Título: Jaques Wagner derrota PFL na Bahia
Autor: Mandl, Carolina
Fonte: Valor Econômico, 02/10/2006, Política, p. A15

O ex-ministro Jaques Wagner protagonizou uma das maiores surpresas das eleições deste ano. Às 23h, quando já haviam sido apurados 97,93% dos votos, o candidato do PT ao governo da Bahia liderava a apuração com 53,01% dos votos válidos, o que garantiu a ele a vitória no primeiro turno. O governador Paulo Souto (PFL), que tentava a reeleição, tinha 42,85% dos votos válidos.

Ao vencer a corrida na Bahia, o quinto maior colégio eleitoral do país, Wagner já desponta como um dos principais governadores do PT na próxima legislatura. Além de surpreender nas urnas, o ex-ministro pôs fim à série de 16 anos, ou quatro mandatos consecutivos, do grupo liderado pelo senador Antonio Carlos Magalhães à frente do governo baiano.

Em 1980, Wagner foi um dos fundadores do PT nacional e, depois, foi o primeiro presidente do partido na Bahia. Foi também fundador da CUT no Estado e, entre 1987 e 1989, diretor e presidente do Sindiquímica-BA. Em 1990, foi eleito deputado federal pela primeira vez, e reelegeu-se em 1994 e 1998. Em 1996, foi derrotado na disputa pela prefeitura de Camaçari.

Ao longo de toda a disputa, nenhum instituto de pesquisa apontou o pefelista em segundo lugar nas intenções de voto. A coordenação da campanha de Wagner, por sua vez, repetia o discurso de que, na reta final, o partido tinha fôlego para se aproximar do PFL, a exemplo do que ocorreu em 2002. Há quatro anos, o petista iniciou a campanha com fatias de um dígito nas pesquisas, mas a disputa ficou distante do segundo turno por apenas três pontos percentuais.

Na última pesquisa realizada pelo Ibope, Souto apareceu com 51% dos votos válidos e Wagner, com 41%. O levantamento, divulgado no sábado, contrastou com os números apresentados apenas cinco dias antes, que apontavam vantagem de 57% a 37% para o pefelista em votos válidos. As pesquisas foram encomendadas pela Rede Bahia, presidida por Antonio Carlos Magalhães Júnior, filho do senador ACM.

O petista sempre associou diretamente seu nome ao do presidente. Lula tem grande popularidade na Bahia. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), até as 22h38, com 95,83% dos votos apurados, a vantagem de Lula sobre o tucano Geraldo Alckmin no Estado era de 66,78% a 25,78% dos votos válidos.

O único sinal de virada de Wagner foi apontado apenas na pesquisa de boca-de-urna realizada ontem. No levantamento, o petista ficou com 49% dos votos válidos, em comparação com os 43% de Paulo Souto. Átila Brandão (PSC) apareceu com 4% dos votos válidos na rodada realizada pelo instituto.

Paulo Souto votou pouco depois da 8h em no Colégio Pedro Calmon, localizado no Jardim Armação, em Salvador. Acompanhado pelos senadores César Borges e Rodolpho Tourinho e por membros de seu secretariado, disse "acreditar firmemente" que sua vitória seria definida já no primeiro turno. Duas horas e meia depois, acompanhou Antonio Carlos Magalhães à Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia, onde o senador votou. Questionado sobre se sua chapa trabalhou com a possibilidade de enfrentar segundo turno - já que em quase nenhum momento essa alternativa foi evidenciada pelos institutos de pesquisa -, Souto, otimista, disse ao Valor que "a possibilidade sempre existe", mas que "nada apontava para essa inflexão".

Jaques Wagner votou às 10h em Camaçari, na região metropolitana de Salvador. Acompanhado pelo ministro da Defesa, Waldir Pires, e pelo presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, foi bastante aplaudido por eleitores e membros dos partidos aliados que compuseram sua chapa. Ao meio-dia, acompanharia sua esposa, Fátima Mendonça, a um colégio de Salvador, onde ela vota. Segundo sua assessoria, ele mudou de idéia na última hora hora porque "tem um perfil discreto" e não queria causar tumulto no local.

O revés inesperado do PFL nas urnas na Bahia foi precedido por um acidente que acabou sendo encarado como mau presságio. No sábado à tarde, o deputado federal Antonio Carlos Magalhães Neto, reeleito ontem, estava no automóvel Toyota Hillux que capotou no quilômetro 29 da Estrada do Coco, a caminho de Salvador. O deputado saiu ileso, mas Antonio Jorge Moura, editor de política do "Correio da Bahia" - jornal ligado à família Magalhães -, sofreu traumatismo craniano e foi internado na UTI do Hospital São Rafael. Pablo Barroso, assessor de ACM Neto que também estava no veículo, sofreu um corte superficial.

O ex-governador João Durval Carneiro, candidato ao Senado, completou o revés para PFL baiano na urnas. Segundo o TSE, às 23h, com 97,93% dos votos apurados, Durval, ex-aliado de ACM, mas que rompeu com o carlismo no fim dos anos 80, tinha 47,24% dos votos válidos. Hoje, o PFL ocupa as três cadeiras baianas no Senado Federal.

Rodolpho Tourinho, um dos três senadores pefelistas, surpreendeu ao chegar na frente de Antonio Imbassahy, ex-prefeito de Salvador, que iniciou a campanha disputando a liderança das pesquisas com João Durval. Tourinho estreou no Senado há quatro anos ao assumir a cadeira então ocupada por Paulo Souto, que se afastou para concorrer ao governo baiano.