotou João Alves, além de reeleger Wellington Dias no Piauí.
A tríplice vitória no Nordeste pode mudar o eixo de poder dentro do partido, controlado pela seção paulista desde a sua fundação. O partido ainda manteve o Acre, onde elegeu no primeiro turno o vice-governador Binho Marques, configurando o melhor resultado em eleições estaduais em toda sua história, com quatro governadores eleitos no primeiro turno. Somados, estes Estados representam 6,2% do PIB, índice três vezes superior ao que o partido obteve em 2002.
O PT disputará ainda segundo turno no Pará, com a senadora Ana Júlia Carepa e no Rio Grande do Sul, onde o ex-ministro e ex-governador Olívio Dutra disputou voto a voto a segunda vaga para o segundo turno contra o governador Germano Rigotto (PMDB). Em primeiro lugar no Estado, desmentindo os prognósticos dos institutos de pesquisa, ficou a deputada Yeda Crusius (PSDB).
O resultado final foi particularmente decepcionante para o PFL. O partido ganhou em 2002 no Maranhão, Bahia e Sergipe. Perdeu a eleição agora nos dois últimos Estados e está ameaçado no primeiro, onde Roseana Sarney (PFL) terá que enfrentar um imprevisto segundo turno contra Jackson Lago (PDT). Herdeiro do PMDB em Pernambuco, o governador Mendonça Filho (PFL) disputará um difícil segundo turno contra Eduardo Campos (PSB), ex-ministro da Ciência e Tecnologia.
Fora do Nordeste, o partido fincou uma base apenas no Distrito Federal, com a eleição do deputado federal José Roberto Arruda no primeiro turno. Dependendo da combinação de resultados, o parlamentar poderá ser o único governador pefelista no país, o que seria o pior resultado da sigla em 20 anos.
Reelegeram-se ontem, além dos já citados, Ivo Cassol (PPS) em Rondônia, Blairo Maggi (PPS) no Mato Grosso, Waldez Góes (PDT) no Amapá e José Roberto Arruda (PFL) no Distrito Federal. O segundo turno apanhou de surpresa o governador de Santa Catarina, Luiz Henrique (PMDB), que terá que enfrentar o ex-governador Esperidião Amin (PP). Também enfrentarão uma segunda rodada os governadores do Paraná, Roberto Requião (PMDB), que disputará com Osmar Dias (PDT), Rio Grande do Norte, Wilma de Faria (PSB), contra o senador pemedebista Garibaldi Alves; Paraíba, Cássio Cunha Lima (PSDB), contra o senador José Maranhão (PMDB) e Goiás, Alcides Rodrigues (PP), contra o senador Maguito Vilella (PMDB).
O segundo turno ainda coloca em risco o grupo político aliado do ex-governador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho (PMDB), com o segundo turno que o senador Sérgio Cabral Filho (PMDB) terá que enfrentar contra a deputada Denise Frossard (PPS).
A eleição de ontem marcou também o ocaso de diversas oligarquias regionais. O caso mais emblemático é o da Bahia, onde o líder local, senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), já havia perdido para seu grupo a eleição em Salvador em 2004 e perdeu também a vaga em disputa no Senado. Com a primeira derrota que seu grupo sofre em uma disputa estadual desde 1986, resta-lhe a força parlamentar dentro do partido.
Fundador do Estado do Tocantins, Siqueira Campos (PSDB) perdeu a eleição para governador para seu ex-pupilo, Marcelo Miranda, enquanto seu filho, Eduardo Siqueira Campos, não conseguiu se reeleger para o Senado. No Amazonas, as derrotas dos ex-governadores Amazonino Mendes (PFL) e Gilberto Mestrinho (PMDB) para governo estadual e Senado pode significar a aposentadoria política de ambos. No Mato Grosso do Sul, o governador José Orcírio Miranda dos Santos (PT) viu os candidatos do seu partido perderem as eleições para o governo estadual e para o Senado, respectivamente, para o PMDB e o PSDB.