Título: Rigotto fica fora do 2º turno no RS
Autor: Bueno, Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 02/10/2006, Política, p. A14

O resultado da eleição para o governo do Rio Grande do Sul contrariou as pesquisas de intenção de voto divulgadas durante toda a campanha. Com a totalidade das seções eleitorais apuradas às 22h50, o governador Germano Rigotto (PMDB), que buscava a reeleição e liderou todos os levantamentos do Ibope e do jornal gaúcho "Correio do Povo", ficou fora do segundo turno, que será disputado entre a candidata do PSDB, a deputada federal Yeda Crusius, e o ex-governador Olívio Dutra (PT).

Apesar da trajetória ascendente registrada nas últimas pesquisas, Yeda surpreendeu e venceu o primeiro turno com 32,98% dos 5,940 milhões de votos válidos. Embora com um percentual menor, a deputada tucana seguiu o desempenho local do candidato do partido à Presidência, Geraldo Alckmin, que superou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Estado por 55,76% a 33,06% dos votos válidos no Estado. "As pesquisas são um retrato atrasado (da campanha)", disse a deputada depois de confirmado o primeiro lugar na votação de ontem.

Yeda atraiu os votos de boa parte do eleitorado gaúcho com um discurso em que apregoava a "competência" para enfrentar as dificuldades financeiras do Estado. Economista e ex-ministra do Planejamento durante quatro meses no governo Itamar Franco, a deputada teve também que enfrentar uma crise na própria campanha, quando o coordenador de marketing, Chico Santa Rita, se retirou por falta de pagamento.

Olívio, que governou o Rio Grande do Sul de 1999 a 2002, aparecia nas pesquisas como candidato a ficar de fora do segundo turno, mas com a apuração praticamente encerrada garantia o segundo lugar na votação de ontem com uma vantagem de 7,9 mil votos sobre Rigotto. Apesar do bombardeio sofrido pelo partido em função dos escândalos sobre corrupção envolvendo o governo Lula, o petista tinha 27,25% dos votos válidos. Rigotto obteve 27,12% dos votos válidos, seguido de Francisco Turra (PP), com 6,70%, e de Alceu Collares (PDT), com 3,72%.

Encerrado o primeiro turno, Yeda e Olívio deverão agora disputar o apoio do PMDB para o segundo turno. A tucana conta com o antagonismo histórico entre os pemedebistas e petistas gaúchos, apesar de o PMDB apoiar o governo Lula em âmbito nacional. O PSDB também concorreu coligado com Rigotto em 2002 e só deixou o governo para disputar a eleição com candidatura própria. "Vamos buscar os eleitores onde eles estiverem", comentou a tucana, comemorando os votos de "2 milhões de criaturas" obtidos no primeiro turno. Turra, do PP, já declarou que "pela lógica" o partido deverá apoiar Yeda.

O resultado também complica as aspirações nacionais do governador gaúcho que deixará o cargo no fim deste ano. Ontem à tarde, ainda durante o horário de votação, Rigotto admitiu que poderia tentar, mais uma vez, a disputa à Presidência da República pelo PMDB dependendo o desempenho em um eventual segundo mandato no Estado. Neste ano ele chegou a vencer as prévias contra o ex-governador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho, mas a cúpula nacional do partido, alinhada com o governo do presidente Lula, abortou a candidatura própria.

Para o Senado, os gaúchos escolheram Pedro Simon, do PMDB, que vai para o quarto mandato consecutivo. O peemedebista confirmou a vitória que lhe era atribuída pelos institutos de pesquisa, mas ficou com 33,93% dos votos válidos, com uma margem de apenas 5,72 pontos sobre Miguel Rossetto, do PT. No início da campanha, os levantamentos de intenção de voto indicavam uma vantagem de mais de 30 pontos para Simon.

Conforme o senador reeleito, ele só decidiu concorrer novamente porque o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) frustrou as expectativas dos eleitores. "Se o Lula tivesse feito 30% do que se sonhava não tinha porque eu me candidatar", afirmou. O senador disse que o Brasil vive o seu "pior momento" político e que fica "angustiado" com a provável eleição de nomes como Paulo Maluf e Fernando Collor de Mello. "Minha figura iria fazer falta no Congresso", disse.