Título: Denise Frossard vai disputar segundo turno com Cabral no Rio de Janeiro
Autor: Vilella, Janaina e Góes, Francisco
Fonte: Valor Econômico, 02/10/2006, Política, p. A13

A juíza Denise Frossard (PPS), que ontem surpreendeu e conquistou 23,78% dos votos válidos e vai disputar o segundo turno com o Sérgio Cabral Filho (PMDB) que obteve 41,42% dos votos, disse que espera ser apoiada por todos os partidos que desejem uma ruptura com o atual modelo de governo. Cabral é aliado da governadora, Rosinha Matheus, e seu marido, o ex-governador do Rio Anthony Garotinho. "Só temos um opositor, que é o modelo que está aí, e que tem que ser descontinuado", disse Denise, referindo-se à Cabral.

O pefelista Rodrigo Maia, deputado federal reeleito (o terceiro mais votado) disse ontem que vai buscar o apoio de todos os partidos, citando nominalmente PSDB, PRB e PT. "Todos (partidos) que no Rio entendem que o modelo do casal Garotinho vem destruindo nosso Estado".

Mas o apoio do terceiro colocado na disputa, Marcelo Crivella (PRB), com 18,54% dos votos válidos, não veio ontem como era esperado. Ele mesmo já tinha afirmado que estaria ao lado de Denise, num segundo turno, mas na noite de ontem declarou que vai refletir e conversar com o partido antes de anunciar uma decisão.

Quem pode vir à adotar uma posição de neutralidade é o tucano Eduardo Paes (PSDB), que fez críticas duras a Frossard durante a campanha. Vladimir Palmeira, do PT, por sua vez, informou que caberá ao partido decidir qual candidato apoiar. "Como a eleição presidencial também vai para o segundo turno, quem vai decidir o apoio no Estado do Rio será o partido", disse Palmeira.

Outra surpreendente virada, indo contra as pesquisas de intenção de votos, foi a do ex-ministro Francisco Dornelles. Ele venceu a disputa pelo Senado, com 45,86% dos votos, desbancando Jandira Feghali (do PCdoB) apontada como favorita, mas que obteve 37,54% do votos válidos.

Cabral disse que vai começar hoje a procurar apoio dos nove candidatos que não foram para o segundo turno. "Vou conversar com todos os candidatos, respeitando a decisão de cada um", afirmou Cabral, acrescentando que só vai se posicionar sobre apoio à Geraldo Alckmin (PSDB) ou a Luiz Inácio Lula da Silva (PT), durante a semana.

Denise também se reúne hoje com os outros dois partidos que integram a sua chapa, PV e PFL, para traçar as estratégias do segundo turno. A juíza lembrou que no início da aliança entre PPS, PV e PFL, os partidos chegaram a conversar com o PDT sobre possíveis alianças, inclusive adotando o programa de educação do PPS.

Em relação ao confronto com Cabral, Denise afirmou que os dois candidatos terão que apresentar para a sociedade clara e profundamente as idéias de governo. "Os partidos têm que estar conscientes que temos um modelo de ruptura com o modelo que aí está", disse referindo-se a Cabral, apoiado pelo casal Garotinho.

Nas eleições de 2002, não houve segundo turno no Rio. Rosinha Matheus foi eleita com cerca de quatro milhões de votos. No pleito anterior, Garotinho foi para o segundo turno com o prefeito Cesar Maia, saindo vitorioso com 4,2 milhões de votos. Com esse resultado, Garotinho recuperou-se da derrota sofrida, quatro anos antes para Marcello Alencar na disputa pelo governo do Estado.

No pleito deste ano, após não ter conseguido ser indicado pelo PMDB para concorrer à Presidência da República, Garotinho ficou sem cargo eletivo. Sua mulher encerra o governo em 31 de dezembro e o casal deve concentrar esforços nos bastidores da política fluminense, inclusive no seu reduto eleitoral, Campos dos Goytacazes. Uma prova disso é que o candidato a deputado federal, apoiado pelo casal em Campos, Geraldo Pudim (PMDB), foi o segundo mais votados, com 272 mil votos, só perdendo para Fernando Gabeira (PV), que conquistou 293 mil .

O ex-governador do Rio disse ontem, logo depois de votar, em Campos, que se estivesse na disputa presidencial, iria para o segundo turno contra Lula e venceria a eleição. "O PMDB deve estar arrependido de ter impedido minha candidatura". Garotinho afirmou que recebeu convites para trabalhar em jornal, TV e rádios, e, a princípio, voltará para Campos, mas vai aguardar o término do processo eleitoral para tomar uma decisão final.

Leonel Brizola foi o primeiro governador eleito pelo voto direto, no Rio de Janeiro, em 1982. A herança política de Brizola que marcou as últimas eleições no Estado, com candidatos ligados direta ou indiretamente a ele, não se verifica no pleito de 2006. Cabral teve sua origem política na militância do PMDB, nos anos 80; Denise candidatou-se ao Senado, em 1998, e perdeu. Voltaria a disputar um cargo majoritário, em 2002, elegendo-se deputada federal pelo PPS. Crivella, por sua vez, é bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus, e elegeu-se pela primeira vez ao Senado, em 2002, pelo PL. (Colaborou Cláudia Schüffner)