Título: Confronto de números do transporte favorece o PT
Autor: Vaz, Lúcio
Fonte: Correio Braziliense, 20/10/2010, Política, p. 6

ELEIÇÕES 2010 Dilma e Serra discutem investimentos em infraestrutura nas gestões de Lula e de FHC e dados mostram que petista leva vantagem

O tema infraestrutura de transportes foi abordado no último debate entre os candidatos a presidente da República, Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB), na Rede TV!, na noite de domingo. Enquanto o tucano disse que o atual governo investiu menos em estradas do que a gestão antecessora, a petista deu respostas genéricas. Afirmou que o governo Luiz Inácio Lula da Silva teve que recuperar estradas sucateadas e defendeu o escoamento da produção de soja por ferrovias e hidrovias. Os presidenciáveis falaram superficialmente sobre o tema, mas os dados apontam que, na comparação entre a era Lula e a Fernando Henrique Cardoso, o petista leva a melhor. Os números registrados pelo governo federal mostram que houve mais investimentos na gestão do PT. Foram R$ 50,8 bilhões, contra R$ 38,6 bilhões do governo FHC, em valores atualizados (veja quadro).

Os dados da gestão tucana são relativos aos investimentos do Ministério dos Transportes. Na era Lula, as obras para transporte urbano foram transferidas para o Ministério das Cidades. Nesse setor, foram aplicados cerca de R$ 4 bilhões, sendo as principais obras os metrôs de Belo Horizonte, do Recife e de Salvador. Os investimentos em portos foram repassados para a Secretaria de Portos, vinculada à Presidência da República. Desde a sua criação, em maio de 2007, foram aplicados R$ 2,3 bilhões.

Os valores atualizados pelo índice IGP-DI (utilizado pela Secretaria do Tesouro Nacional) mostram uma evolução constante no governo Lula. Após um início em ritmo lento, com investimento de apenas R$ 1,3 bilhão em 2003, a administração petista chegou a gastar R$ 11 bilhões apenas no ano passado. As obras realizadas no primeiro mandato de Lula somaram R$ 14,8 bilhões. No segundo, já alcançaram R$ 36 bilhões. O governo FHC atingiu o seu apogeu de investimentos no fim do primeiro mandato, com a injeção de R$ 13,7 bilhões entre 2006 e 2007. Mas a média do segundo mandato, encerrado em 2002, ficou em R$ 4,3 bilhões.

Obras Uma das principais obras rodoviárias do governo tucano foi a duplicação da BR-101, no trecho entre Florianópolis e a divisa com o Paraná. Numa extensão de 216km, a iniciativa custou R$ 1,8 bilhão, em valores atualizados. Outro projeto importante foi a duplicação da BR-381, a Fernão Dias, no trecho entre Belo Horizonte e São Paulo.

De 2007 a 2008, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) concluiu 853km de duplicações e adequações de rodovias. A ligação entre João Pessoa e Campina Grande (PB), com 112km, foi o maior trecho. Já a obra de mais destaque prevista em rodovias é a duplicação da BR-101, numa extensão de 720km. O orçamento total chega a R$ 2,8 bilhões. Previstas para serem entregues até o fim deste ano, as duplicações têm apenas 75% realizados, em média.

AQUÉM DO ANUNCIADO

As obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) avançaram bastante no setor de transporte rodoviário. Na área de ferrovias, foram retomados projetos importantes, mas, ainda assim, o resultado ficou muito aquém do anunciado. A Ferrovia Transnordestina, por exemplo, com 1,7 mil quilômetros de extensão, atravessando três estados, receberia R$ 4,4 bilhões até o fim deste ano. A obra foi iniciada em maio de 2006, mas tem apenas 10% concluídos, restando pouco mais de dois meses para encerrar o atual governo.

A Ferrovia Norte-Sul, projetada para ter 2,2 mil quilômetros, tem investimentos previstos de R$ 4,7 bilhões até o fim do governo Lula, mais R$ 1,7 bilhão até 2012. Iniciada em 1988, a obra só tinha 215km concluídos, entre Açailândia (MA) e Aguiarnópolis (TO), quando Lula assumiu o Executivo pela primeira vez. Até agora, o governo Lula conseguiu concluir 356km. Mais mil quilômetros estão em obras e outros 680km, em fase de licitação. Os trechos em andamento estão, em média, com apenas um terço concluído.

Situação mais dramática é a do trem-bala Rio-São Paulo. A obra chegou a ser anunciada em 2006, no período pré-eleitoral. Mas o projeto foi refeito e anunciado novamente neste ano, no período pré-eleitoral. O investimento previsto é de R$ 34,6 bilhões, por conta da iniciativa privada, mas com financiamento de R$ 20 bilhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A conclusão está prevista para 2015, a tempo de pegar as Olimpíadas do Rio de Janeiro, mas, até agora, foi apenas lançado o edital de licitação.

A maior obra rodoviária inscrita no PAC é o Trecho Sul do Rodoanel de São Paulo, com 61,5km e custo de R$ 3,6 bilhões. A construção já foi entregue, mas a maior parte dos recursos foi injetada pelo governo de São Paulo. A União entrou com R$ 1,2 bilhão. A cartilha do PAC não informa quem colocou os R$ 2,4 bilhões restantes. (LV)