Título: Aécio pavimenta estrada para Presidência
Autor: Moreira, Ivana
Fonte: Valor Econômico, 02/10/2006, Política, p. A13

O governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), foi reeleito ontem com uma consagradora votação que o credencia como forte candidato à Presidência em 2010. Com 61,25% das urnas apuradas, o tucano tinha 77,12% dos votos válidos. Seu principal adversário, Nilmário Miranda (PT), aparecia com 21,99%.

"Quem tem o privilégio de sentar-se na cadeira de governador do Estado de Minas Gerais não tem sequer o direito de pensar pequeno", comemorou o governador, de 46 anos de idade. "Quero fazer um governo que marque definitivamente a história do nosso Estado, colocando Minas Gerais na vanguarda do crescimento econômico", disse.

No início da tarde, quando votou na escola Estadual Central, Aécio foi aclamado em sua zona eleitoral, em bairro nobre da capital. Ele chegou acompanhado do candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, que, de olho no segundo turno, fez questão de viajar até a capital mineira para posar ao lado do governador na hora do voto. Mas Alckmin fez papel de coadjuvante. Os aplausos e gritos na escola foram quase todos para Aécio. Houve até quem já o chamasse de "presidente", numa alusão à 2010.

Com sua aprovação em Minas confirmada pelos números da reeleição, o neto de Tancredo Neves saiu das eleições com os planos para o futuro fortalecidos. "Vivi algo nessa campanha eleitoral que não sei se, em qualquer outro tempo, outro mineiro teve o privilégio de viver", afirmou o governador, que não assume publicamente suas pretensões mas trabalha por elas nos bastidores.

Os resultados de ontem mostraram a força do tucano não apenas em sua reeleição. Aécio conseguiu eleger seu candidato ao Senado, o ex-ministro Eliseu Rezende (PFL), que começou mal nas pesquisas. E os tucanos atribuíram a ele grande parte do avanço de Alckmin em Minas, segundo maior colégio eleitoral do país e onde o presidente Lula chegou a ter 80% das intenções de voto.

Ontem à tarde, o ex-governador de São Paulo o chamou de "grande irmão" e disse que sua ida a Belo Horizonte havia sido um gesto de agradecimento ao empenho de Aécio em sua campanha. A aproximação do mineiro com Alckmin é vista por muitos como estratégica para 2010, quando Aécio deverá disputar a candidatura presidencial em seu partido com o governador eleito de São Paulo, José Serra. Alckmin passa a ser um aliado de Aécio dentro do PSDB paulista.

Reeleito com mais de 70% dos votos válidos, Aécio é uma força política disputada também por lideranças do PT. O presidente Lula já disse que conta com ele - a quem não poupa elogios - para construir "pontes" com a oposição num segundo mandato.

"Nós temos um país a construir, um país que precisa viver reformas, um país que precisa de planejamento, de eficiência, de resultados. Não vamos viver permanentemente no clima pré-eleitoral", já dizia ontem, conciliador, o governador de Minas.

Antes mesmo do fim da votação, o adversário Nilmário Miranda admitia a vitória de Aécio Neves no primeiro turno. Segundo o ex-ministro petista, sua campanha teve o mérito de fomentar a discussão sobre a falta de investimentos sociais em Minas. "Eu resisti, trabalhei, apresentei propostas e levantei discussões que não estavam sendo feitas em Minas e são fundamentais, como políticas sociais, sobre o lugar dos pobres no governo de Minas".

A maior crítica enfrentada por Aécio Neves durante a campanha foi o privilégio dado ao saneamento financeiro do Estado durante a primeira gestão, com sacrifício de gastos em áreas como Saúde. O governador prometeu, para o segundo mandato, uma nova geração do seu famoso "choque de gestão", com foco na qualidade dos gastos públicos e prioridade para políticas sociais.

O principal mentor do choque, o advogado Antônio Augusto Anastasia, é o vice-governador eleito em Minas. É nas mãos do técnico - que Aécio impôs aos partidos aliados - que está a coordenação dos novos projetos para Minas. Caso não emplaque sua candidatura à Presidência, Aécio deverá deixar o governo de Minas em 2010 para disputar o Senado.