Título: Vitória consolida liderança de Serra na oposição
Autor: Agostine, Cristiane e Scaramuzzo, Mônica
Fonte: Valor Econômico, 02/10/2006, Política, p. A12

A vitória de José Serra (PSDB) no primeiro turno em São Paulo é fundamental para ajudar o também tucano Geraldo Alckmin na disputa pela Presidência. Com 78,20% dos votos apurados no Estado até às 22h23 de ontem, Serra aparecia com 58,52% dos votos apurados, e seu principal opositor, senador Aloizio Mercadante, com 31,30%. O ex-prefeito de São Paulo terá que deixar de lado rixas partidárias com seu correligionário e terá como missão para os próximos 28 dias conquistar eleitores para o PSDB no maior colégio eleitoral do país.

Já com a vitória tida como certa, Serra fez um rápido discurso depois de votar pela manhã perto de sua casa, em um bairro classe alta de São Paulo. "Com primeiro ou segundo turno, vamos batalhar até o fim do segundo turno presidencial", disse. Serra terá de deixar de lado atritos com o ex-governador de São Paulo, com quem protagonizou uma disputa dramática dentro do partido, na definição do candidato à Presidência. Alckmin demonstrou sua intenção de disputar o cargo em agosto de 2005 e desde o pronunciamento feito em um almoço para empresários franceses, não recuou um milímetro. Sem as fortes resistências sofridas por Alckmin, Serra costurou discretamente sua candidatura com os caciques do PSDB. Às vésperas do prazo final de desincompatibilização, em 30 de março, ainda era incerto quem seria o candidato.

A candidatura de Serra ao governo de São Paulo foi lançada há pouco mais de de três meses, em 26 de junho. O tucano beneficiou-se da boa avaliação das três gestões do PSDB no Estado, com Mário Covas e Geraldo Alckmin, e de sua popularidade conquistada no ministério da Saúde e na disputa pela Presidência em 2002.

Polêmicas e denúncias não colaram na campanha de Serra. A oposição resgatou a promessa de cumprir o mandato como prefeito de São Paulo até o fim, quando disputou o cargo em 2004. Um ano e três meses depois de assumir, desistiu para concorrer ao Estado, mas pouco influenciou o eleitor. Nem o colapso na política de segurança, com as três ondas de ataques do crime organizado, nem as críticas do governador Cláudio Lembo (PFL) ao PSDB e muito menos o dossiê comprado por petistas o associando à Máfia das Sanguessugas desgastaram sua imagem.

Já a derrota do senador Aloizio Mercadante atrapalha a consolidação do PT em São Paulo. No Estado, o partido foi apenas uma vez ao segundo turno, em 2002, quando José Genoino disputou com Alckmin. O resultado ofusca também a possibilidade de Mercadante disputar a próxima eleição presidencial pelo partido.

Ontem, Mercadante procurou mostrar-se otimismo até o meio da tarde. No começo da manhã, tomou café-da-manhã com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o acompanhou durante a votação, em São Bernardo. Por volta das 13h, votou junto com seus filhos, esposa e com o candidato do PT ao Senado, Eduardo Suplicy, e afirmou: "Após 12 anos nas mãos do PSDB, São Paulo precisa mudar". No colégio onde votou, foi aplaudido por militantes do PT, mas vaiado por tucanos. Mercadante ainda visitou a favela de Heliópolis, "para agradecer pessoalmente o apoio da comunidade".

Entretanto, pouco depois de encerrada a votação ele já reconhecia sua derrota e mostrou-se empenhado na reeleição do presidente Lula. Eleito em 2002 para o Senado, Mercadante tem mais quatro anos de mandato e vislumbra com a possibilidade de ocupar um ministério em um eventual segundo mandato de Lula. "Queria cumprimentar o novo governador José Serra, que foi eleito democraticamente pelo povo. Mesmo antes do fim da apuração, sabemos que não há elementos que possam reverter o resultado", disse Mercadante, em seu comitê de campanha, por volta das 21h40, quando mais de 70% dos votos de São Paulo já tinham sido apurados e o candidato do PT tinha cerca de 30% do total de votos frente a 58% de Serra. Mercadante atribuiu a sua derrota já no primeiro turno ao escândalo do dossiê. "A minha campanha não evoluiu como eu tinha planejado. O envolvimento de alguns petistas nesse lamentável episódio do dossiê prejudicou de forma decisiva a campanha e, seguramente, se não tivesse ocorrido, eu estaria me preparando para o segundo turno".

Independente do presidente eleito, Serra planeja fazer um mandato diferente dos outros três do PSDB em São Paulo. De olho na disputa presidencial de 2010, o tucano pretende projetar o Estado no plano nacional e investir maciçamente em obras de infra-estrutura. No começo do governo, o tucano deve encaminhar um projeto para estabelecer um salário mínimo para o Estado, com cinco faixas para os funcionários da iniciativa privada. Serra terá de enfrentar também a diminuição da receita paulista e aumentar os investimentos, congelados parcialmente neste ano (apenas 25,75% foram realizados).

Se o escolhido for Alckmin, Serra tentará aumentar o repasse de recursos para o Estado. Caso o presidente Lula seja reeleito, o tucano promete liderar a oposição, ao lado do governador mineiro Aécio Neves, reeleito ontem. Serra terá de negociar a liberação dos recursos federais, em especial para os fundos de segurança.